Guitarra ●Frerard●

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- Só dizendo... se você realmente me amasse, teria me batido com aquele tijolo, Mikey.

O mundo estava de cabeça para baixo. Digo, literalmente. Eu estava deitado na minha cama, com os pés apoiados na parede e a cabeça quase tocando o chão.

Meu irmão me encarava com seu melhor olhar de julgamento. Morar em uma casa pequena demais para nossa família tinha suas vantagens, podíamos conversar de madrugada no nosso quarto compartilhado.

- Não precisa de tudo isso.

- Precisa sim. Você não sabe o que é sofrer com um amor impossível.

- Sério?

A expressão dele era algo entre tédio e ameaça. Nunca consegui distinguir muito bem.

- Tá, talvez você saiba. Não que estar apaixonado por um garoto que mora do outro lado do país seja qualquer coisa comparado a isso.

- Gerard!

- O quê?

- Você precisa conversar com o Frank.

- Ele é legal. É descolado. Está em uma banda. Tem tatuagens! O que iria querer com um cara sem sal como eu?

- Cada um tem seus gostos, vai saber.

Tentei alcançar meu travesseiro para jogar nele, no entanto, falhei completamente, o que, obviamente, arrancou risadas dele.

- Michael - falei, em um tom de alarme.

- Não estou brincando. Precisa falar com ele. Não estou falando para chegar "Oi, Frank, poderia me comer, por favor?". Ugh, foi nojento falar isso.

- Foi nojento ouvir isso.

- O ponto é que precisa fazer isso logo. Não pode ficar enrolando para sempre, fingindo que não consegue aprender a tocar guitarra de jeito algum.

- Não é fingimento.

Na verdade, aquilo era meio verdade. Não era mentira quando comecei a fazer aulas com Iero, dois meses atrás. O problema era que, quanto mais eu aprendia, mais rápido acabaria meu contato com ele. E isso tentava evitar isso a todo custo, o que incluía fingir que esqueci como funcionam todos os instrumentos do mundo.

- Senta igual gente - Mikey se levantou e foi para o meu colchão.

Quando me arrumei apropriadamente, ficou me fitando por alguns segundos, até começar a rir.

- Que foi?

- Eu sou o irmão mais novo, não deveria dar conselhos amorosos.

- Não tenho culpa se você passou o rodo em metade da sua escola.

- É, não dá para discutir com isso.

- De alguma maneira, o grande Mikey Way se apaixonou. Por alguém que mora na puta que pariu.

- Não podemos controlar o coração.

- Podemos sim. Olha - estralei os dedos - agora não gosto mais dele. Estou livre! Posso parar de fazer aulas de guitarra.

- Ah, claro. Saiba que essa foi uma tentativa fracassada de fugir das suas obrigações.

- Você é sem graça.

- Sou realista, Gerard.

- Mesma coisa.

Ficamos em um silêncio confortável por alguns segundos, apenas aproveitando a companhia um do outro.

- Eu sei que vai conseguir.

- Como?

- Seja você mesmo. Se ele gostar, bom, vale a pena continuar investindo.

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