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O tanto que eu fiquei emperrada nesse capítulo não tá escrito. A volta das aulas 100% presenciais por aqui e o Enem chegando não ajudaram. Saudades de poder escrever à vontade e fazer prova em casa :,) Por isso, o capítulo hoje é meio curto. Mas já já tô de férias e tudo volta ao normal.

Não vi necessidade de nenhum aviso de conteúdo, mas me digam se virem algo. Perdão por qualquer erro de ortografia e boa leitura!

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Ainda estava escuro quando acordei. E, no momento em que abri os olhos, os fechei novamente e respirei fundo. Era um dia ruim.

Anos atrás, em alguma noite de setembro, eu havia matado um homem. Não sabia exatamente a data, mas sempre sentia quando se aproximava de uma parte específica do mês perto daquela madrugada fatídica e eu me sentia uma merda, como se tivesse sido transportada de volta para aquela época.

Eu tinha dezesseis anos. Estava sozinha. Estava infeliz.

Na sacada do apartamento, uma linha tímida de luz surgia ao longe ameaçando amanhecer. O resto do céu estava um breu, poluído e denso. Eu estava no terceiro cigarro e pensava em parar de fumar quando Oscar me cumprimentou com um miado, se esfregando na minha canela. Estremeci – o toque era insuportável, me fazendo desejar ser um réptil para trocar de pele.

Dobrei as pernas junto ao peito e deixei transbordar um pouco de toda aquela dor sempre tão reprimida dentro de mim e algumas lágrimas caírem em meio ao silêncio. Não pela primeira vez, me perguntei se um dia – e quando – eu seria como tantas mulheres na internet que contavam suas histórias de assédio e abuso sem nenhuma vergonha ou resistência. Não pela primeira vez desejei pular logo para a parte de minha vida em que eu estaria livre tudo aquilo e feliz. E se essa parte não existisse, desejei que eu não vivesse por muito mais tempo.

Era um dia ruim.

— Tem certeza que não vai hoje? — Eva perguntou horas depois.

Eu ainda estava na sacada, o sol já havia nascido em algum lugar atrás de todas aquelas nuvens cinzas e enviava um brilho opaco pela cidade. O cinzeiro, isqueiro e o maço ainda eram as únicas coisas no meio da mesinha redonda de ferro.

Meu silêncio pareceu resposta o suficiente, porque ela não perguntou de novo. 

Eu queria que Sandro estivesse ali, apenas estivesse ali, sem fazer nada. Uma presença tão reconfortante quanto os cigarros que eu não queria mais fumar, quanto a distância da sacada até o chão me fazendo pensar se a queda me mataria mesmo que eu não fosse pular.

Mas tudo o que eu ainda tinha era Eva – não que eu estivesse reclamando.

— Esqueci de te dar isso — ela se aproximou um pouco. O suficiente para me deixar desconfortável.

Eva vasculhou o interior de sua sacola ecológica bege sem tirá-la do ombro e tirou uma caixa marrom de aparência sofisticada e reciclada de dentro. Era... um presente.

— Meu aniversário é só em dezembro. — Mas eu estendi a mão mesmo assim, desconfiada.

— Gloria ia te dar enquanto ainda estávamos lá, mas não tinha chegado a tempo.

— Gloria? — Perguntei, confusa e apenas meio atenta.

Cheirava tão bem que suspeitei ser um perfume, mas era pesado demais. Só percebi que minhas sobrancelhas estavam franzidas quando as senti relaxarem ao ver que era uma vela. Não uma vela comum, mas uma vela larga e, com toda certeza, cara, revertida de vidro âmbar escuro e tampada com uma rolha bem encaixada.

VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora