Pesadelo

2K 193 44
                                    

POV. VOLTAN

Quinta-feira. Geografia.
A Boatos de Loud listou os dez alunos suicidas mais famosos do colégio, e meu celular não para de tocar porque Bárbara Passos é a primeira da lista.

Sr. Jesus cobriu a primeira página do jornal da escola com pesquisas e informações sobre suicídio, adolescente e o que fazer se você pensa em se matar, mas ninguém prestou atenção nisso.

Desligo o celular e deixo de lado. Pra me distrair, e distrair Bak também, pergunto a ele sobre o projeto “Andando em Indiana”. A dupla dele é o Brabox . Escolheram Futebol como
tema. Estão planejando visitar o museu do Futebol .
— Parece bem legal — digo. Ele mexe em meu cabelo e, pra fazê-lo parar, me abaixo e finjo procurar alguma coisa na mochila.

Amanda e Nobru estão planejando se concentrar no Museu histórico local da fazenda, que fica aqui em Loud e tem uma múmia de verdade. Não consigo pensar em nada mais deprimente que ser um sumo sacerdote egípcio e ficar exposto
perto de rodas antigas e de uma galinha de duas cabeças.

Thaiga examina a ponta do cabelo, preso num rabo. Ela é a única pessoa além de mim que ignora o celular.
— E aí, como é? Terrível? — Por um instante, ela para de examinar o cabelo e me encara.
— O quê?
— Bárbara?
— Está tudo bem.
— Ai, meu Deus. Você gosta dela!
— Não gosto, não. — Mas consigo sentir meu rosto corar, porque todos estão olhando pra mim. Thaiga é meio escandalosa.

Felizmente o sinal toca e o sr. Black pede a atenção da sala. No meio da aula, Bak me passa um bilhete, já que meu celular está desligado. Vejo o papel embaixo do braço dele, balançando pra mim, e pego :

Bak :Sessão dupla no drive-in sábado à noite? Só nós dois?
Escrevo : Posso responder depois?

Cutuco o braço dele e devolvo o bilhete. O sr. Black anda até a lousa e escreve TESTE SURPRESA e, em seguida, uma lista de questões. Pela sala, há resmungos e barulho de papel rasgando.

Cinco minutos depois, Babi entra como se nada tivesse acontecido, mesma camiseta preta, calça moletom preta, mochila pendurada no ombro, livros, cadernos e jaqueta de couro embaixo do braço.
As coisas caem pelo chão e ela recolhe chaves, canetas e cigarros antes de fazer uma pequena saudação ao Sr.Black.
Olho pra ela e penso comigo mesma:
Essa é a pessoa que sabe seu pior segredo.
Bárbara para pra ler a lousa
— Teste surpresa? Desculpe, senhor, só um momento — diz com sotaque de australiana. Antes de sentar, vem na minha direção. Apoia alguma coisa em cima do meu caderno.
Dá um tapinha nas costas de Bak, larga uma maçã na mesa do professor com mais um pedido de desculpas e se joga na cadeira do outro lado da sala. O que deixou pra mim foi uma pedra cinza feia.

Bak olha pra pedra e depois pra mim e depois pro Nobru, atrás de mim, que estreita os olhos para Babi.
— Aberração! — ele diz em voz alta. Faz um gesto de que está se enforcando.
Thaiga dá um soco um pouco forte demais no meu braço.
— Deixa eu ver.
O sr. Black bate na mesa.
— Mais cinco segundos disso… e vou dar nota F pra todos… nesse teste. — Pega a maçã e parece que vai jogá-la.
Todos ficamos quietos. Ele coloca a maçã sobre a mesa. Bak vira.

O teste tem cinco perguntas fáceis. Depois que o sr. Black recolhe os papéis e começa a aula, pego a pedra e viro pra ver a base.
Sua vez, diz.
Depois da aula, Bárbara sai antes que eu possa falar com ela. Deixo a pedra dentro da mochila. Bak me acompanha até a aula de espanhol mas não damos as mãos.
— Então, o que é isso aí? Por que ela tá dando coisas pra você? É tipo um agradecimento por salvar a vida dela?
— É uma pedra. Se fosse um agradecimento por ter salvado a vida dela, eu esperaria alguma coisa um pouco melhor.
— Não importa.
— Não seja esse tipo de cara, Bak.
— Que tipo de cara?
Enquanto andamos, ele cumprimenta as pessoas que passam, todas sorrindo e chamando:
— Oi, Bak.
— E aí, Bak?
Eles quase se curvam e jogam confete. Alguns são simpáticos e falam comigo também, agora que sou uma heroína.
— O cara que tem ciúmes de uma garota com quem a ex-namorada está fazendo um projeto da escola.
— Não estou com ciúmes. — Paramos na frente da sala.
— Só sou louco por você. E acho que a gente devia voltar.
— Não sei se estou pronta.
— Vou continuar insistindo.
— Acho que não posso impedir.
— Se passar do limite, me avise.
Um canto de sua boca se curva. Quando ele sorri assim, aparece uma covinha única. Foi o que me chamou atenção na primeira vez que o vi. Sem pensar, fico na ponta dos pés e beijo a covinha, quando o que pretendo é beijar a bochecha. Não sei dizer quem de nós ficou mais surpreso.
— Você não precisa se preocupar. É só um projeto da escola.

30 Dias  30 Motivos - Babitan G!POnde histórias criam vida. Descubra agora