Drive-in

1.8K 193 23
                                    

Pov. Bárbara
Dia 13
Jogo pedras na janela, mas ela não desce. Penso em tocar a campainha, mas isso só acordaria seus pais. Tento esperar, mas a cortina não se mexe e a porta não abre e está frio pra cacete,
então entro no Tranqueira e vou pra casa.

Fico acordada o resto da noite fazendo uma lista chamada "Como ficar acordada". Escrevo o óbvio
- Red Bull, cafeína e alguns remédios -, mas não se trata de evitar algumas horas de sono, e sim ficar acordada aqui a longo prazo.

1. Correr.

2. Escrever (inclui qualquer pensamento indesejável ---anotando rápido para que saiam de mim e passem pro papel).

3. Ao longo das linhas, aceitar todo e qualquer pensamento (não tenha medo deles, independente do que sejam).

4. Me cercar de água.

5. Planejar.

6. Dirigir pra todo e qualquer lugar, mesmo quando não tiver aonde ir. (Lembrete: Há sempre um lugar aonde ir.)

7. Tocar guitarra.

8. Organizar o quarto, as anotações, a cabeça. (Não é a mesma coisa que planejar.)

9. Fazer o que for preciso pra não esquecer que estou aqui e que minha opinião importa.

10. Voltan.

Pov. Voltan
147-146 Dias para a liberdade

Manhã seguinte. Minha casa. Saio pela porta e encontro Babi deitada no gramado, olhos fechados, botas pretas cruzadas na altura do tornozelo. A bicicleta está encostada ao seu lado,
metade na rua e metade fora.
Chuto a sola de uma bota.

---Você ficou aqui fora a noite toda?
Ela abre os olhos.
---Então você sabia que eu estava aqui. É difícil saber se estamos sendo ignoradas quando estamos, devo ressaltar, no frio congelante do ártico. - Ela levanta, coloca a mochila no ombro, pega a bicicleta.
- Mais algum pesadelo?
- Não.
Enquanto tiro a bicicleta da garagem, Babi pedala pela entrada.
- Então, pra onde vamos?
- Pra aula.
- Não... Amanhã, quando andarmos por Indiana. A não ser que você já tenha planos.

Ela diz isso como quem sabe que não tenho. Penso em Bak e no drive-in. Ainda não confirmei se vou.

- Não sei se estarei livre.
Vamos em direção à escola, com Bárbara saindo em disparada e voltando, saindo em disparada e voltando...

A pedalada é quase tranquila, até ela dizer:
- Eu estava pensando que, como sou sua dupla e a garota que salvou sua vida, deveria saber o que aconteceu na noite do acidente.

A bicicleta oscila e Babi estende o braço para me estabilizar nela. A corrente elétrica começa a correr pelo meu corpo, exatamente como antes, e lá se vai meu equilíbrio de novo.
Pedalamos por um minuto com a mão dela na parte de trás do banco.
Fico atenta pra ver se Amanda ou Marii surgem no caminho, porque sei exatamente o que vai parecer.

- Então, o que aconteceu? - Odeio o jeito como ela fala do acidente, tão direta, como se tocar no assunto não fosse um problema.
- Eu conto sobre minha cicatriz se você me contar sobre aquela noite.

- Por que você quer saber?

- Porque gosto de você. Não um gostar romântico, do tipo vamos dar uns amassos, mas como uma colega da sala de geografia. E porque falar sobre isso pode ajudar.

- Você primeiro.

- Eu estava fazendo um show em Chicago com umas pessoas que conheci num bar. Eles disseram algo tipo: "Ei, garota , nosso guitarrista acabou de sair, e parece que você sabe o que fazer no palco". Eu subi, sem ter ideia nenhuma do que estava fazendo, do que eles estavam fazendo, e nós destruímos. DES-TRU-Í-MOS. Mandei melhor que o Hendrix... Eles sabiam disso, e o guitarrista original sabia disso. Então o FDP subiu no palco atrás de mim e me cortou com a
palheta.

30 Dias  30 Motivos - Babitan G!POnde histórias criam vida. Descubra agora