Professor ●Peterick● Parte 1

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Estava totalmente perdido nos olhos azuis esverdeados que examinaram cada parte do seu rosto com extrema atenção. Sentia-se como uma obra de arte sendo examinada por um crítico. Aquilo, no entanto, não o deixava intimidado porque conseguia sentir a ternura transmitida por suas íris brilhantes.

Por estar concentrado demais na visão divina a sua frente, não percebeu a mão que se estendeu até sua face, apenas sentiu o calor se espalhar por sua bochecha. Fazia movimentos lentos e carinhosos, envolvendo-o ainda mais na aura de paixão que os cercava.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, ele colou suas bocas. Passou os primeiros segundos sem pensar em nada além de sorver o gosto dos lábios perfeitos do outro.

Fazia anos que não se sentia daquela maneira com alguém, estava completamente entregue ao toque dele. Podia sentir o efeito do beijo se espalhando como ondas de eletricidade e decidiu ir mais longe, puxando-o para cima de si. Quando os separou para que pudesse observá-lo melhor, sentiu seu corpo estremecer com a visão.

Então, abriu os olhos.

Estava deitado em sua cama na completa escuridão, tinha chutado todos os lençóis para fora do colchão e seu coração estava acelerado. Quando finalmente raciocinou o que estava acontecendo, a dura realidade atingiu-o como um soco.

Estava sonhando em beijar um professor de pré-escola.

Estava sonhando em beijar o professor da sua filha.

Rolou para o lado, pegou seu celular e conferiu o horário. Quando percebeu que se tratava de pouco mais de quatro da manhã, grunhiu em desaprovação. Sabia que não conseguiria pegar no sono sem ser consumido pela culpa de ter pensado no homem daquele jeito. Conhecia aquele sentimento, havia lidado com ele algumas vezes durante seus quarenta anos de vida.

Uma delas, inclusive, tinha sido uma de suas grandes decepções amorosas e relacionamento mais duradouro. A mãe de sua filha. Eles tinham se conhecido na faculdade e estavam profundamente apaixonados. Isso até o nascimento de MJ, quando ela começou a mudar ao ponto de não se reconhecerem mais. Um dia, simplesmente não voltou para casa. Deixou um bilhete junto aos papéis de divórcio dizendo que não estava pronta para criar uma criança e não poderia decepcioná-lo. Desde então, cuidava dela sozinho.

Mas aquele não era o momento de pensar naquilo. Apesar de sua ex-esposa ser uma maneira perfeita de não pensar no cara que, literalmente, não saía dos seus sonhos, tinham outros jeitos de focar. Como, por exemplo, tomar um banho. Ainda tinha três horas até a hora de acordar a menina, portanto, poderia levar o tempo que quisesse.

Desejou que água lavasse aqueles pensamentos e a sensação de culpa embora. Desejar, no entanto, não era suficiente e os pensamentos pioravam a cada segundo.

Havia tido dois namorados na época do ensino médio, porém, todos conseguiram convencê-lo de que era somente uma fase. Agora, estava certo que estavam errados. Estava caidinho por Patrick em todos os níveis possíveis.

- Ugh, por que sou assim? Porque não poderia ter uma paixão comum?

Encostou sua cabeça na parede fria de azulejos.

- Eu me sinto como um adolescente novamente, sonhando com garotos, sofrendo com paixões... e agora estou falando sozinho.

Depois de alguns minutos, saiu do box, parou em frente ao espelho e analisou seu reflexo. Os longos cabelos morenos escorriam até seus ombros, um dos traços que mais apreciava em si mesmo. Na realidade, não conseguia passar mais do que alguns meses com o mesmo corte, não depois que passou anos sem mudar absolutamente nada.

Enquanto fitava sua imagem, começou a se perguntar o que Patrick achava dele. Geralmente, evitava deixar que as inseguranças tomassem conta de sua mente, porém, não podia deixar de se perguntar se o acharia atraente o suficiente.

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