Encontro ●Peterick●

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Pete bateu insistentemente a caneta contra a superfície da mesa. Não conseguia focar no trabalho. Todos aqueles dados e números estavam deixando-o louco. Precisava urgentemente ocupar sua cabeça com outras coisas, então, decidiu dar uma pausa e conversar com seu colega, Andy. O único capaz de impedi-lo de arremessar aquele computador pela janela.
- Hurley, como vai a vida? - debruçou sobre a divisória do seu cubículo.
- Cara, ontem fui em um encontro maravilhoso com o Joe.
- Já estão no que... o quarto encontro?
- Foi perfeito! - ignorou a pergunta - Nós fomos em um restaurante chique, comemos algo que nem sei o nome, fomos para o apartamento dele e, ah... você sabe o que aconteceu.
Tentou se empolgar, porém, só conseguia pensar na falta que isso fazia. Seu último encontro tinha sido há meses. Nem conseguia se lembrar da última que havia tocado outra pessoa.
- Olha, você deveria sair com alguém. O Joe tem um amigo que está solteiro. E gay.
- Ele deve ser muito novo para mim e deve ser um chato.
- Não apostaria nisso... quer dizer, na primeira parte, talvez. Ele tem uns cinco anos a menos que você. Mas chato é algo que definitivamente não se encaixa nele.
Estava um pouco desesperado, precisa confessar. Sentia falta de sair com pessoas novas. Talvez devesse dar uma chance.
- Olha, esse cara realmente está procurando um namorado. Não vai precisar fazer nada, deixe que nós façamos por vocês dois. Tudo bem?
Suspirou, pensando que se arrependerá depois.
- Tudo bem.
- Você tem um encontro!
- É, eu tenho...

|♡|

Pete arrumou sua gravata mais vezes do que era capaz de contar. Fitava seu reflexo no espelho com atenção, julgando cada pequeno detalhe. Seu cabelo estava longo demais. Bem, estava tarde demais para cortar. Será que deveria prender? Não, melhor deixar natural. Estava usando perfume demais? Seu terno era sofisticado demais? Ou de menos?
Tinha desacostumado a fazer aquilo. Estava prestes a surtar e desistir quando ouviu uma buzina.
Sentia-se patético por ser um homem de trinta anos pegando carona com os amigos para ir em um encontro.
- Heey, Pete, animado para a grande noite? - Joe perguntou.
- Estou nervoso. Muito.
- Não precisa ficar. Patrick é um amor, vai adorá-lo.
- Isso é bem mais provável do que ele gostar de mim.
- Você é bonito, bem sucedido, gostoso, tem um belo corpo e um senso duvidoso de moda, ele vai te adorar.
Riu da tentativa de Andy de acalmá-lo. Sabia que era uma boa intenção, porém, não tinha ajudado, já que até o momento de chegar no restaurante estava mais ansioso a cada segundo.
- Cara, só relaxa, tenho certeza que ele vai te curtir.
- Tchau, Pete, se divirta bastante e se cuida.
- Obrigado, mama Hurley - gritou antes de sair do carro, deixando para trás as risadas deles.
Era um local chique, com aquela iluminação estranha e bancos com almofada. Não poderia dizer que não gostava. Mas sentia-se mais pressionado ali. Continuou arrumando sua gravata sem parar enquanto era levado para sua mesa. Seu acompanhante estava atrasado. Já era um ponto a menos. Nem sabia porque havia decidido ir. E se o outro desmarcasse? E se chegasse tão atrasado que estivesse cansado de esperar e ido embora? E se não fosse uma pessoa legal? E se fosse um babaca? E se...
- Ei, Pete? - uma voz extremamente agradável soou, tirando seus olhos do cardápio.
Engoliu em seco ao notar o rapaz parado ali. Tinha cabelos loiros - em um tom avermelhado - cobertos por um tipo de chapéu cujo nome não conseguia lembrar - fedora, talvez? - e exibia um sorriso capaz de derreter qualquer um.
- Si-sim, Patrick?
- Já achei que estava enganado, sempre faço isso com meus amigos.
As roupas que usava definitivamente não se encaixavam naquele ambiente, jeans com alguns rasgos no joelho, uma camiseta que parecia ser de alguns anos atrás e uma jaqueta de couro. Como conseguia ficar tão lindo usando aquela combinação?!
- Esse lugar é... uau. Bem caro, né? - comentou, olhando ao redor - Nunca venho em coisas desse tipo. Quando Joe me falou sobre ti acho que esqueceu de mencionar que é, uh... desisto, não sei sua profissão.
- Advogado.
- Oh... eu sou um artista. Músico, para ser mais preciso.
- Legal.
O que nós poderíamos ter em comum? Por que haviam achado que poderíamos combinar em alguma coisa? Claro que quando era adolescente, praticava baixo, entretanto, tinha ficado em um passado muito distante. Quase nunca pensava em voltar a tocar.
- O que acha de sair daqui e ir para um lugar melhor? Aqui é... sufocante.
- Sim, por favor, sim.
Precisava confessar, não aguentava mais aquele ambiente. O cheiro o deixava enjoado e as luzes faziam seus olhos doerem.
Levantaram e deixaram o restaurante. O mais baixo quase saltitava de felicidade.
- Quer pegar um táxi ou...
- Vamos caminhar. Sério, sentir um pouco do ar noturno da cidade.
- E ser assaltado?
- É só uma noite, Peter. Não se preocupe. Vou cuidar de ti.
O moreno sentiu suas bochechas se esquentando, mas aquilo tirou todos seus argumentos.
- O que faz no seu tempo livre? - questionou enquanto observava todos os prédios com extrema curiosidade.
- Nada realmente. Durmo ou bebo ou converso com Andy.
- Sério? Não gosta de cinemas... teatros... museus... nada?
- Não tenho tempo para isso.
- Claro que tem. Existe uma galeria de arte a algumas quadras, o que acha de passar lá?
Queria recusar, porém, foi impossível ao ver a expressão do outro.
- Claro, por que não?
Seu ideal de encontro perfeito foi totalmente destruído ao passo que caminhavam naquele museu. Os olhos do ruivo brilhavam ao explicar cada coisa, um sorriso sempre moldando seu rosto. Era incrível como sabia tantas coisas a respeito daquelas obras. Falava com uma paixão tão grande que era impossível desviar a atenção.
Estavam andando há tanto tempo que teve que tirar o paletó devido ao calor, o que deu uma ideia a Patrick.
- Tem uma loja de roupas aberta perto daqui? O que acha de mudar seu guarda-roupa?
- Não sei...
- Por favor...
Era simplesmente impossível negar qualquer coisa ante aqueles olhos azuis brilhantes.
- Vamos!
Segurou em sua mão, fazendo eletricidade se espalhar por seus dedos e calor se espalhar por seu rosto.
O atendente tentou argumentar que faltava menos de vinte minutos para fechar, porém, não deram atenção. Tinham tempo.
O menor começou a pegar várias coisas e simplesmente jogou em suas mãos enquanto o empurrava na direção do provador.
Vestiu o que pareceu ser uma calça jeans vermelha um pouco apertada e uma camiseta do Metallica - surpreso que era a banda favorita de ambos.
- O que achou?
O outro estava de queixo caído. Encarava-o com uma expressão praticamente hipnotizada.
- Ficou incrível. Dá uma voltinha.
- Assim?
- Sua bunda ficou maravilhosa.
- Estava olhando para minha bunda?
- Claro. Mas é o que dizem por aí... não apenas olhe para a bunda dele, coma-a.
Sua face ficou totalmente corada e desviou o olhar, vendo seu reflexo no espelho. Precisava concordar. Estava lindo.
- Agora experimente as outras, vai, vai!
Não conseguia parar de rir a cada peça que experimentava. Aquele provavelmente estava sendo o melhor encontro da sua vida. Fazia combinações estranhas e algumas estilosas. Tinha certeza que os vendedores queriam expulsa-los de lá, pelo jeito que olhavam para eles.
- Ok, acho melhor irmos antes de sermos expulsos.
- Você vai ter que levar a primeira roupa que testou. Vai ficar ótima no nosso próximo encontro.
O rapaz pareceu ter notado o que disse, corando intensamente.
- Quer dizer, se quiser um próximo... não sei. Eu, uh, adoraria, mas não sei se você vai, uh...
Foi adorável vê-lo daquele jeito, era impossível não sorrir.
- Claro que quero. Deixa eu me trocar e já saímos antes que - fez um sinal como se estivessem cortando sua cabeça fora.
O som da risada de Patrick era muito satisfatório. Poderia ouvir aquilo por horas sem se cansar. Assim como quando falava sobre seus interesses, explicando obras de artes praticamente impossíveis de entender. Precisava conhecê-lo mais, porém, tinha uma certeza: aquele era seu último "primeiro encontro" de muitos. Não pretendia deixar Patrick ir tão cedo. Ou talvez nunca. 

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