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Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!

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Voltar para a cidade que eu havia nascido era como acordar de um pesadelo no meio da noite e retornar para ele no momento em que fechasse os olhos. Parecia que os dois anos que eu passei longe dali foram completamente anulados no momento em que passamos pela placa de boas-vindas.

Eu não havia falado uma palavra quando entrei no carro de Enila, que viera me buscar na casa de Eva depois de eu falar para Victória que não iria passar lá antes de ir. Nem quando ela dirigiu por horas a fio. Nem quando paramos em um hotel para passar a noite. Nem quando tomamos café da manhã e voltamos para a estrada.

Não me passou despercebido as vezes que Enila se afastava com o telefone em mãos e o levava até a orelha:

Paramos para dormir. Ligo sim. Também te amo. Boa noite.

Bom dia. Uhum. Provavelmente de tarde. Te amo, até mais.

Estamos indo para . Te ligo depois. Beijo.

Enquanto isso, meu celular continuava sem nenhum sinal de Sandro. De Victória, apenas um "boa sorte!".

Eu havia rolado nos lençóis frios da cama muito dura do hotel até a madrugada e, nas poucas vezes que eu conseguia pegar no sono, me encontrei em pesadelos piorando memórias mais vívidas do que nunca. De repente, tudo veio à tona. Meu corpo vibrava na colchão, as cicatrizes de minha coxa ardiam como se estivessem sendo abertas novamente, meu rosto formigava com a sensação vívida de tapas pesados e mãos fantasmas deslizavam pelos meus membros. Os meus sentidos se afogavam nos gostos, nos cheiros, nos sons. Era como respirar de baixo d'água – eu nunca iria emergir.

Então me debrucei na janela e fumei quase um maço inteiro, metade do meu peso oscilando para fora enquanto observava a cidade, sentindo aquela apatia da minha adolescência voltar aos poucos e as preocupações dos meus problemas atuais afrouxando suas rédeas sobre mim temporariamente. Eu estava cansada. Muito cansada.

Mal havíamos chegado na cidade, o sol nascendo no horizonte, quando Enila recebeu outra ligação. Daquela vez, seus ombros não arriaram inconscientemente e não houve voz macia dedurando quem era do outro lado da linha.

Ela empurrou o carro para o meio-fio e estacionou desleixadamente, uma mão segurando o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos, seu peito subindo e descendo gradualmente até que a respiração acelerasse a ponto de ficar ruidosa. Depois de desligar, ela colocou o celular entre os joelhos e levou a outra mão ao volante como se sua vida dependesse disso, afundou a cabeça entre elas e começou a chorar.

Mamãe havia morrido.

Meus olhos encheram de lágrimas. Não pelo falecimento esperado, mas porque o choro de Enila era de partir o coração. Os soluços quebravam o silêncio do carro e ecoavam tortuosamente no buraco do meu peito. Eu queria esfregar a mão em suas costas. Queria puxá-la para um abraço. Acariciar seus cabelos. Sussurrar condolências. Sinto muito, sinto muito.

Mas eu continuei parada, braços flácidos sobre as coxas, cabeça encostada no apoio do banco, lágrimas presas que nunca desceriam dos olhos, garganta em chamas. E Enila chorava. Chorava. Chorava.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora