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Avisos de gatilho e conteúdo: assédio sexual, uso não consensual de drogas e overdose. Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Eu quase não reconheci meu reflexo de conjunto azul hospitalar no espelho na segunda-feira de manhã. Encarar minha vida de estudante com tudo o que estava acontecendo podia ser um tanto frígido, mas não era como se a faculdade pudesse ser colocada de lado.

Enquanto organizava minha bolsa com mãos trêmulas de ansiedade depois de conseguir lidar com meu cabelo no banheiro, eu repassava mentalmente os conselhos de Sandro sobre o internato. Eu queria ligar para ele e ouvir tudo de novo ao vivo para me acalmar, mas se Sandro estava tão determinado em ter seu tempo, meu orgulho não seria aquele a interferir nisso. Mesmo que eu sentisse vontade de chorar a todo momento.

Respirei fundo quando fechei o zíper da bolsa depois de conferir se tinha tudo o que precisava. Eu sentia como se estivesse no primeiro dia de aula do ensino médio outra vez. Oscar, sentado nas costas do sofá, olhava para mim com grande criticidade. Provavelmente ainda estava com raiva por eu ter brigado com ele quando chutou mais um cigarro de minha mão sacada abaixo – pelo menos eu ainda estava com raiva.

— O que? Não posso brincar de médica e acabar com meus pulmões ao mesmo tempo?

Oscar apenas me encarou longamente.

O bocejo de Victória ao sair de seu quarto tirou nossa atenção um do outro. Ela parou no meio do corredor assim que me viu.

— Ai meu Deus! — Gritou ainda parada, processando o que estava acontecendo. Depois, qualquer vestígio de sono se dissipou de seu rosto e ela correu para se lançar em cima de mim no sofá da sala. — É hoje, é hoje, é hoje! Quem é a minha médica mais linda?!

Oscar correu para longe com um miado exasperado.

Porra — minha voz saiu abafada em meio ao seu abraço esmagador. — Você vai amassar meu coque!

— Que horas são? — Ela sentou no braço do sofá com uma risada, os pés na almofada dos assentos, esticando os braços marrons acima da cabeça preguiçosamente. — Você acordou tão cedo. Quer café? Está ansiosa? Vai dar tudo certo, eu garanto.

— Não garanta — murmurei, alisando os amassos da minha bolsa quando o furacão loiro passou. — Se algo der errado, vou amar ter alguém a quem culpar que não seja eu.

— Hmm — Vic batucou as unhas em suas pernas. — Culpe aquela tal do Theodoro que deu em cima de você de forma bem escrota. Ele é do seu grupo, né? Por isso você tá com essa cara?

— Que cara? — Perguntei, embora pudesse sentir a careta puxando meus traços.

— Sei lá, você não parece nada animada.

— Bom, eu não me sinto animada. Mal posso esperar para isso acabar. — Me levantei para pendurar a mochila no tripé ao lado da entrada, deixando-a pronta para a hora de sair. — Só de pensar que tem mais cinco anos de especialização me faz querer parar por aqui e assumir carreira de clínico geral.

Cinco anos, Deus me livre. — Ela bufou, indo para a cozinha. — Sabe, eu te apoiaria em qualquer decisão quanto a isso. Quer ser clínico geral? Ótimo. Quer largar os estudos e vender sua arte na praia? Ótimo.

— Não, eu me conheço. — Murmurei ao me sentar na bancada. — Além de não ter nenhum talento além de uma boa memória, não suportaria ficar sentada em uma mesa fazendo plantões e mais plantões só para encaminhar pacientes. Vai ser mil vezes melhor ter meu próprio consultório, trabalhar quando eu achar melhor e com um propósito de verdade.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora