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Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Acordei quando Victória deslizou para dentro do meu quarto sem bater na porta.

— Fiz chocolate quente.

— Não quero.

— Está bem cremoso.

Eu não ia falar de novo. Virei as costas para ela, encarando a parede branca com as pálpebras pesadas. E seus passos inabalados avançaram para a cama logo em seguida, o cômodo apenas parcialmente iluminado pela luz tênue do abajur. Respirei fundo – ou pelo menos tentei.

— Não é um bom dia, Vic.

— Eu percebi. — O colchão afundou quando ela sentou. — Foi Eva quem me ajudou a fazer, por vídeo chamada. Ela perguntou sobre você.

— Fala que eu morri.

— Bom, — suspirou. — é mais ou menos isso o que parece.

Eu estava gripada. Gripada de verdade: febre, tosse seca usual do cigarro se transformando em uma úmida e carregada, nariz completamente vermelho e olhos lacrimejando o tempo inteiro. Pelo menos a febre não estava tão forte, prevalecendo de noite e diminuindo durante o dia. Consequência de ter ficado hipnotizada pelos faróis do carro de Sandro sumindo no meio da noite enquanto o temporal caía sobre minha cabeça como se Deus dissesse: eu avisei. Até que o porteiro me implorou para entrar, segurando um guarda-chuva sobre nós.

— O que ela disse? — Eu esperava que tivesse soado tão desinteressado quanto tentei.

— Que quer conversar. E que nada do que tenha acontecido entre você e Sandro vai mudar a sua amizade com ela. Coisa perigosa de se dizer com seu nome no meio, mas se relacionar com você nunca foi para qualquer um. — Uma risada melodiosa.

E, de repente, havia um braço magro passando sobre mim e um queixo pontudo no meu ombro. Seus cabelos estavam úmidos, e eu podia ter saboreando o cheiro doce do seu creme caso meu nariz não tivesse se tornado inútil. Eu bufei.

— O que você está fazendo?

— Te abraçando.

— Não quero abraçar.

— Não me lembro de ter perguntado.

— E nem de quando eu falei que só era para entrar aqui em caso de emergência, né? — Mas eu inclinei minha cabeça na direção das unhas pontudas acariciando meu couro cabeludo.

— É hora de tomar banho, fedida.

— Eu já tomei banho.

— De manhã. Já são seis horas da tarde.

Choraminguei, não querendo encarar o mundo frio fora do casulo quente que eu tinha feito em minha cama.

— Já vou. — Menti. — Se você ficar muito perto de mim, vai pegar também.

— Não vou pegar nada, porque você já está bem melhor. E isso foi chuva. Agora senta aí. — Grunhi quando ela beliscou minha bunda. — Toma o chocolate. Está na hora de conversarmos sobre o fim de semana.

— Não estou afim de conversar. Vou falar para a sua namorada que você fica passando a mão em mim. — Resmunguei, mas fiz o que ela mandou, estremecendo quando a porcelana morna da caneca encontrou meus dedos. Minha cabeça parecia três vezes mais pesada, e meu corpo três vezes mais fraco. — Pode trazer meus cigarros?

— Não. Minha namorada, aliás, adoraria passar a mão em você também. — Ela se acomodou ao meu lado, agarrando um travesseiro e tomando um pequeno susto quando a cabeça de Oscar apareceu por entre as cobertas, os pelos desgrenhados e olhos grudando de sono. — Esse seu gato está em todos os lugares. Que porra ele é?

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora