Namorada ●Trohley●

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- Eu vou morrer sozinho.
O garoto do outro lado da linha revirou os olhos.
- Você tem só dezessete anos, Joe.
- E...? Outra garota me largou para ficar com ele.
- Não precisa se preocupar. Foi tipo a terceira? Ainda vão ter mais pela frente.
- Se fode, Pete - disse, fazendo-o rir.
Virou na cama, tentando conter a vontade de jogar seu celular na parede.
- É sério, não o que elas vêem nele. Cara, ele nem é bonito.
- Olha só quem está falando... você está se achando a última bolacha do pacote, né?
- Eu sou bonito.
- Vai nessa. Você é estranho.
- Peter!
A amizade deles era assim. Podiam falar aquelas coisas, sabiam que não era verdade. Se precisassem, tinha a certeza que teriam um ao outro.
- Pelo menos não uso três toneladas de maquiagem todo dia.
- Justo.
- Continuando... aqueles óculos, cara, você já viu? Cara, são horríveis.
Aquela era uma mania dele, sempre que ficava nervoso começava a colocar um monte de 'cara' nas frases.
- Entendo que tocar numa banda e ter uma tatuagem o deixa três vez mais sexy. Só que mesmo assim. Não entendo, cara.
- Parece que você anda pensando muito nele...
- Pare com esse tom sugestivo aí. Sabe que só pensei porque minha namorada terminou comigo por causa dele.
- Mano, não precisa se...
- Tive uma ideia - interrompeu - vou me aproximar dele, descobrir o que elas tanto vêem nele.
- Isso é... estranho.
- Vai pensar que somos amigos, então quando ele menos esperar, boom, dormi com a namorada dele.
O outro começou a rir.
- Isso vai ser divertido.
- Vai dar certo, Wentz. Anote minha palavras.

¦※¦※¦

Joe não conseguia se concentrar. Sentia suas mãos tremendo, o suor escorrendo por seu rosto e sua respiração falha. Sabia que Andy estava falando, porém, não conseguia ouvir. Estava focado demais nas cenas que passavam em sua mente.
Quando ele se inclinou em sua direção, sentiu-se prestes a desmaiar.
- Está tudo bem?
- Si-sim. Claro.
- Você está mais pálido que o normal.
Engoliu em seco, tentando se focar.
- Acho que não estou muito, uh, bem. Acho que vou indo, cara. Te vejo depois, cara.
Pegou sua mochila e saiu, quase sem sentir suas pernas. As cenas ficavam se repetindo na sua cabeça várias e várias vezes, queria que fosse real. Nunca deveria ter feito aquele plano. Deveria ter deixado aquelas garotas simplesmente saírem de sua vida. Era idiota por não ter deixado aquilo passar. Agora as coisas estavam indo de mal a pior e não podia culpar ninguém além de si mesmo.
Bateu na porta de Pete com tanto desespero que deve ter assustado a irmã dele, que atendeu com uma expressão confusa.
- Wentz! Preciso falar de algo! - quase gritou, entrando no quarto.
O amigo o encarou numa tentativa de entender o que estava acontecendo. Era estranho. Não parecia Joe sem as piadas e o humor estranho. Algo estava errado.
- O que aconteceu?
- Não é nada muito importante. Quer saber? Melhor eu ir embora.
- Não. Agora tem que falar.
Sentou na cama e tentou criar coragem para falar.
- Eu tive um... sonho com o, uh, Andy.
Pete estava literalmente de queixo caído. Não sabia o que falar.
- Não é o que está pensando. Ele só me pedia em namoro. Tinha uma aliança bonita com detalhes de pedras. Tudo foi tão perfeito. Até esse momento não tinha percebido o quanto desejava que ele fosse meu... namorado.
Ficou em silêncio, puxou seus joelhos contra o peito e colocou a cabeça entre as mãos. Sua face estava totalmente quente.
- Isso é... inusitado. O que aconteceu com seu plano 'quando ele perceber, boom, dormi com a namorada dele'?
- Está mais para 'quando ele perceber, boom dormi com ele'.
O mais baixo riu, se jogando no chão.
- Então esqueceu delas?
- Claro que sim. Elas são nada perto dele.
- Presumo que descobriu o que ele tem de tão especial.
- Cara, é inexplicável. Tipo, o Andy é incrível, cara. Vai muito além da aparência ou do quão legal ele parece ser. Cara, é uma pessoa incrível, que luta pelas causas certas.
- Acha que tem chance?
- Não sei. Digo, terminou recentemente com a minha ex, mas ainda posso tentar. Ou não. Melhor desistir.
- Não! - gritou, ficando em pé - Joseph Trohman, se você ousar desistir desse homem vai se ver comigo. Me dá seu celular.
- Ei, não!
Pete se jogou sobre ele, pressionando-o contra o colchão.
- Me dá!
- Não!
Enquanto se debatia, o aparelho caiu de seu bolso, chamando a atenção do amigo.
- Obrigado!
- Não!
Tentou segura-lo, contudo, era tarde demais. Correu para dentro do closet e se trancou.
- Peter, abra isso, agora!
- É para o seu bem.
O garoto procurou nos contatos até achar o que queria. Clicou em "Andy 😎" e esperou a chamada.
- O... que está fazendo?
- Alô? Joe? - uma voz respondeu.
- Não, é o Pete, amigo dele - sorriu.
- Eu vou te matar!
- Isso foi ele?
- Foi.
Joe começou a bater na porta com força.
- Está tudo bem?
- Claro. É que estou dentro do armário. Opa, quer dizer, no sentindo literal. No sentindo figurativo já saí faz muito tempo. Enfim, como você está?
- Bem, eu acho.
- Ótimo! Você terminou muito recentemente, mas agora que está solteiro se um garoto estivesse interessado em ti, o que faria?
- Está... dando em cima de mim?
- Não, claro que não. É só para um pesquisa.
- Ok... não teria problema algum com isso, desde que ele seja legal. Para mim o que importa é ser uma boa pessoa.
- Muito interessante. Obrigado pela conversa. Até mais.
Desligou, finalmente abrindo a porta.
- O que você fez? - Joe disse.
- Nada.
- Pete, eu vou...
- Fica tranquilo. Está tudo na boa.
- Cara, vou te matar.
- Sem preocupações, bro.
Sentou na cama, colocando o rosto entre as mãos. Estava com medo do que aquilo poderia causar.
- Relaxa, Jooooeee. 
- Estou relaxado.
- Ele é um cara legal, vai ficar de boa com isso.
- Esse é o problema. Ele é perfeito. Por isso tenho medo de arruinar tudo. Você acha que alguém como ele aceitaria alguém como eu? Não sabe quem sou de verdade. Imagina quando ele descobrir que sou o cara que faz piadas idiotas e tem um humor estranho? Que fala coisas sem sentido? Ele vai me odiar. Sou o idiota que consegue falar com todas as garotas do mundo, mas chega um garoto perto de mim eu simplesmente travo totalmente. Geralmente me sinto tão confiante, mas perto dele... fico estranho. Não sei o que está acontecendo.
- Fica calmo!
Estava à beira das lágrimas, não conseguia mais se controlar.
- Eu nunca fiquei assim antes. É muito novo, Pete.
- Se acalme, homem! Não tem com o que se preocupar.
- Com elas foi tão fácil. Só começava a conversar e tinha a certeza de que gostariam de namorar comigo.
- Você só gosta demais dele. É normal.
- Mas...
- É assustador. Só que precisa ser você mesmo. Ele vai gostar, tenho certeza.
- Acha?
- Claro.
- Mesmo sendo estranho?
- Ninguém é normal, cara.
- Faz sentido.
- Agora podemos parar de nos preocupar com isso e deixar a mágica acontecer? Posso ajudar?
- Não. Vou fazer tudo sozinho.
- Tem certeza?
- Claro.
- Sabe que isso não vai me parar, não é?
Suspirou, abraçando-o.
- Sei. Obrigado, Wentz.
- Ao seu dispor...
Ficaram daquela maneira por alguns segundos, apenas apreciando a amizade que tinham construído.

¦※¦※¦

Joe andava de um lado para o outro, mostrando o quão cansado de esperar havia ficado. Meia hora parando em frente da droga da escola.
- De quem foi essa ideia mesmo? - Andy questionou enquanto colocava as mãos no bolso.
- Pete. Mas acho que ele não vem. 
Decidiu olhar o celular e leu a mensagem do amigo. 
"Pete 🤠: aproveite seu tempo a sós com o Andy rsrsrs pode me agradecer dps 😉😜"
Suspirou, na tentativa de conter a vontade de gritar que teve. Estava irritado. Aquilo tinha sido a merda de um plano. Porém, era tarde demais. Não poderia lutar contra. Já estava feito. Deveria aproveitar a oportunidade.
- Ele não vai vir mesmo.
- Ótimo - o outro respirou fundo.
- O que acha de fazermos algo já que temos a tarde inteira livre? Tenho alguns jogos novos, poderíamos ir para minha casa, uh, jogar.
Estava nervoso, mais do que de costume. Era sua chance.
- Pode ser.
Andaram em silêncio. Joe queria falar. Mas estava inseguro. Tinha tanto que queria compartilhar. Porém, o medo de que suas palavras os afastaria prevaleceu. Ao chegarem no local, não falaram nada, até Andy questionar, enquanto observava o outro ligar o aparelho.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Uh, claro - respondeu, sentindo seu coração acelerar.
- Qual o lance do Pete? Ele age bem estranho, parece que está dando em cima de mim. 
Foi impossível conter uma risada.
- Não me entenda mal, não sou aquele tipo de cara que acha que só porque ele é gay iria se sentir atraído por mim ou algo assim.
- Não, ele não sente algo por você.
Aquela era a oportunidade perfeita. Não podia perder. Não podia desistir.
- Mas eu sinto.
Sentou-se ao seu lado, sem fitá-lo. Esperou pela sua reação mas tudo que obteve foi uma risada.
- O que... tem de engraçado nisso?
- É só que... é tão melhor do que eu tinha pensado. Quero te chamar para sair desde o primeiro momento em que te vi, quando terminei, pensei que seria a oportunidade para isso. Porém, fiquei com medo de que pensasse que estava te usando para esquecê-la ou algo assim. Eu fiz aquela pergunta porque achei que Pete estivesse apaixonado e não queria magoá-lo quando te convidasse. Estou rindo... porque é um alívio enorme.
Joe não sabia como reagir. Nunca havia pensando naquela possibilidade. De repente, a realidade o atingiu e começou a falar:
- Não, você não quer sair comigo. Quer a imagem que criei de mim. Acha que sou assim, mas esse não sou eu de verdade. Sou o cara estranho que faz piadas bizarras. Precisei criar uma imagem minha para que não me afastasse. Na real, só me aproximei de ti por causa do seu namoro. Ela... terminou comigo para ficar com você. Estava magoado, queria devolver na mesma moeda. Meu plano se chamava "Quando ele perceber boom dormi com a namorada dele". Só não contava que no meio do caminho, iria perceber o quão incrível você é e... querer ser a pessoa a estar ao seu lado. Apesar de achar que nunca gostaria de mim se soubesse quem sou.
Andy sorriu e segurou a mão do outro.
- Eu sempre soube como era. O Patrick me falou tudo.
- Sério? Vocês se conhecem?
- Somos vizinhos. Ele me contou que eram amigos há um tempo.
- Isso é... não sei como expressar.
- Você não precisa se preocupar, Joe, gosto de ti de qualquer maneira.
Ficou totalmente corado e decidiu olhar em qualquer direção menos a dele.
- Vamos jogar?
- Claro.
- O que acha de, se você ganhar nós vamos em um encontro e se eu ganhar você me deve um beijo?
Sorriu, pegando os controles.
- Trato totalmente feito.

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