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Eu quase saí na porrada com esse capítulo. Acabou ficando mais sombrio e mais longo do que o normal, mas resolvi abrir a gaiola de uma vez pro passarinho voar. Adeus caralho!

Alerta para os gatilhos! Gravidez na adolescência, abuso por um membro familiar, uso de drogas, violência doméstica, violência infantil, menção à overdose, morte de um membro familiar, menção à tortura, menção à pedofilia, crise de ansiedade, auto-flagelo e abandono de menor. Se eu estiver esquecendo alguma, por favor me avisem!

Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Enila ficou estática por um segundo, como se não esperasse minha reação, mas logo se recuperou com um pigarro e tomou mais do vinho.

— Alguma pergunta em particular?

— Você se mandou assim que Joshua chegou. — Era a única coisa que eu conseguia me lembrar. — Por que?

— Porque — engoliu em seco. — ele é meu pai.

Tudo sobre Enila ficou ainda menos atraente e resisti à vontade de me afastar dois metros, com cadeira e tudo. Não havia palavras para mensurar a explosão de desgosto que revirou meu estômago, mesmo que parte de mim insistisse que era injustiça. Se isso fosse verdade, Enila não havia pedido para nascer filha de um pedófilo estuprador e certamente se odiaria por isso. Se isso fosse verdade, o sangue dele corria por suas veias e eu não sabia se isso era algo com que eu podia lidar.

Não fode. — Rosnei, mal ouvindo minha própria voz acima do zumbido em meu ouvido. — Isso é impossível.

Ela sorriu e foi a coisa mais triste que eu já havia visto.

— Ela tinha quinze anos quando engravidou de mim. Ele era um reprovado do terceirão e não se importou que ela fosse três anos mais nova. Vovó me disse que a mamãe era muito inocente, meiga e tímida. Deve ter sido muito fácil manipular e transar com ela.

— Eu não lembro nada de timidez e inocência em Aline. — E também mal lembrava de nossa avó. Vagamente me perguntei se ela estava viva.

— Claro que não. — Enila bufou. — Você veio bem depois, Natália. Assim que descobriu a gravidez, a mamãe tentou falar com ele, mas ele disse que era coisa da cabeça dela e que não era o pai. Mentiu tão bem que ela mesma ignorou a situação, mas a barriga começou a crescer e o vovô expulsou ela de casa assim que percebeu. Como na época mal se discutia sobre isso como se fosse tabu, como se a gravidez na adolescência nesse país não fosse alarmante, a mamãe não foi para a delegacia e nem nada. E ela estava morrendo de vergonha, claro, além de muito assustada. Disse que dormiu na biblioteca da prefeitura por dias, até uma amiga da vovó a levar para casa.

Eu fiquei calada, tentando encaixar a Aline criança e abandonada na Aline violenta que me odiava. Passou por minha cabeça que ela deveria ter odiado Enila, por ela ser filha de quem era, e não a mim, mas imediatamente me amaldiçoei pelo pensamento egoísta e irracional.

Enila continuou: — Mas você deve imaginar como velhas bitoladas de cidade pequena são e essa amiga basicamente só escondeu nossa mãe do vovô e do mundo por favor, não por bondade. Ela a colocava para fazer as tarefas domésticas, desde as mais leves até as mais pesadas, dizendo que era uma forma de se redimir pela gravidez, e continuou explorando a mamãe até o vovô morrer e a vovó levá-la de volta para casa comigo.

— Como ele morreu?

— Ataque cardíaco.

— Hm. — Era uma morte horrível e sufocante, uma pressão esmagadora no peito até a inconsciência chegar.

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