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Aviso de conteúdo: menção à estupro e violência gráfica.

Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Eu soube que o plano havia dado errado no momento em que acordei. Não nos braços de Enila, mas no porta-malas de um carro em movimento.

Estava amordaçada. Um pano enfiado entre meus dentes, tão apertado que eu mal sentia meu queixo e bochechas. O tecido  segurava minha língua no céu da boca e me impedia de emitir qualquer som. Meus punhos foram atados em minhas costas com o que pareciam ser abraçadeiras de nylon, deixando minhas mãos dormentes e inúteis. Eu nunca havia me sentindo tão literalmente impotente até aquele momento.

Não entrar em pânico era impossível mesmo que o contrário só fosse piorar as coisas. Tudo o que eu podia pensar era no rosto de Rubi no espelho. Ela ia me matar. Não fazia ideia de como, mas depois do que fizera com Eva apenas por ser próxima de Sandro e depois de matar Nora por beijá-lo, eu tinha certeza que sofreria mais um pouco já que tivemos um relacionamento mais profundo. Depois de ter sobrevivido a tanta merda, parte de mim já queria morrer só pelo absurdo da realidade em si. Minha vida estava nas mãos de uma mulher ciumenta.

O carro parou não muito depois de eu recobrar a consciência, me fazendo rolar de barriga para baixo e bater a cabeça na lataria. Espremi os olhos e sequer consegui choramingar. A dor enviou raios em meu cérebro e me atrapalhou de me concentrar em quantas portas se abriram e fecharam. Vozes e passos se aproximaram antes o porta-malas ser aberto.

A luz do dia entrou imediatamente, me cegando através de meus cabelos. Fui puxada para fora pelos cabelos da nuca com tanta brutalidade que senti vários fios estalarem e a humilhação teria me cegado se a dor não virasse raiva mais rápido. O sol era potente demais, brilhante demais no meio de um céu azul sem nuvens, transformando as pessoas ao redor em silhuetas escuras por alguns segundos. Pisquei várias vezes para acostumar minha visão à claridade ao cambalear de pé, ainda usando as botas longas e suando sob todas as minhas roupas.

A primeira pessoa que vi, parada em minha frente com um sorrisinho ridículo de quem já havia vencido, era Rubi. Em ambos os seus lados haviam dois homens com tatuagens, armas visíveis e uma aparência tão assustadora que, se eu pudesse, teria perguntado se sentiam-se mais fortes ao bater em pessoas que não podiam se defender. Pelo visto, a droga ainda não havia saído totalmente do meu sistema.

— Natália Capelo — o sorriso de Rubi contornava cada palavra. — Temos muito o que conversar.

Eu ergui as sobrancelhas, afrontosa demais para o meu próprio bem, e abaixei o olhar significativamente para os meus lábios atados. Ela teria que conversar sozinha, pelo visto.

Quando a encarei de novo, seus lábios estavam retorcidos em ódio e desprezo, provavelmente insatisfeita com minha reação. Ou a falta de uma.

— Levem-na para dentro — ordenou aos homens. Dois deles, que tinham armas de mão na cintura ao invés de metralhadoras cruzando o peito, se aproximaram para me arrastar para onde ela havia mandado.

Eu precisava ganhar tempo, então precisava dar corda para a sua conversa. Semicerrei os olhos ao erguer a cabeça para o céu sem nuvens. Não havia nenhuma maneira de estarmos na capital, ou sequer naquele estado – o que me apavorava a ponto de limpar as drogas e a pouca coragem de minha cabeça.

O sol estava bem no alto, então devia ser por volta de meio-dia. A não ser que tivéssemos pego um avião, não devíamos estar muito longe. Eu não achava ter tanta importância assim para Rubi a ponto de fazer tanto esforço só para me torturar, mas a mudança drástica de clima era preocupante. Minha nuca estava empapada de suor, assim como todo meu couro cabeludo, o espaço entre meus seios, a dobra de meus cotovelos e joelhos.

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