Não postei cap mais cedo, porque sou que nem a Bárbara dessa fic. As vezes estou desperta as vezes não. Tem dias que, sou só eu e meus pensamentos e hoje era um desses.
Boa Leitura gays.
POV. BÁRBARA
DIA 71
Os encontros do Vida É Vida acontecem no arboreto de uma cidade próxima, em Ohio, da qual não citarei o nome. Não é uma aula sobre a natureza, mas um grupo de apoio a adolescentes que estão pensando ou tentaram ou sobreviveram ao suicídio. Achei na internet.Entro no Tranqueira e dirijo até Ohio. Estou cansada. Tento evitar Voltan. É muito difícil me controlar e ter tanto cuidado perto dela, tanto cuidado que parece que estou andando por um
campo minado, com soldados inimigos por todos os lados. Não quero que me veja assim.Disse que estou com algum tipo de virose e que não quero que ela pegue.
A reunião do Vida É Vida acontece em uma sala grande, com painéis de madeira nas paredes e aquecedores. Sentamos em volta de duas mesas grandes encostadas uma na outra,
como se estivéssemos fazendo lição de casa ou alguma prova. Duas jarras de água ficam em cada ponta, com copos descartáveis coloridos empilhados ao lado. Há quatro pratos de biscoitos.O conselheiro se chama Demetrius, um moreno de olhos verdes. Para os que estão aqui pela primeira vez, ele conta que faz doutorado na universidade local e que o Vida É Vida está em seu décimo primeiro ano, apesar de ele administrar o grupo há apenas onze meses. Quero perguntar o que aconteceu com o último conselheiro, mas não pergunto; vai que não é uma história bonita.
Os jovens entram em fila, e são exatamente como os da Loud. Não reconheço nenhum, e na verdade esse é o motivo de eu ter andado quarenta quilômetros pra chegar aqui. Antes que eu me sente, uma das meninas vem até mim, ela sorri de um jeito que provavelmente considera sedutor.
Quero que ela saia de perto porque não estou aqui pra fazer amigas, e ela sai. Sento, espero e desejo não ter vindo. Todos pegam biscoitos, nos quais nem encosto porque sei que
os produtos dessas marcas podem ou não conter uma coisa nojenta chamada carvão de osso, que é feito de ossos de animais, e não consigo nem olhar pros biscoitos ou pras pessoas comendo. Olho pela janela, mas as árvores estão finas, marrons e mortas, então mantenho os olhos em Demetrius, que senta no meio, onde todos conseguimos vê-lo.Ele cita fatos que já conheço sobre suicídio e adolescentes e então todos se apresentam dizendo nome e idade e diagnóstico e sua experiência com tentativas de suicídio. Então
dizemos a frase “______ é vida”, completando com o que achamos que seja digno de celebração no momento, como “Basquete é vida”, “Escola é vida”, “Amizade é vida”, “Beijar
minha namorada é vida”. Qualquer coisa que nos lembre como é bom estar viva. Alguns desses adolescentes têm o olhar levemente vago de quem usa drogas, e me pergunto o que tomam pra se manter aqui respirando. Uma garota diz:
— Diários do Vampiro é vida.
Outras garotas riem.
— Minha cachorra é vida, mesmo quando ela mastiga meus sapatos — diz outra.Quando chega minha vez, me apresento como , Fernanda, dezessete anos, nenhuma experiência anterior além do experimento recente com remédios pra dormir.
— O efeito gravitacional de Júpiter-Plutão é vida — completo, apesar de ninguém saber o que significa.
Então a porta se abre e alguém entra correndo, deixando o frio entrar também. Ela está de chapéu e lenço e luvas e se desembrulha como uma múmia. Todos nós viramos pra ela, e
Demetrius abre um sorriso reconfortante.
— Entre, não tem problema, estamos começando.
A múmia senta, ainda se desembrulhando. Ela vira de costas pra mim, o rabo de cavalo loiro balançando, enquanto prende a alça da bolsa na cadeira. Vira de novo, tirando as mechas de cabelo do rosto, que está rosado por causa do frio, e fica de casaco.
— Desculpa — Amanda sussurra pro Demetrius. Quando seus olhos se viram pra mim, ela fica branca.
Demetrius acena pra ela.
— Gabriele, por que não se apresenta?
Amanda, como Gabriele, evita olhar pra mim. Com a voz monótona, começa:
— Sou Gabriele, tenho dezessete anos, sou bulímica e tentei me matar duas vezes, ambas com remédios. Me escondo com sorrisos e fofocas. Não sou nem um pouco feliz. Minha mãe me obriga a vir aqui. Sigilo é vida. — Ela diz esta última frase pra mim e desvia o olhar.Os outros vão falando e, depois que todos se apresentam, fica claro que sou a única aqui que não tentou se matar pra valer. Isso faz com que me sinta superior, mesmo que não devesse.
Penso: Quando eu tentar pra valer, não vou falhar.
Até Demetrius tem uma história. Essas pessoas estão tentando conseguir ajuda e estão vivas, no fim das contas.Mas tudo é de partir o coração. Entre pensamentos sobre carvão de osso e histórias sobre pulsos cortados e enforcamentos, e a metida da Amanda com seu queixo pontudo agora tão vulnerável e assustada, quero deitar a cabeça na mesa e simplesmente deixar a queda longa chegar. Quero me afastar desses adolescentes que nunca fizeram nada de mal a ninguém, só nasceram com o cérebro diferente e conexões diferentes, e das pessoas que não estão aqui pra comer os biscoitos de carvão de osso e compartilhar histórias, e das que nunca tiveram uma chance.
Quero me afastar do estigma que todos eles sentem só porque têm uma doença no cérebro e não, digamos, no pulmão ou no sangue. Quero me afastar de todos os rótulos. “ Tenho TOC ”, “ Tenho depressão”, “Eu me corto”, eles dizem, como se essas coisas os definissem.
Tem um coitado que tem déficit de atenção, é obsessivo-compulsivo, tem transtorno de personalidade limítrofe, é bipolar e, ainda por cima, tem um tipo de transtorno de ansiedade.
Eu nem sei o que é transtorno de personalidade limítrofe. Sou a única que é só Bárbara Passos.Uma garota com uma trança preta grossa e óculos diz:
— Minha irmã morreu de leucemia e vocês tinham que ver as flores e a empatia. — Ela levanta as mãos e, mesmo do outro lado da mesa, consigo ver as cicatrizes.
— Mas quando eu quase morri, ninguém mandou flores. Fui considerada egoísta e louca por desperdiçar minha vida sendo que a da minha irmã tinha sido tirada.Isso me faz pensar em Gaby Marzin, e então Demetrius fala sobre remédios disponíveis e todos citam os medicamentos que estão ajudando na superação. Um menino na outra ponta da mesa diz que a única coisa que odeia é se sentir igual a todo mundo.
— Não me entendam mal, prefiro estar aqui a estar morto, mas às vezes sinto que tudo o que fazia de mim quem eu era foi embora.Paro de ouvir depois disso.
Quando acaba, Demetrius me pergunta o que achei, e digo que foi esclarecedor e coisas do tipo pra que ele se sinta bem quanto ao trabalho que está fazendo, e depois vou atrás de Amanda, ou Gabriele, no estacionamento antes que ela vá correndo pra casa.
— Não vou contar nada a ninguém.
— É melhor mesmo. Estou falando sério. — Seu olhar é feroz e seu rosto está vermelho.
— Se eu contar, você pode simplesmente dizer que sou uma Aberração. Eles vão acreditar.
Vão pensar que estou inventando. Além do mais, eu fui expulsa, lembra? — Ela desvia o olhar. — Então, você ainda pensa em fazer isso?
— Se não pensasse, não estaria aqui. — Ela olha pra cima. — E você? Você ia pular mesmo do Parapeiro da ponte do sino se Voltan não a convencesse a descer?
— Sim e não.
— Por que você faz essas coisas? Não está de saco cheio de ouvir as pessoas falando de você?
— As pessoas tipo você?
Ela fica quieta.
— Eu falo porque isso me lembra que ainda estou aqui e que minha opinião importa.
Ela põe uma perna dentro do carro e diz:
— Acho que agora você sabe que não é a única Aberração.
É a coisa mais gentil que ela já me disse.
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30 Dias 30 Motivos - Babitan G!P
Fanfic*CONCLUÍDA E EM REVISÃO* " Nunca imaginei que iria me apaixonar por uma garota." "Me dê 30 dias, e te darei 30 motivos para você ficar!" " Porque você se foi ? Porque fez isso? Eu poderia ter feito algo?" Depois da perda de sua irmã Carolina Volta...