Não matarás ●Mikey Way●

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Aviso: violência, sangue, assassinato, morte, citação a termos bíblicos.

Ao despertar naquela manhã, tomei uma decisão que mudaria minha existência para todo o sempre.

Era um dia belo, afinal, estávamos na primavera. O céu reluzia em um tom de azul convidativo, manchado por nuvens brancas como algodão e conseguia ver as árvores verdes cercando minha residência. Parecia uma tela pintada com a mais bela paisagem que um artista poderia imaginar... e que, em breve, seria manchada de sangue.

Nunca havia sido uma pessoa violenta, tampouco era uma pessoa amorosa. Não demonstrava meus sentimentos, não importava se fossem bons ou ruins.

Isso até conhecê-lo. Ele mudou totalmente a maneira como via o mundo, com seu jeito incrível de ser, sempre se preocupando com todos ao seu redor e fazendo de tudo para melhorar suas vidas. Ele era diferente de qualquer pessoa que havia conhecido.

O que mais adorava nele eram seus cachos, já que sorria sempre que eu os acariciava. O seu sorriso poderia iluminar até os lugares mais sombrios, como a minha alma. Uma pena que não pôde iluminar a vida de todos, fazendo com que o ódio levasse-o para longe de mim.

Não queria pensar muito no quão bom ele era, pois sabia que faria com que desistisse de cumprir minha missão. Então, terminei de me arrumar e desci as longas escadas em direção a uma verdadeira sessão de tortura que chamavam de café da manhã.

O salão era lindamente decorado, com ouro cobrindo as grandes colunas e diversos objetos de prata sobre a mesa de madeira. As cadeiras tinham pequenas esculturas em toda sua extensão e o assento era de veludo em um tom vermelho sangrento. Diversos pães e frutas estavam dispostos, junto a cálices prateados cheios de vinho. Não importava o momento do dia, estávamos sempre presos em nosso castelo de mentiras, bebendo para anestesiar a miséria de nossos sentimentos.

A verdade era que, mais do que nunca, desejava não sentir nada. Não queria sentir raiva, nem tristeza, muito menos saudades. Ele era o único que me fazia sentir bem, agora que se foi, nada me faria sentir digno novamente.

Porém, precisava estar em total ciência de meus movimentos. Não poderia deixar que o álcool atrapalhasse meu plano de obter vingança. Precisava fazer com que Gerard pagasse pelos crimes que cometera.

Naquele momento, em que ele me encarava com o sorriso de escárnio de sempre, senti vontade de desistir de tudo e matá-lo ali mesmo, sem ligar se houvessem dezenas de pessoas assistindo. Faria de tudo para arrancar cada gota de felicidade de seu corpo miserável.

Ele nunca havia sido um bom irmão. Desde que éramos crianças, gostava de me maltratar, sendo o responsável pela maioria das minhas cicatrizes. Havia sido criado com o pensamento de que era superior, por ser o primogênito e herdeiro de todas as terras de nossa família, incluindo o palácio em que nos encontrávamos. O ponto máximo de sua crueldade sádica foi quando descobriu que Ray e eu éramos mais do que amigos.

Conseguia lembrar claramente da sua expressão no momento em que alegou estar me livrando da punição eterna e cortou a garganta dele na minha frente. Então, me arrastou para longe do corpo agonizante daquele que mais amava, sem deixar que sequer me despedisse. Tudo que restava dele eram as manchas avermelhadas no chão do meu quarto, uma adaga prateada cravada na madeira de minha cabeceira e o ódio crescente por aquele que tirou sua vida.

Entretanto, precisava me comportar como se estivesse grato por ter me livrado daquele "demônio pecador", como dissera. Precisava convencê-lo a dar uma volta comigo na mata que rodeava nossa moradia, para que, quando estivéssemos em um lugar quieto e afastado, pudesse fazer com que sua alma fosse levada ao inferno.

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