Duelo ●Peterick●

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Nota: só precisava compartilhar o fato aleatório de que a origem deveras peculiar dessa estória foi há mais de um ano, quando meu professor de artes sem querer disse "na Idade Média os homens se matavam pela mão do Rei". Enfim... aproveitem!

Pete sempre se considerou meio sádico e narcisista. Bem, ninguém poderia culpá-lo. Quando se nasce como herdeiro de um trono, você acaba desenvolvendo uma paixão em ser superior. Ele nunca achou que aquilo estava indo longe demais. Eram sempre pequenas humilhações e relações que ele sabia que nunca levariam a lugar algum além do seu próprio divertimento. Mas tudo acabou quando recebeu o ultimato para se casar.
Ele pensou nas diversas maneiras que as pessoas faziam para escolher seus pretendentes. Algumas escolhiam por amor, outras por apostas. Porém, o melhor jeito eram os duelos. Homens dispostos a lutar até a morte pela chance de sentar em uma cadeira feita de ouro. Não havia nada que ele poderia querer mais.
Quando anunciou o que faria, vieram homens de todos os lugares do reino e até de terras longínquas. Ele os observava lotando as hospedarias, alguns pobres coitados pagando por um celeiro sujo com as únicas moedas que tinha acumulado durante sua vida. Tudo por uma chance de virar Rei. Apenas um deles conseguiria, o resto passaria suas vidas se arrependendo e se culpando por aquele momento. Divertido, não?
Os preparativos o entediavam. Eram tantas perguntas que ele não se importava o suficiente para responder. Deixava tudo com a pessoa que melhor o conhecia no mundo, seu meio-irmão, Joe. Não eram nada parecidos, o mais novo com certeza não faria um espetáculo daqueles apenas para se casar, não gostava muito de se divertir com o mal dos outros. Também já era casado, surpreendentemente.
Apesar não ter dever nenhum em fazer aquelas coisas, era o braço direito do irmão e o ajudava com o que precisasse. Naquele caso precisava organizar o maior duelo que já tinham visto. Pete queria algo grandioso para que todos pudessem admirar seu poder.
Mas a maior satisfação dele não era em pensar na maneira que os outros reis e rainhas o veriam. Era no olhar dos homens que paravam à sua frente para se apresentar como duelantes. Estavam tão amedrontados e fascinados. Era simplesmente arrebatador.
Por mais que o comum fosse os duelos serem realizados entre cavaleiros experientes, a maioria ali era formada de camponeses desesperados por uma chance de mudança na vida. Podia ver pelas roupas que usavam e o jeito que arregalavam os olhos e perdiam a voz ao se apresentar.
Geralmente eles nem chegariam perto do rapaz, mas ele queria vê-los antes que se ferissem ou morressem. Queria guardar cada rosto, analisar seus gestos e palavras tentando encontrar aquele que se tornaria o futuro Rei ao seu lado. Tinham alguns tão pequenos e fracos que jamais teriam chances. Um em particular chamou sua atenção. Era baixo, de aparência frágil, traços delicados e usava roupas tão velhas que se podia ver os diversos buracos até do outro lado do salão. Apesar de tudo, não tremeu ante ao monarca. Fez uma reverência e fixou seus brilhantes olhos azuis nos castanhos e frios de Pete.
- Diga teu nome - ordenou, causando estranhamento de todos no ambiente, não costumava falar diretamente com os súditos.
- Patrick Stump, Vossa Majestade.
- Acredita ter chances de vencer?
- Todos temos chances, Vossa Majestade.
- Mesmo sem saber qualquer técnica e ser tão fraco?
- Não irei desistir. Lutarei até o fim e, se perder, aceitarei minha derrota com honra, Vossa Majestade.
Por alguns segundos, o rapaz desejou cancelar todos os duelos e simplesmente escolhê-lo como seu esposo. Conseguia ver que tinha a postura perfeita para o reinado. Sabia controlar suas palavras e não tinha medo de encarar seus medos. Mesmo assim, ainda sabia ser submisso na medida certa para que continuasse vivo. A combinação perfeita.
No entanto, seria injusto com todos outros. Seria triste ver aquele garoto ser ferido ou morrer durante as competições, mas era necessário para que o melhor fosse escolhido.
- Desejo-te a melhor das sortes. Vais precisar.
- Não será necessário, porém, sou eternamente grato, Vossa Majestade.
Todos no ambiente estavam sem palavras. Peter não costumava tratar plebeus com tanto respeito. Nem sequer os nobres tratava assim. Desprezava a todos que eram inferiores, gostava de vê-los sofrer.
Patrick deu um sorriso tímido, o que foi suficiente para que os lábios do outro arqueassem levemente. Era a primeira vez em anos que pensava em sorrir sem ser devido ao sofrimento de alguém.
Acompanhou enquanto o jovem saía do salão, completamente encantado com a beleza do local. Foi bom olhá-lo pela última vez, pois Pete teve certeza de que Patrick estaria morto no dia seguinte.

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