Educação física ●Peterick●

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Aviso: bullying; vômito
nota: já arrumei esse capítulo quatro vezes depois que o wattpad apagou metade dele, mesmo assim sai errado, me desculpem.

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A maioria dos alunos adorava aquela aula. Aquele definitivamente não era o meu caso. Principalmente quando era queimada. Todos adoravam torturar o garoto pequeno, estranho e gay. Era o alvo perfeito.
Aquele era mais um dia em que a ansiedade me fazia quase surtar enquanto escolhiam os times. Os dois garotos disputavam para não ficar comigo. Como sempre, havia ficado em último. Pude ver o alívio no olhar do outro ao perceber que Pete teria meu peso ao seu lado.
Fiquei no canto mais escondido do lugar, esperando terminarem de arrumar as coisas. Não pretendia aparecer até que fosse obrigado. Permaneci em silêncio, encolhido ao máximo para não me notarem. Havia apenas um garoto desconhecido próximo. Deu certo. Contudo, acabou se tornando um dos dias em que desejei não ter saído da cama.
Brendon passou por mim, conversando com o líder do outro time.
- Mano, eu já estava nervoso com ele ficando por último, sorte minha que ele ficou no seu time. Viu a cara dele quando soube que era queimada? - começou a rir - Além de gordo é patético!
Aquilo foi o máximo que aguentei. Quando dei por mim, estava correndo até o banheiro. Assim que tranquei a porta, senti tudo que havia comido no café da manhã sendo expelido do meu corpo. Odiava a mim mesmo por deixar que tivessem aquele efeito sobre mim. Eram apenas palavras, por que deixava que me afetassem tanto? Odiava a mim mesmo por deixar que me fizessem sentir daquele jeito. Estava certo. Era patético.
As lágrimas escorriam quentes pela minha bochecha, caindo no chão sujo do banheiro.
A porta se abriu, fazendo com que ficasse tenso. Desejava que fosse qualquer um menos quem estava pensando.
- Está tudo bem, carinha? - a voz do professor ressou.
Suspirei de alívio.
- Te vi correndo até aqui.
- Estou, uh, passando mal. Acho que comi algo estranho.
- Quer ir para casa? Posso te liberar.
- Seria ótimo.
Fiquei mais alguns minutos tentando me recuperar e finalmente saí. Ignorava o olhar de todos sobre mim enquanto andava. Não importava o que pensassem, não podia ficar pior do que já estava.

¿◎? ¿◎?

- Ei - alguém falou.
Apertei a alça da minha mochila com força, ainda mantendo a cabeça baixa. Precisava ser invisível.
- Valeu por me ignorar - um garoto de cabelos ruivos falou.
Não o reconhecia, nem a sua voz, mas qualquer um podia me atacar. Não era bom confiar.
- Enfim, vi o que aconteceu no outro dia. O que eles falaram sobre você.
- Legal.
Ótimo, agora mais uma pessoa sabia o quão idiota eu era.
- Mas vi o que aconteceu depois. Pete ficou irritado com aquilo.
- Por que? Os insultos não eram suficientes?
- Não! Ele não queria que falasse aquelas coisas.
- Está dizendo que ele me defendeu?
- Sim.
Soltei um riso de desprezo.
- Tá, quanto eles estão te pagando para isso? É algum novo jeito de rir de mim?
- Olha, eu odeio eles tanto quanto você. Meu namorado teve que mudar de escola por causa deles. O que fazem é horrível. Mas o Pete é diferente. Ele não é mau, é apenas perdido.
- Vou fingir que acredito.
Revirei os olhos e continuei andando.
- Sou o Andy, a propósito - gritou.
- Patrick - respondi, sem olhar para trás.
- Pense no que te falei!
Sendo verdade ou não, as palavras dele não saíram da minha mente nos dias que se seguiram.

¿◎? ¿◎?

- Ei!
Reconhecia aquela voz. Não, não, não.
- Espera!
Acelerei o passo. Não podia deixar que me alcançasse.
- Ei, espera!
Precisava manter a cabeça baixa e andar rápido. Não que fosse adiantar, afinal, éramos os únicos no corredor.
- Por favor, espera...
Ele tocou em meu ombro, me fazendo recuar, com medo de que me batessem novamente. Pete deve ter visto o medo no meu olhar, já que se afastou.
- Me desculpe, eu...
- O que quer comigo?
Meu coração batia rapidamente, podia sentir minhas mãos tremendo e estava sem ar. Medo. Era a única definição.
- Vi que estava mal aquele dia na aula e quis perguntar se está melhor.
- Por que está fingindo que se importa? É algum tipo de novo jeito de me zoar? Não vai funcionar. Pode só sair e dizer para seus amigos o que fez.
- Patrick, me escuta, por favor.
Congelei. Aquilo era incomum. Eles nunca me chamavam pelo nome. Nunca.
- Do que chamou?
- Patrick...? Seu nome? - sua afirmação saiu mais como uma pergunta.
- Como sabe?
- Eu,.. uh, presto atenção em você.
- Por que?
Antes que pudesse responder, uma voz o interrompeu:
- Pete, o que está fazendo aí?
Brendon e seu grupo vinha em nossa direção. Eu queria correr, sair dali sem olhar para trás. Mas estava curioso com o que aconteceria.
-

Primeiro discute comigo sobre as coisas que disse e depois vem rir dele sozinho? O que está acontecendo?
- Nós só estávamos conversando.
- Melhor não ficar muito tempo aí, cuidado para ele não se apaixonar por você - Começaram a rir.
- Quer saber de uma coisa? - Pete gritou - Ele se apaixonar por mim não seria tão ruim.
O sorriso do líder morreu lentamente. Pete se virou de costas para mim. Aquilo estava estranho.
- O que...?
- Vocês gostam de zoar outras pessoas e isso me machuca. Gostam de rir do Ryan por usar maquiagem, do Joe por gostar de ficção científica e do Patrick por ser gay. Mas na verdade... eu sou como eles. Cada vez que os machuca, isso dói em mim. Estava com medo de dizer essas coisas e vocês pararem de ser meus amigos, só que percebi que não vale a pena. Sou assim, não posso mudar.
Fiquei complemente sem ação. Jamais teria sido capaz de imaginar aquilo. Estava tudo tão confuso. As coisas giravam na minha mente sem parar.
- Além disso, gostam de falar coisas horríveis para o Patrick, principalmente sobre a aparência dele. Todas são mentiras. Ele é perfeito. Simplesmente perfeito. Cada parte dele é perfeita, não importa o que digam. E estiveram tempo demais focados em coisas não importantes para perceber como ele é incrível ou como canta maravilhosamente bem. O Patrick é... não sei como descrever, apenas perfeito.
Ele não me fitava, só olhava para o chão. A cada segundo eu ficava mais desnorteado. Suas palavras pareciam tão verdadeiras. Já havia feito aulas de teatro com eles, sabia que não bons atores. O que me restava era acreditar no que dizia. Algo ali... me parecia verdadeiro.
- Que porra é essa, Pete? De onde tirou isso?
- É a verdade. Estou cansado das suas merdas, de fingir que está tudo bem. Você, Brendon Urie, é um completo babaca. Você e seu grupinho de idiotas. Cansei disso.
- O que vai fazer a respeito? - se aproximou.
Antes que pudesse reagir, caiu no chão. Pete se virou rapidamente para mim, segurou minha mão e começou a correr. Podíamos ouvir os passos nos seguindo, então fomos mais rápido. Corremos o máximo que conseguimos. Minhas pernas doíam, assim como meu peito. Às vezes, sentia que iria desmaiar. Porém, não podia desistir.
Quando estávamos cansados demais e não podíamos ouvi-los, decidimos parar.
Ficamos encontrados em um muro, tentando recuperar a respiração. Sentia meus pulmões queimarem, com certeza não estava acostumado a correr.
- O que... você... disse... sobre... mim... é verdade? - questionei.
Mesmo sem conseguir respirar, não podia deixar para outra hora.
- Claro que sim... cada palavra... foi verdadeira - respondeu.
Permanecemos assim por mais alguns segundos, ainda tentando nos recuperar. Sentia que devia confiar nele. Se pensasse bem, era o único que nunca tinha me machucado diretamente. Por mais que observar e rir fosse horrível, ele não parecia ser uma pessoa má.
- O Brendon vai... te matar... sabe?
- Ah, sim. Com certeza.
- Pelo menos... não vai estar... sozinho nessa.
- Como assim?
Sorri, finalmente me aproximando dele. Era estranho vê-lo com um olhar tão diferenciado.
- Tem um namorado... para te ajudar com isso.
- Namorado? - deu um sorriso incrédulo.
Ah, aquilo era de verdade. Podia ver no seu olhar.
- Claro.
- Uau... nem parece que há uma hora atrás você me odiava.
- Nem parece que há uma hora você estava no grupo de garotos que me batiam.
- Justo. E me desculpe por tudo aquilo. Fui completo idiota. E prometo que jamais, jamais, em toda minha vida, irei chegar perto de te machucar. Te dou minha promessa.
Aproximei-me mais dele.
- Sabe, tem situações específicas, bem específicas mesmo, em que machucar não é tão ruim assim.
- O que...?
Ele finalmente pareceu entender, arregalando os olhos e ficando totalmente corado.
- Calma, é brincadeira... ou não. Um dia você descobre. Adeus, Pete.
Depositei um beijo em sua bochecha e saí, ainda rindo da sua expressão.
Enquanto me afastava, me virei e vi que permanecia da mesma maneira. Acho que ter um namorado seria bem divertido.

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