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Atenção a uma crise de ansiedade em relação a Joshua por aqui.

Perdão pela pequena demora, por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Horas mais tarde, quando a noite já havia caído por completo e eu estava ligeiramente mais calma, Luís entrou no jipe e jogou uma pequena sacola no meu colo.

— Obrigada. — Eu murmurei, avaliando o que tinha dentro. Pomada antibacteriana, gel de vitamina e gaze não aderente. E amendoins. Tirei o salgadinho primeiro, olhando-o fixamente. — Você é adivinho ou algo assim?

— Sou noivo da sua irmã.

— Impossível esquecer algo que você gosta de repetir para mim a todo instante. — Minha voz não passava de um resmungo rouco pelo choro e cigarros. Eu afastei o pacote para o fundo, a mão latejante a ponto da dormência flácida no apoio de braço entre os bancos da frente. Eu só havia percebido a queimadura de cigarro depois de toda a crise que tive a tempo de correr para o banheiro. Um círculo em carne viva no meio da minha palma. — Enila comprava isso para mim antes de esquecer que eu existia.

— Você tinha dez anos. — Disse, reacomodando-se no banco do motorista. — E ela nunca esqueceu que você existe.

A farmácia que havíamos estacionado era, na verdade, uma das pequenas lojas de conveniência em um posto de gasolina no meio do nada. As luzes neon dos letreiros iluminavam o interior do jipe, pintando nossas peles brancas de lilás e fazendo o castanho do cabelo de Luís parecer um preto roxeado.

— Tá. Você ainda nem se formou e já é um perfeito advogado. — Retruquei, escondendo a surpresa por ele saber sobre minha idade, o que significava que Enila o contara. O que significava que Enila se lembrava.

— Obrigado. — Ele pegou a caixa da pomada para tirar o tubo cilíndrico de dentro. — Posso?

— Nem pensar. — Eu a tomei da mão dele, abrindo a rosca com o polegar da mesma mão e amassando-a um pouco com o pulso até uma gota escorregar na ponta do meu indicador.

Eu definitivamente não faria uma cena clichê de colocar a mão na dele e deixá-lo cuidar das minhas feridas. Embora talvez não fosse nada demais, depois de tanto tempo cuidando de mim mesma parecia muito íntimo deixar outra pessoa fazer isso por mim. Ainda mais essa pessoa sendo noivo de Enila, a causa indireta de tudo aquilo.

— Vai doer. — Ele avisou, mas manteve as mãos unidas entre os joelhos.

Uma risada sem humor partiu meus lábios antes de um chiado quando esfreguei o creme no ponto esfolado de carne vermelha. Os dedos da minha mão machucada estavam tremendo mesmo que eu mal a sentisse com a dor irradiando como um sol.

— Não é nada.

Depois que espalhei bem a pomada, enrolei cuidadosamente minha mão com a gaze, mas não poderia amarrar as pontas com uma só. Então não reclamei quando Luís suspirou e atou um laço com a delicadeza de alguém segurando um pássaro ferido, apesar de me retrair o máximo que podia no passageiro, quase afundando na almofada do banco.

— Por que você não deixou Sandro te trazer? — Ele finalmente perguntou, desistindo dos olhares questionadores e preocupados que me lançara durante todo o trajeto para cá.

Sandro havia tentado, é claro. Provavelmente ficara na entrada do meu quarto depois que entrei às pressas, porque ele foi o primeiro a abrir a porta quando gritei um tanto alto demais ao lavar a queimadura com água e sabão, o que me acordou para a realidade colorida e aguda. Luís estava logo atrás, ambos de olhos arregalados para a mão que eu embalava.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora