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Um pouco de angústia, eu acho. Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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A pintura ficou pronta dentro de dez sessões, o que eu havia suposto ser pelo tamanho do quadro – um pouco maior que eu e quatro vezes minha largura – até ver o resultado final.

Era uma daquelas obras de arte hipnóticas que prendia sua atenção e quanto mais você olhava, mais detalhes apareciam. Tantos detalhes absolutamente conflituosos e perfeitos. Apenas uma pequena parte do meu cérebro estava ciente de Eva suja de tinta ao meu lado me olhando com expectativa borbulhante, esperando por uma reação. Mas eu estava estática, maravilhada.

Era noite, o oceano ondulando como uma criatura se levantando sob uma tempestade sinistra de nuvens densas, a promessa sussurrada de uma praia escondida nas sombras ao longe, um raio brilhante se espalhando no ar como raízes profundas e iluminando o rochedo onde eu estava, em meu tamanho real, apoiada na borda sobre os cotovelos e as pernas na água com a nudez sob o quadril coberta pela espuma das ondas que quebravam nas pontas afiadas das rochas. Meu rosto ali era uma versão mais fantástica do que o real, meus olhos espelhando o céu fechado, meus lábios curvados para baixo como que em desgosto, meus traços retesados do pescoço, minhas costelas proeminentes, meus cabelos voando com a ventania cortante que, de alguma forma, Eva projetara perfeitamente com suas pinceladas cuidadosas.

Depois de ter ficado sem roupas várias vezes em frente de várias pessoas, aquela era a primeira vez que eu me sentia realmente nua.

Se você não criar um plano para sair dessa ilha logo, vai morrer. As palavras do meu psicólogo voltaram à minha mente. E lá estava eu, parecendo à beira da morte fora da ilha e enfrentando-a com determinação feroz.

— Como você... — pigarrei. — Como?

Eva soltou uma risada nervosa. — O que?

— Como você faz isso? — Tracejei o espaço brilhante que era a lua escondida entre entre as nuvens se sobrepondo, as gaivotas pequeninas e obscuras ao longe, a umidade da pedra, as linhas pálidas de minhas estrias. 

Um dar de ombros sincero.

— Você viu como. Eu só... faço. O que você achou?

Me afastei alguns passos no pé-direito do estúdio, onde Eva guardava sua coleção, e observei a obra encostada na parede.

— Acho que você pode desistir do seu sonho de morar em uma casinha simples e fofa — sorri quando seu rosto beirou ao assustado e encaixei seus ombros finos debaixo do meu braço, bagunçando seus cachos curtos e macios. —, porque você vai ficar milionária. Sério, que porra é essa? Tá incrível, Eva. Impressionante. Eu não consigo parar de olhar.

— Você acha? — Ela miou, enlaçando minha cintura timidamente.

— Eu tenho certeza pra caralho. Qual nome você vai dar?

— Ainda não decidi, mas tenho tempo, então está tudo bem. Aceito sugestões.

— O que você escolher vai ser perfeito. Quanto vai custar um desses?

— Eu não faço ideia. Mas você não pode comprar, como iríamos dividir o lucro?

— Eu estava pensando em uma réplica, mas você mal finalizou o original e eu não sei se sou tão narcisista a ponto de ter um quadro meu de tamanho real em casa.

Eva gargalhou, se desvencilhando de mim para voltar a tirar a tinta que respingara em sua pele com um paninho úmido. Eu não sai do lugar, encantada.

— Na verdade eu estava planejando fazer duas cópias de cada obra depois de terminar toda a coleção. Uma delas vai para cada modelo.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora