Folga ●Peterick●

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Aviso: ataque de pânico/ansiedade, vômito, menção a suicídio.

- Patrick!
Pete cutucou a bochecha do outro com o indicador.
- Agora não... - respondeu, empurrando sua mão para longe.
Suspirou e se jogou de volta no sofá.
Tédio. A única palavra que poderia defini-lo naquele momento.
Olhou suas redes sociais durante alguns minutos. Não tinha nada de interessante. Eram os mesmos tweets e as mesmas pessoas postando foto de suas vidas perfeitas. Todas mentiras. Jogou seu celular na superfície macia e grunhiu.
Observou seu marido com atenção. Ficava tão lindo quando estava concentrado. Por mais que estivesse irritado por ter que vê-lo trabalhar em seu dia de folga, adorava tê-lo por perto. Sabia o quão importante era aquele trabalho. Sempre sonhara em fazer trilhas sonoras para filmes. Era a primeira vez que estava criando para um filme grande, que iria estrear em escala internacional. Era uma grande responsabilidade. Sabia o quão estressado estava com tudo aquilo.
Mas, ei, ninguém podia culpa-lo por desejar um tempo com seu marido. E não há nada melhor para tirar o estresse do que uma tarde com seu parceiro.
- Paaaaaatrick! - grunhiu.
Estava prestes a agir como uma criança muito malcriada e se jogar no chão para ganhar atenção, porém, pensou por alguns segundos até decidir que não queria causar uma briga naquele dia especial.
- Só mais alguns minutinhos, meu amor.
Suspirou, na tentativa de conter a sensação de choro que começava a surgir. Ele se sentia um babaca por estar chateado com aquela situação, contudo, não podia evitar. Sentia tanto a falta dele que era como se seu corpo fosse explodir sem a sua presença.
Estava cansado de ficar parado ali, vendo-o dar atenção a milhares de pessoas, exceto ele. Teoricamente, era o dia de folga de ambos. Ele tinha passado a semana inteira esperando por aquela data, quando simplesmente não tivesse que se preocupar com nada. Estava mais do que decepcionado. Parecia que tinha pisado em todas suas esperanças sem dó.
- É que... esse era nosso dia livre. Eu queria tanto estar contigo. Pensei que você poderia fazer aquelas panquecas que amamos no café da manhã, depois faríamos um piquenique. À noite, poderíamos fazer um jantar e tomar um vinho, ou uma cerveja barata, ou até mesmo água de torneira, se você desejasse. Então, assistiríamos a um filme romântico ruim. Nós dois juntos. Sem trabalho, sem preocupações, sem nada. Amanhã, vou voltar para a DCD2 e continuar minha vida chata, por isso só queria um dia com meu marido. Eu... me desculpe, Patrick. Não vou mais te atrapalhar.
Ele o encarou com um olhar assustado e parecia prestes a falar alguma coisa, mas o seu celular começou a tocar, fazendo com que desviasse a atenção.
Pete se levantou e foi para o quarto. Sentia-se completamente inútil, carente, desesperado e um babaca, por estar implicando com o sonho da vida dele. Mas ele tinha o direito de sentir falta de Patrick. Fazia semanas desde que havíamos realmente estado juntos, sem o trabalho atrapalhando-o. Nem conseguia se lembrar da última vez que haviam se beijado de verdade, sem ser aquele selinho estranho que recebia quando estava distraído demais para prestar atenção onde seus lábios estavam.
Ele pegou o celular e abriu o primeiro aplicativo que apareceu, TikTok. Tinha alguns vídeos engraçados que o fizeram soltar um riso fraco, entretanto, quando qualquer casal aparecia na tela, surgia uma vontade enorme de chorar. Tentava dizer a si mesmo que não era do tipo desesperado, mas não surgia efeito. Sabia que estava desesperado por qualquer mínima coisa que o outro pudesse oferecer. Ficaria feliz se apenas olhasse em seus olhos verdadeiramente.
Desde que se conheceram, há quinze anos, sabia do quanto desejava se tornar um músico para escrever trilhas sonoras. Acompanhou cada passo dele naquela jornada para fazer parte de um filme que impactasse a vida de milhares de pessoas. Agora, tinha a chance perfeita para realizar seu sonho de infância e estava sendo incomodado pelo esposo irritante e carente.
Irritado e triste, jogou o aparelho telefônico sobre o colchão, caminhou até o armário, retirou um moletom vermelho e abraçou com força. Tinha sido dele, antes de se conhecerem, mas o ruivo havia furtado uma noite em que dormiu na sua casa. Desde então, têm sido a sua roupa de dormir nos dias frios. Possuía o cheiro e a sensação quente do abraço dele, portanto, o moreno vestiu e voltou a se deitar, dessa vez, com o travesseiro contra o corpo, na esperança de afastar a sensação de solidão.
Sentia-se, novamente, como um adolescente estúpido que não tinha a atenção do garoto por quem era apaixonado. Sentira-se assim inúmeras vezes em sua adolescência, devido ao longo histórico de paixões por caras hétero que acumulara. Só que doía muito mais agora que amava Patrick. Não era como essas paixonites que esqueceria em duas semanas. Era quem ele acreditava ser a pessoa certa para passar o resto da vida ao seu lado. Quem ele sempre sonhou em ter.
Assim, pegou no sono de tanto chorar, só percebendo o que ocorrera ao acordar com o corpo inteiro dolorido pela posição desconfortável. Seus olhos coçavam por causa das lágrimas, da mesma forma que sua garganta parecia ter sido arranhada por milhares de facas. Talvez ela tivesse sido destruída pelas palavras que não ousou pronunciar.
Decidiu acabar com aquela situação desconfortável e aceitar o fato de que não poderia tê-lo o tempo todo. Ou em qualquer momento.
Eles tinham a vida inteira pela frente, uma semana a mais sem ele não iria matá-lo. Porém, seu coração poderia se quebrar se soubesse que estava magoando, então, decidiu se desculpar.
O problema foi que não o encontrou em lugar algum da casa. Nem no escritório, cozinha ou banheiros. Quanto mais procurava, mais o desespero parecia tomar conta de suas ações.
Pegou seu celular para ligar, mas estava descarregado por ter ficado ligado enquanto dormia. Nada parecia adiantar.
Quando terminou de buscá-lo em todos os cantos, sentou no chão do quarto totalmente desolado. Sua mente trabalhava com milhares de possibilidades, no entanto, uma estava clara: Patrick o havia abandonado.
Era sua culpa. Não deveria ter dito aquelas coisas, exigido tanto. Não deveria ter sido o babaca que atrapalhou seus sonhos. Ele simplesmente não deveria ter sido ele.
O cara problemático e carente que sempre foi.
Não conseguia mais respirar, era como se tivessem duas toneladas sobre o seu peito, podia vê-lo se movimentar rapidamente enquanto tentava, em vão, respirar normalmente.
Suas mãos começaram a tremer. E, não importava o quanto cerrasse seus punhos em uma tentativa de se conter, os tremores pareciam cada vez mais fortes.
Sentia vontade de gritar, mas estava totalmente sem voz. Sua garganta parecia ter sido lacrada, de modo que nem o ar conseguia passar direito.
As lágrimas quentes já não eram tão importantes, o colapso de seu corpo parecia a questão principal. Sabia que seria questão de segundos até que vomitasse tudo que comeu no café da manhã.
Quando pensou nisso, acidentalmente, repassou o dia inteiro em sua mente, causando mais desespero. Repetiu cada palavra enquanto se culpava por sua própria ruína.
Ele era a razão de Patrick ter se magoado.
Ele era a razão pela qual Patrick foi embora.
Ele era o responsável por destruir os sonhos de Patrick.
Ele tinha um péssimo marido para Patrick.
Ele merecia aquilo. Merecia ser deixado sozinho.
Tentou conter os pensamentos ruins da maneira mais instintiva - e destrutiva - que conseguiu, dando socos em seu próprio corpo. Sabia que não deveria estar fazendo aquilo, tinha plena consciência do quanto deveria evitar aquele tipo de ação. Anos de terapia haviam ensinado algumas coisas. Mesmo assim, não conseguia pensar em nada além do quanto deveria se punir por tudo que causara.
Logo, teve de correr ao banheiro para expelir os restos da refeição de horas antes. Odiava a sensação de seu corpo se contorcendo para realizar aquele movimento doloroso. Seu estômago doía e já não tinha mais forças. Queria parar de chorar, voltar a respirar e impedir que seu coração batesse tão rápido. Sentia como se fosse morrer.
Por mais que estivesse acostumado com esse sentimento, era sempre horrível. Era pior quando acordava no meio da noite, sem nem saber de onde vieram aquelas crises. Pelo menos nessas horas, tinha alguém ao seu lado para que se acalmasse. Agora estava sozinho.
Depois do que pareceram horas, decidiu tentar tomar um banho, na tentativa de se acalmar. Apesar de nunca usar a banheira, pensou que seria uma ótima hora para enchê-la. Poderia deixar que a água sugasse todos seus pensamentos ruins.
Ou talvez sugar sua vida.
No entanto, aquele ato causou infelizes lembranças de estar com o ruivo quando compraram a casa, tomando banhos juntos pela primeira vez em um lugar que era realmente deles, pelo qual batalharam por anos para poder chamar de seu lar.
Isso antes de Pete ser um babaca egoísta e acabar com tudo.
Tentava de tudo para impedir aqueles pensamentos, porém nada parecia funcionar. Não importava o quanto chorasse ou batesse em si mesmo, eles estavam lá para assombrá-lo.
Quando percebeu, estava jogado no chão, com as mãos sobre os ouvidos, em uma tentativa desesperada de parar de pensar. Seus joelhos doíam, assim como suas costas, devido a posição em que se encontrava.
- Pete!
Era quase como se conseguisse ouvir uma voz distante, tão longe que parecia gritar do alto de uma montanha.
- Pete! Estou aqui. Olhe para mim, por favor.
Lentamente, levantou a cabeça, encontrando o olhar preocupado de Patrick. Tentou falar alguma coisa, mas não conseguia. Tudo que escapava de seus lábios eram soluços sufocados pela falta de ar.
Não era possível que estivesse ali, afinal, tinha ido embora, deixado-o sozinho. Talvez tivesse voltado para buscar alguma coisa, era a única possibilidade.
- Tente respirar comigo. Inspira... expira. Junto comigo. Foca na minha respiração, vai ficar tudo bem.
Aos poucos, enquanto se focava em apenas respirar, conseguiu se acalmar. Ainda continuava com a mesma sensação de sufocamento e ânsia, entretanto, conseguiu parar com o desespero intenso.
- O que aconteceu, amor? Quando saí para o mercado, você estava dormindo, por isso não te avisei.
- Espera... você não me deixou? - falou com dificuldade.
Ele fitava o mais baixo com um olhar desesperado, como uma criança com medo de ser punida.
- Claro que não. Céus, eu nunca te deixaria. Por que pensou nisso?
- Porque te magoei falando aquelas coisas.
- Não, claro que não! Estava certo. Estava entregue demais, esqueci o que é realmente importante: você.
- Mas...
Por mais que dissesse aquilo, não conseguia acreditar que não tinha ido embora. Sentia como se merecesse que o outro deixasse-o.
- Vem aqui.
Com cuidado, pegou-o nos braços e o colocou na cama. Não era a primeira vez que estava lidando com aquela situação, contudo, fazia anos que não o via tão mal.
Antes que pudesse continuar a ajudá-lo, escutou um som estranho, parecido com água corrente. Não conseguia identificar a fonte, mas o moreno foi mais rápido em falar:
- A banheira!
Pete observou-o ir até o banheiro, culpando-se ainda mais pelo caos que causara. Era sua culpa. Não deveria ter feito aquilo, sabia que não funcionaria. Mesmo assim, havia insistido, causando mais problemas. Ele ficaria melhor sem a sua presença. Poderia ser livre.
Começou a encarar o armário em que guardava seus remédios. Acabara de comprar um novo pote, tinha certeza que seria suficiente para libertar Patrick do peso que era tê-lo ao seu lado. Talvez não sentisse dor e o deixasse livre para encontrar alguém menos fodido. O mundo seria melhor sem a sua presença. Ele ficaria melhor.
Em poucos segundos, ele voltou. Porém, os piores tipos de pensamento já haviam penetrado em sua mente, seria mais difícil fazê-lo sair desse furacão de vontade de desaparecer.
Rapidamente, percebeu o local onde seu olhar estava fixo. Franzindo a testa, questionou:
- Tomou seus remédios hoje?
Pela maneira que o encarou, percebeu que não era aquilo em que estava pensando. Era pior do que pensara.
Mantendo a calma, caminhou até seu lado, segurou em suas mãos e fitou seus olhos profundamente. Podia ver claramente o desespero expresso em cada lágrima que escorria por sua bochecha.
- Quer falar comigo sobre o que está acontecendo?
Enquanto esperava por uma resposta, começou a inspecionar seu corpo, encontrando os hematomas que buscava, espalhados por seu pulso e antebraço, além de alguns em seu rosto. Conhecia cada passo que faria durante aquelas crises, sentia-se um idiota por não poder tê-lo impedido antes.
- Está doendo? Podemos cuidar disso - tocou delicadamente em uma mancha vermelha que começava a se tornar roxa.
Negou com a cabeça, obviamente negando os cuidados por se sentir culpado.
- Por favor, me desculpa, não deveria ter agido daquela maneira. Hoje era nosso dia. Estraguei tudo.
- Patrick, não! - ele o soltou e abraçou o próprio corpo - Eu que preciso me desculpar. Só faço merda. Primeiro, disse aquelas coisas horríveis. Depois, fiz você ter que me acalmar e a banheira... e isso - apontou para os roxos -, eu só causo problemas. Você estaria bem melhor sem a minha presença. Seria melhor se tivesse ido embora. Sou desprezível, inútil, carente e a porra de uma bagunça. Você é um anjo, não merece ter que conviver com alguém como eu.
Estava extremamente preocupado. Fazia muitos anos que não ficava mal daquela maneira. Felizmente, sabia exatamente o que fazer. Naquele momento, suas palavras de carinho não funcionariam. Precisava ser mais duro para que pudesse quebrar aquele ciclo de autodestruição.
- Venha!
- O quê? - questionou, vendo-o ficar em pé.
- Venha, ou vou ser obrigado a te levantar.
Sem entender, seguiu-o até a garagem. Ficou ainda mais confuso quando entrou no carro.
- Para onde estamos indo?
- Vai descobrir.
Estava funcionando exatamente como previsto, agora tinha outra coisa para pensar. Mesmo que continuasse mal, parecia se acalmar enquanto tentava desvendar o caminho.
Subitamente, estacionou em um dos locais na frente do Lago Michigan.
- O que estamos fazendo aqui?
Saiu do veículo sem dizer nada, obrigando o outro a segui-lo. O clima estava frio devido a um vento que soprava levemente. Mesmo assim, o Sol ainda os aquecia um pouco.
- Não se lembra desse lugar, Peter?
- Como poderia esquecer? - adquiriu um tom melancólico - Foi onde demos nosso primeiro beijo.
- Pensei que se o trouxesse aqui, lembraria do porquê estamos juntos há mais de dez anos. Lembraria o porquê nos apaixonamos.
- A única coisa em que consigo pensar é desejar que queria que aquele dia nunca tivesse acontecido. Eu só te fiz mal, causei problemas. Se nunca tivéssemos nos beijado, talvez estivesse livre. Você é mais novo, mais bonito, mais legal e mais talentoso que eu. Com certeza, encontraria alguém no seu nível. Poderia sair todas as noites e curtir. Não estaria preso a um cara frágil de quarenta anos de idade.
- Você está certo. Poderia sair todas as noites, com um cara da minha idade, beber, ir para baladas, ou sei lá o quê. Mas seria infeliz. Porque não teria o amor da minha vida. Não teria você. Estaria sozinho no fim do dia, sem seus beijos ou abraços. Sem o seu amor. E não seria capaz de sobreviver sem isso. Não há nada no mundo que deseje mais do que ti. Sei que fui um idiota, fiquei focado no meu trabalho e esqueci totalmente da sua existência, o que foi o maior erro que já cometi.
Segurou seu rosto e encarou os olhos esverdeados que brilhavam com as lágrimas cristalinas.
- Por isso, decidi tirar uns dias de folga. Sei que a estreia é daqui algumas semanas, mas não importa. Cuidar do homem que amo é a coisa mais importante do mundo. Sei que não está bem e quero fazer com que fique. Vi a maneira como olhou para os remédios, jamais me perdoaria se fizesse algo. Quer saber a razão? É porque eu te amo e a melhor coisa que fiz foi te beijar. Quando nos conhecemos, você não pensou em mim como alguém com quem se relacionaria. Eu era ingênuo e sem noção, arrogante demais para esconder minha insegurança idiota. Você era experiente e confiante de verdade. Era meu ídolo pessoal, em quem eu me inspirava. Por muito tempo, me senti culpado por te desejar. Sabia que nunca teria algo comigo, você era tipo um deus aos meus olhos. Naquela noite, quando te ajudei com uma crise, percebi que era besteira te idolatrar daquela maneira. É humano, assim como eu. Então, me permiti sentir tudo por ti. Permiti me apaixonar de verdade. Não me apaixonei por ti sem saber que tinha seus próprios problemas. Eu me apaixonei por quem você é, Pete. Sempre soube que teria que te ajudar em momentos como esse, que passaria noites acordado e que... poderia te perder. Nada importa, além do medo de acordar um dia e descobrir que esses pensamentos te levaram para longe de mim. Então, entenda, eu jamais te deixarei por qualquer uma dessas coisas. Vou te ajudar e tentar fazer o meu máximo para que fique bem. Sei que não é sua culpa e não pode evitar ter esses pensamentos, jamais te culparei. Mas... espero que isso possa te lembrar a razão pela qual estava juntos.
Lentamente, beijou-o. Não era um dos selinhos distraídos da última semana, era longo e carinhoso. Queria sentir novamente as mesmas coisas que sentiram na noite em que estiveram juntos pela primeira vez. A paixão, a descoberta. Cada dia tornavam-se novas pessoas, porém, não podiam esquecer do quanto se amavam.
- Funcionou? - sorriu - Lembrou do porquê te amo tanto, Pete?
O moreno deu um sorriso tímido, o que era um avanço.
- Se disser que não, posso receber outro desse?
Ele o abraçou fortemente, como uma promessa silenciosa de que não o deixaria ir.
- Me perdoe por tudo.
- Ei, ei, não preciso perdoar nada. Não aconteceu nada de errado. Está tudo bem, ok?
- Eu... te amo.
- Também te amo, Pete. Você está preso a mim, não importa o quanto tente fugir - riu.
- Não quero fugir.
- Que bom porque não vou a lugar algum. Nunca.
- Nunca...

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