Pais ● Peterick ●

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Eu estava exausto. Extremamente exausto. Aquelas crianças estavam me deixando louco. Tinha certeza que havia perdido parte de minha audição devido a tantos gritos.
Uma pequena parte de mim estava aliviada que Saint fosse finalmente entrar na escola e poderia estar livre de ter que cuidar de todos seus amiguinhos do bairro. Bem, a verdade era que provavelmente teria que começar a aturar seus colegas da escola. Minha vida parecia não ficar mais fácil.
No entanto, a outra parte de mim não queria deixá-lo ir. Tinha apenas quatro anos, não sabia se virar no mundo. Talvez estivesse sendo um pouco dramático, ele estava só indo para a escolinha, não para a guerra.
Por mais cansado que ficasse ao final daqueles longos dias em que brincavam em minha casa, tudo compensava ao ver os sorrisos em seus rostos infantis.
Os piores dias eram os em que perguntava da sua mãe. Queria entender o porquê de não ser como as outras crianças e ter uma mamãe para cuidar dele. Foi difícil explicar que ela estava morando junto as estrelas agora, mas acho que entendeu. Perguntou para mim se não podia arrumar uma nova mamãe para ele. Aquilo me fazia sofrer, sabia que não era por mal. Realmente gostava daquela mulher, foi uma dor enorme vê-la partir no nascimento de nosso primeiro filho. Até tentei namorar depois, só que nunca achei a pessoa certa.
No primeiro dia de aula, ele perguntou novamente, com os olhinhos esperançosos, ao ver pais e mães levando seus coleguinhas até a sala.
- Eu vou ter outra mamãe?
- Meu amor, não sei. Ninguém pode saber o que vai acontecer. E nem todas as crianças tem um pai e uma mãe.
- Sério?!
- Algumas só tem um pai ou uma mãe. Outras que só tem o vovô ou a vovó. E algumas... tem dois pais e outras têm duas mães.
Ele me encarou um pouco confuso, logo falando:
- Mas eu posso ter uma mamãe?
Sorri, abraçando-o com força.
- Não sei o que vai acontecer, ok? Você não precisa pensar nisso hoje, só vá lá e estude bastante, faça novos amigos. Depois me conte tudo.
- Tchau, papai.
- Te amo, filho.
Depositei um beijo em sua testa e observei enquanto se afastava. Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Estava com um misto de orgulho, felicidade e tristeza. Ele estava crescendo tão rápido e era tão inteligente. Quando me desse conta, já estaria um rapaz. Ah, sofria por antecedência ao pensar no meu filho longe de mim.
- Difícil, né? Ver eles indo embora - alguém falou do meu lado, quase me matando de susto.
Virei-me, fitando o homem que sorria em minha direção. Foi como se naquele instante meu cérebro tivesse derretido. A última vez que me senti assim fora com a mãe de Saint.
- Sou o Patrick - estendeu a mão.
- Pete.
Observei-o com atenção. Era realmente lindo. E fofo. Parecia alguém que seria muito bom para dormir abraçado à noite. Whoah, eu conheci o cara há dez segundos e já estava começando a planejar nossa vida juntos.
- É difícil vê-los partindo assim. Mesmo que seja para algo tão simples.
O sorriso dele era com certeza uma das coisas mais lindas que já vira em toda minha vida.
- Estava aqui pensando em como vai ser daqui a alguns anos, o desespero já bateu. Eles crescem tão rápido.
Observei Saint brincando com um garoto loiro. Eles pegaram uns violões de plástico e um daqueles teclados que fazia um som estranho e começaram a fingir que estavam tocando.
- Aquele é o meu filho, Declan.
- Oh, parece que ele está brincando com o meu, Saint.
- Ah, eles são muito fofos. Crianças são fofas. Tem exceções, claro. Algumas são muito irritantes para se achar fofas.
- Tem alguns adultos que são fofos também. Tipo você.
Merda, por que eu disse aquilo? Ele provavelmente iria me odiar, talvez quisesse me bater. Ou nunca mais deixasse nossos filhos se aproximarem e teria destruído a primeira amizade deles na escola.
Felizmente, ele apenas sorriu mais ainda e falou:
- Posso dizer o mesmo de ti.
Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar.
Então, percebi que havia passado muito tempo ali e se não corresse chegaria atrasado no trabalho.
- Eu preciso ir, me desculpe - falei, olhando para o relógio.
- Até mais, Pete.
- Até, Patrick.
Distanciei-me dele sem desviar o olhar. Cara, ele era tão lindo que me deixava sem ar. Fazia tanto tempo que não me sentia assim...
Esperava que pudéssemos conversar mais. Realmente esperava.

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