Cozinha ●Peterick●

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Eu estava extremamente ansioso. Era um dia muito importante. Meu primeiro aniversário de casamento. No trabalho, meus colegas disseram que estava radiante. A caminho de casa, não cansava de gritar as músicas no carro.
Porém, quando adentrei em nossa pequena casa, encontrei algo que definitivamente não gostaria de ter encontrado. Ou melhor, não encontrei.
- Patrick? - falei, dando passos leves.
Tinha planejado a noite perfeita. Iríamos sair para jantar e depois voltar para casa e tomar uma bela garrafa de vinho.
- Amor?
Um som vindo do quarto me fez correr na direção.
- Pete! - ele disse, deitado na cama com o rosto extremamente pálido.
- Amor, o que aconteceu?
Sentei ao seu lado, percebendo como estava quente.
- Oh... deve estar com febre.
- Eu... não sei... comecei a me sentir mal, então...
- Ei, está tudo bem - segurei-o antes que começasse a chorar.
- Sei quão especial era essa noite para você... estraguei tudo. Me de-desculpe.
- Você é mais importante do que qualquer noite idiota. Não seria especial se não tivesse sua presença. Minha prioridade é cuidar de ti.
- Mas...
- Quietinho, vou buscar um termômetro.
Não ousou retrucar e saí em busca do objeto. Nós tínhamos um daqueles? Não fazia ideia. Procurei na caixa de medicamentos e, felizmente, encontrei. Com certeza, havia sido meu marido que tinha colocado ali.
Voltei e coloquei o aparelho nele, enquanto esperava, acariciei seus cabelos. Ele era lindo. A cada dia me apaixonava mais por aquele homem. Podia passar horas perdido na imensidão azul de seus olhos.
- Para de me encarar, é estranho.
Sorri.
- Não posso nem mais admirar a beleza do amor da minha vida?
- Tá, eu deixo.
Finalmente o aparelho anunciou o fim e retirei.
- Você está queimando.
- Não é muito importante.
- Deus, Patrick, você precisa se cuidar. Ou melhor, eu preciso cuidar de ti. Tome um banho enquanto faço uma sopa.
- Não é melhor comprar?
- Inferno, deixa eu te mimar!
Suspirou, finalmente cedendo.
Depositei um beijo em sua testa e caminhei até a saída do quarto, no entanto, parei antes de sair totalmente.
- Nós temos ingredientes, certo?
- Sim, Pete - sorriu.
- Ok, ótimo.
Geralmente era ele quem cozinhava. Seus horários flexíveis, habilidades culinárias e paixão por aquilo, faziam com que eu me tornasse completamente inútil naquele quesito.
Peguei uma receita na internet e li cuidadosamente cada passo. Se estivesse em outra língua, teria sido a mesma coisa, afinal, não entendi uma palavra sequer. Porém, não poderia desistir. Isso significaria vitória para ele.
Separei cada ingrediente, coloquei sobre o balcão e tentei analisar como se encaixava. Parecia um quebra-cabeças confuso.
- Você consegue, Peter - sussurrei.
Cortar não foi a parte mais difícil. O fogo era. As quantidades. Por que não estava tudo especificado? Estava prestes a surtar. Contudo, parecia estar funcionando. Estava com muito medo de colocar sal demais, então, fui colocando lentamente até atingir o que parecia o ponto certo.
Estava tão concentrado em mexer aquele líquido de aparência estranha que quase não ouvi Patrick:
- Precisa de ajuda, meu amor?
- O que está fazendo aqui? - questionei com uma expressão irritada - Deveria estar descansando.
- Já tomei banho e coloquei um pijama quentinho. Agora vim te ajudar a cozinhar.
- Eu não preciso de ajuda. Preciso que você sente a sua linda bunda no sofá, pegue um cobertor e escolha um filme bem romântico para assistir.
- Tá - revirou os olhos, apesar de continuar sorrindo.
- Vai, vai!
- Não pode parar de mexer! - gritou enquanto se afastava.
Meu braço estava muito quente. Não sabia como conseguiria fazer aquilo. O vapor incomodava minha pele e aquela fase de mexer parecia nunca ter fim.
Quando ficou pronta, ainda fiquei inseguro. Ele era um especialista naquilo. Quando fui colocar em um pote, derrubei uma quantidade considerável, o que me fez perceber a grande sujeira que havia feito. Teria que limpar depois.
Apesar de tudo, fiquei orgulhoso de mim.
- Ei, amor - falei enquanto me aproximava.
Ele estava deitado no sofá, meio adormecido. Seu rosto continuava pálido, porém, a febre tinha abaixado.
Ele pegou o pote nas mãos e sorriu.
- O cheiro está bom.
- Isso não significa nada. Prove.
Depois de assoprar algumas vezes, levou para a boca.
- Isso é tipo muito bom. Você deveria cozinhar mais vezes.
- Se eu cozinhar significa que estará doente, não quero cozinhar nunca - passei a mão em seu cabelo.
- O que eu fiz para merecer você?
- Nasceu o cara mais perfeito do mundo.
- Eu te amo.
- Eu também te amo. Mas agora come.
- Posso tomar vinho? Você comprou um só para hoje.
- Não acredito no que estou ouvindo. Está doente. Vai beber água. Vai ter outras oportunidades para o vinho.
Suspirou, mas não retrucou. Tinha a consciência que estava errado.
Assim que terminou de comer, deitou sobre o meu peito e colocou o filme que havia escolhido. Era uma comédia romântica qualquer, não consegui prestar atenção. Minha visão estava totalmente focada na beleza que repousava na minha frente. Estava preocupado. Queria deixá-lo melhor logo. Se pudesse, trocaria de lugar com ele, passaria todas suas dores para mim. No entanto, não podia. Portanto, apenas cuidaria para que não piorasse e pudesse voltar logo a ser meu Patrick de sempre.

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