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Perdão por qualquer erro de ortografia e boa leitura!

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Não houve nenhum atropelamento ou corpo sendo jogado da sacada pelo resto da semana.

Eu estava me reacomodando em minha rotina de solteira, com um quarto vazio no apartamento e uma Victória mais presente, me importunando com séries dolorosamente longas, pintando minhas unhas e me convencendo a fazer hidratações caseiras e um tanto nojentas no cabelo e na pele. Nem Oscar escapou. Ele passou uma parte bizarra da madrugada a encarando como se planejasse sua vingança.

Eu chorei, eventualmente. Até Victória chorou um pouco, a ausência de Nora crescendo em cada cômodo, e rimos do quão humilhante aquilo era – duas jovens em lágrimas com pasta pegajosa espalhada na cara e sacos de mercado no cabelo. Não demorei muito para perceber que toda aquela distração não era apenas para mim, mas para ela mesma. Aparentemente, Bruna e Victória estavam se estranhando. Mas eu as conhecia – elas se amavam e logo estariam enroscadas uma na outra trocando lambidas por aí.

Eu não havia falado com Nora desde a noite de sexta, quando ela me seguiu para casa tentando se explicar por entre álcool, lágrimas e batom borrado e eu a cortei com ameaças raivosas. Eu não havia falado com Elias desde terça, quando ele veio até mim depois da aula com suas desculpas esfarrapadas. Eles tentaram, mas acho que eu não queria falar com eles nunca mais. Apesar da opinião de Victória, eu não via possibilidade de conversas maduras e amigáveis em toda aquela situação, então apenas a empurrava para o lado até sair de vista.

A fofoca havia se espalhado, e minha vingança em cima da hora rendera duas versões. A primeira era real; que eu peguei Elias e Nora traindo e fiquei com Sales para me vingar – disseram ter me visto na festa, o seguindo pelas escadas no canto onde ficavam os quartos dos anfitriões. A segunda era a usual extensão paralela que qualquer fofoca tinha; que havia traição dos dois lados e que nenhum de nós valia nada, já que eu nunca havia durado em um relacionamento e por isso não teria me aguentado e Elias não pôde se segurar simplesmente por ser homem – disseram em meio à risadas. O engajamento de ambas era incrível e terrível.

Eu só sabia das notícias por Eloah, uma das pessoas mais fofoqueiras da cidade. Ela sempre me deixava a par das coisas que eu não sabia por estudar e trabalhar muito e também era muito gente boa, mas toda vez que eu dizia isso Victória estalava a língua.

— É claro que ela é gente boa, como você acha que ela consegue as informações? Na maldita lábia.

E havia Sales.

O fim de semana estava chegando, mas eu era honesta o suficiente comigo mesma para saber que não era só o convite de passe livre para sua festa que o gravara em minha cabeça. Claro, a expectativa de minha conversa com a Prado me fazia estalar os dedos de nervosismo, mas isso não era nem metade.

Eu não conseguia esquecê-lo, não conseguia esquecer a noite que passamos juntos – a maldita memória sexual. Às vezes eu as trazia por conta própria, mas a maioria delas chegava sem avisar. Quando eu caía em mim, eu me via estática onde quer que estivesse, a pele supersensível, a boca seca e os olhos pinicando.

Não ajudava que Sandro Sales fosse dolorosamente bonito, todo traços firmes na pequenina foto de perfil do Twitter sempre que ele curtia algo meu – o que ele fazia muito, apesar de eu só tuitar incongruências que logo apagava por vergonha. E eu também havia me deixado levar mais facilmente do que o normal quando Victória sugeriu que eu postasse alguma foto minha da festa. Eu não coloquei a hashtag, porque o dia da festa em si já havia passado e eu estava no Uber – fora até a própria motorista que tirou a foto para mim, rindo alto quando eu pedi.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora