Aviso de gatilho e conteúdo: tentativa de estupro, uso não consensual de drogas, violência gráfica e crise de ansiedade. Perdão por qualquer erro de digitação e boa leitura!
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Desde que eu me conhecia por gente, sempre preferi a noite ao dia. Eu costumava trancar a porta do quarto, abrir a janela, sentar no batente com as pernas balançando no ar e olhar para o céu noturno, sentindo-me mais à vontade no meu corpo do que nunca, a tensão se esvaindo junto com a fumaça do cigarro na escuridão.
Eu amava olhar para as estrelas que brilhavam mais forte quanto mais eu prestava atenção. Podia até distinguir uma nuvem aqui e ali, a lua geralmente escondida atrás das mais densas. Eu gostava pensar que um dia eu moraria entre as montanhas apenas para me sentir mais perto das estrelas, longe da cidade e da família e da escola para ficar mais próxima de mim mesma.
A noite tinha o dom de transformar meu desespero em esperança, fosse na solidão do meu quarto ou do lado de fora de uma festa ou chapada com a cabeça para fora da janela em um carro em movimento. Quando eu cedi à insônia e passei a dormir no mínimo sinal do alvorecer, percebi que a madrugada era linda e infinita, exatamente como eu queria ser quando crescesse. Percebi também que eu não tinha pesadelos depois de sonhar demais quando acordada para o meu cérebro ter qualquer energia enquanto eu dormia o sono dos exaustos. E de manhã eu era meio-zumbi, jamais desperta mesmo que meus olhos estivessem abertos.
Provavelmente era um instinto de sobrevivência ou algo do tipo, meu corpo detectando perigo no radar bem antes de mim. Eu não podia dormir. Não pelas sombras que mataram meu pai ameaçando tomar forma no chão do meu quarto, mas porque o dono delas passara a dormir no cômodo ao lado, na cama de minha mãe, apenas alguns meses depois. E ela, que já chegara a cuspir na cara do meu pai e o mandara dormir no quintal em seus dias de surto, passou a sentir falta dele quando teve que casar com seu assassino como um acerto de contas.
Às vezes eu sentia por ela, acorrentada ao meu pai, um homem que não valia nada, apenas mentia e se drogava, e depois acorrentada a Josha, não um homem, mas um monstro. Às vezes pensava que ela nunca tentou ajudar meu pai a sair da situação em que estava, somente o empurrou para baixo. Às vezes me perguntava como ela conseguiria tirá-lo da areia movediça em que também estava se afundando. Mas uma coisa era fato: ambos eram responsáveis pelas consequências de seus atos.
E se você está no radar de uma explosão, é impossível não sair ferido. Sorte de Enila, que fugiu assim que percebeu o futuro que a esperava se continuasse ali. Azar o meu, que fui deixada para trás.
Ele vinha todas as noites, passos ecoando no corredor atrás da minha porta, sua alma diabólica percebendo que meu anjo da guarda havia batido asas. Geralmente era quando eu pulava da janela e corria para a casa de Nora ou qualquer outro lugar mais seguro do que a casa que eu morava.
Mas uma vez o meu corpo não suportou a luta contra o cansaço e eu capotei em cima das minhas apostilas espalhadas na cama. Ao acordar, meu pesadelo tomou forma na vida real: meu padrasto em cima de mim, a tatuagem em sua cabeça careca como um monstro tentando sair e me devorar.
Eu não fugi, como Enila, nem apenas aceitei a situação, como meus pais. Eu reagi sem pensar, meu corpo trabalhando no automático como sempre.
O canivete que eu roubei do cara que me vendia cigarros estava sob meu travesseiro, dentro da fronha. Foi complicado com aquele corpo me esmagando e forçando entrada e o medo paralisante ameaçando amarrar os meus músculos. Mas eu segurei o objeto metálico com toda a minha vida e a afundei no pescoço dele até o cabo, a lâmina curva despontando no outro lado.
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VINGANÇA
RomanceAo ser traída pelo namorado e melhor amiga ao mesmo tempo, Natália escolhe se vingar. Mas ela não quer apenas devolver na mesma moeda, ela quer fazer pior: Natália vai para a cama com o pior inimigo do ex-namorado e a maior paixão da melhor amiga. S...