Hospital ●Peterick●

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Patrick me encarava com um misto de preocupação e ódio mortal. Bem, com certeza não era a primeira vez que ficava assim comigo. Primeiro, fitava meu pé, seu rosto se tornando completa preocupação. Então, se voltava para meu rosto. Aí estava o ódio. Tentei dar um pequeno sorriso, e lá se foi toda a preocupação. Definitivamente ele queria me socar. Não que já não tivesse feito aquilo muitas vezes. Porém, naquele momento sabia que provavelmente não chegaria a esse ponto.
- Por que caralhos fez isso?
É, ele estava puto.
- Eu sempre faço isso.
- Não dessa altura!
- Nem deve ter quebrado.
Ambos sabíamos que era uma grande mentira. Tinha certeza que meu pé não deveria estar naquele ângulo.
- Eu vou te matar, Peter.
- Os paramédicos estão a caminho, galera - Joe anunciou, salvando minha pele - Você tá legal?
- Na medida do possível.
Logo os homens chegaram e fui levado - em grande estilo, digamos - para o hospital. Estar dentro de uma ambulância não foi tão legal quanto havia imaginado. Sentia-me sufocado. Só queria sair dali o mais rápido possível.
No entanto, uma parte minha não queria chegar ao hospital. Pois sabia que teria que enfrentar algumas coisas. E por algumas coisas quero dizer, Patrick Stumph. Era uma droga ter um melhor amigo tão cuidadoso e irritado daquele jeito. Como esperado, quando saí dos exames e fui para um quarto, esperar o diagnóstico oficial, ele me achou.
Andy e Joe tiveram que ir comer, mas não aceitou sair dali antes de falar comigo.
- Oi... - tentei começar.
- Como você está?
Sem gritos. Ótimo até agora.
- Bem. Apenas pensando em quantos milhões de cópias vamos ter que vender para pagar esse hospital.
Ele riu levemente. Se tivesse sido há dois anos estaríamos tão fodidos que seria impossível sair dessa.
- Já está com uma tala improvisada, mas agora precisam ter certeza que quebrou ou vai precisar de cirurgia.
- Se tiver que fazer uma cirurgia, juro que te mato.
- Me desculpe.
Aproximou-se, colocando sua mão sobre a minha.
- Não tem problema. Só estou preocupado contigo.
Então, a realidade me atingiu. Não, ela me bateu, me espancou, me atropelou como um caminhão de cimento. Fitar aqueles olhos azuis perfeitos era tudo que mais poderia querer no mundo. Estava bem feliz com a nossa amizade. Porém, naquele instante, o mundo real me socou da mesma maneira que um lutador soca um saco de pancadas. Não o queria como meu amigo. Queria mais. Muito mais. Queria encarar aqueles olhos de tão perto que nossos rostos ficariam colados e nossos lábios selados. Queria um relacionamento. Queria deitar ao seu lado e deixar que se preocupasse comigo. Queria tocá-lo, em mais de uma maneira. Queria beijar Patrick. Queria segurar sua mão. Queria levá-lo em um encontro.
Por que a realidade tinha que ser tão fodidamente esmagadora?
- Pare de me encarar como se estivesse vendo um fantasma. Está tudo bem?
Eu não sabia a resposta. Não fazia a menor ideia. Ele me odiaria.
- Sim.
- Tem certeza que não está com dor? Posso chamar um médico, se quiser.
- Não! Fique aqui! - segurei sua mão com força.
Ele olhou para o ponto em que nossos dedos se entrelaçaram. Mesmo que fosse uma pessoa um pouco carente demais, geralmente não me comportava daquele jeito. Ele sabia que tinha algo a mais.
- O que...? Você tem alguma coisa a me dizer, Pete?
- Não, eu...
- Você não precisa estar assustado, provavelmente não foi muito sério.
- Não é isso, Tricky. É que... percebi uma coisa que não gostaria de ter notado.
- Que é um idiota? Disso todos já sabiam.
O jeito que ele riu... eu era um idiota por não ter percebido antes o quanto amava aquele som.
- Queria que fosse isso...
- Estou começando a ficar preocupado, Peter. Sabe que pode confiar em mim, não sabe?
- Claro que sei. Mas realmente acho melhor não contar.
- O que pode ser tão ruim a ponto de não poder falar?
- Deuses, Patrick, depois não diga que não avisei.
Ele me fitou com os olhos cheios de expectativa pela última vez. No segundo que confessasse, tinha certeza que jamais olharia para mim novamente.
- A questão é que... eu quero a sua presença. Mais do que temos hoje.
- Você quer que eu passei mais tempo contigo? Nós passamos o dia inteiro juntos.
- Não, o que quero dizer que é.... quero segurar sua mão. E te beijar. Muito. Faz tempo que finjo que para mim mesmo que não sinto isso. Você é uma das pessoas mais maravilhosas conheço e meu melhor amigo. Mas eu não posso beijar meu melhor amigo. Quer dizer, eu poderia, mas... você deixaria de ser apenas isso.
- Pete, sempre achei que fôssemos quase como irmãos.
- Me perdoe, não deveria ter falado nada. Está certo. É melhor esquecer disso.
Tentei me mover na cama, porém, parei ao sentir uma dor aguda no pé, contorcendo meu rosto em uma expressão de dor.
- Seu idiota, não se mexa - aquelas palavras normalmente saíram em um tom de brincadeira, mascarando sua preocupação. Porém, elas só pareceram... tristes.
Ele me olhava como se eu estivesse prestes a morrer, a dor em sua face era evidente. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um enfermeiro entrou no quarto e me chamou para mais exames.
- Vou comer alguma coisa e logo volto. Se não estiver aqui quando voltar é porque fui para o hotel tomar um banho e me trocar.
- Tudo bem.
Ambos sabíamos que aquela não era razão para sumir daquele jeito. Eu era a razão. A minha boca grande e meus sentimentos estúpidos.
- Pronto? - o rapaz perguntou e assenti.
O caminho até a sala de exames pareceu durar uma eternidade. Tudo que passava na minha mente era como tinha arruinado tudo com Patrick. Ele jamais iria falar comigo novamente. Céus, eu era tão idiota. Devia ter esperado aquele sentimento passar. Agora nunca mais seríamos os mesmos. Estava tudo arruinado. E a culpa era minha.

→✩←

Quando acordei, horas depois, Patrick estava parado no pé da minha cama.
Parecia me observar com uma expressão preocupada.
- Está melhor? - perguntou.
"Meu pé? Sim. Meu coração? Definitivamente não" foi o que pensei.
- Sim, acho que esses remédios realmente funcionam. Como você está?
Ficou em silêncio, fitando o chão branco com a expressão que fazia sempre que estava prestes a dizer algo importante.
- Pensei sobre a nossa conversa de ontem.
- Queria me desculpar por aquilo...
- Não, Pete. Por favor.
Respirou fundo, aproximando-se antes de proferir as próximas palavras.
- Quero tentar. Vamos com calma, não estou pronto para um relacionamento. Mas... podemos sair algumas vezes, descobrir se isso funciona e... tentar.
- Eu vou adorar.
Ele se aproximou e segurou minha mão. Aquilo me causou um sentimento diferente. Não era como o contato que tinham normalmente, era o começo de algo mais intenso. Era ali em que suas vidas começariam a mudar.
- E além disso, sempre te achei bonitinho. E já te vi sem roupa então... posso confirmar que dá para o gasto.
- Dá para o gasto? Esse tanquinho aqui?
Ele riu, do jeito fofo que fazia.
- Você sempre foi mais bonito, Patrick. E, bem, já te vi sem roupa, então, posso confirmar que você é muito mais que "dá para o gasto".
Ficou totalmente corado, desviando o rosto na direção da parede.
- Bem, será que isso já conta como nosso primeiro encontro?
Revirou os olhos, com seu olhar que me chamava de idiota.
- Quando nós tivermos nosso encontro de verdade, tente não quebrar seu pé.
Era impossível alguém sorrir mais que eu naquele momento.
- É... posso tentar por você. Se me prometer que vamos tomar sorvete.
- Combinado... idiota.

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