Halloween ●Peterick●

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Happy Halloween ● Parte 2

Fracasso. Era assim que eu havia me denominado por grande parte da minha vida adulta. Nesse ano não seria diferente, talvez um pouco pior do que o anterior. Agora havia largado a faculdade de direito e voltado a morar com meus pais. Encontrava-me tão perdido na vida que não via saída alguma. Sabia que jamais teria coragem de seguir minha verdadeira paixão, então, provavelmente passaria alguns meses ali até arrumar um emprego e fingir que teria alguma salvação. Mas, por enquanto, passava os dias deprimido demais para sair da cama.
Todos estavam sendo estranhamente compreensivos, sem fazer pressão ou escândalos para que mudasse. Sabia que estavam preocupados comigo, já que minha irmã tivera uma ideia que julgou ser brilhante para me animar: sair com meu sobrinho para buscar doces no Halloween. Precisava confessar que fiquei animado, afinal, era a oportunidade única de gastar horas fazendo uma fantasia boba e ocupar meu dia com isso. Enquanto costurava e colava os pedaços do meu traje de Luke Skywalker, ajudei o resto da família a fazer roupas bem trabalhadas. Trabalhei por horas, mesmo que me dissessem para parar. Tinha sido a primeira vez em muito tempo que me empolgava com algo, não poderia simplesmente deixar para lá. Uma parte minha não queria que aquilo acabasse nunca. Porém, tudo que é bom, um dia acaba. E esse dia chegou.
Passei a tarde inteira dando os últimos retoques em todos, ajudando nas maquiagens, penteados e histórias. Cada detalhe tinha que ficar perfeito.
Meu sobrinho resolveu ir como Frankenstein, o que deu um pouco de trabalho, mas gostei de tornar possível. Minha irmã e meu cunhado estariam a noite inteira em uma festa da empresa dela, então, fiz versões sofisticadas do Conde e da Condessa Drácula. Estavam assustadores e cheios de glamour, ao mesmo tempo. Já meus pais ficariam em casa distribuindo doces, portanto, usavam acessórios simples e muito sangue falso.
Eu sabia que deveria usar algo mais horripilante, mas não poderia desperdiçar aquela oportunidade de carregar um sabre de luz. Além disso, tinha feito a maquiagem como se estivesse de fato morrido congelado e sido devorado, em vez de escapar como no filme.
- Pronto? - os pais perguntaram ao menino, quando terminei de arrumar os detalhes finais de seu look.
- Sim! - gritou com sua voz infantil.
- O tio Pete vai tomar conta de você, tudo bem? Promete se comportar?
- Sim.
- E sem muitos chocolates. Isso serve para os dois - ela me encarou.
- Mas é halloween! - protestei.
- Não posso negar nada a vocês - começou a rir.
- Tome cuidado, maninho.
- Vou trazer seu bebê a salvo.
- Não é só dele que estou falando.
Desviei o olhar, não aguentava aquele ar de pena e preocupação. Sentia-me culpado por gastar o tempo dela com as minhas besteiras.
- Prometo que seus dois bebês vão chegar em casa a salvo - ironizei.
- Agora, vá antes que perca os melhores doces. Vai, vai!
Juntos, saímos da casa, após me despedir de todos. O clima estava agradável naquele dia e combinava com a bela noite. As decorações das casas ajudavam a completar aquele cenário místico e assustador. Havia desde adereços simples até um esqueleto enorme em um jardim. Definitivamente precisava ter um, o único problema era a falta de dinheiro.
Caminhávamos conversando sobre filmes, heróis e animações, todas essas coisas que uma criança de seis anos amava. E um adulto de vinte e oito também.
Fingia que não sabia das coisas apenas para que ficasse realizado ao explicar. Queria dar a ele o que nunca haviam me dado: a oportunidade de falar sobre meus gostos livremente. Desde pequeno, ouvi que era errado gostar tanto de borboletas. Principalmente porque diziam que pensariam que sou gay. Bem, de fato, sou. Então, a proibição não fez com que minha sexualidade magicamente mudasse, apenas causou uma insegurança enorme. Era totalmente sem sentido essa relação, agora percebia. Entretanto, na infância, só acatava o que meus pais diziam. A evolução deles havia sido notável nesses últimos anos, podia ver pela maneira que me tratavam. Mesmo assim, era impossível esquecer os problemas que desenvolvi antes.
O lado bom de estar com o tio legal que age como criança é que eu não iria parar cedo, só voltaríamos para casa quando se tornasse perigoso. Então, continuamos caminhando por muitas casas, até que finalmente decidi que seria melhor voltarmos. Ele implorou para passar em mais uma e, como não consigo negar nada, aceitei.
Animadamente correu e tocou a campainha, enquanto permaneci ao seu lado.
- Doces ou travessuras?
Um rapaz com roupas coloridas abriu a porta e deu um sorriso, antes de começar a procurar em sua sacola alguns doces. Tinha a sensação de que o conhecia de algum lugar, por mais que não costumasse ir naquela rua.
- Prontinho! - então, ele me encarou e estendeu algumas embalagens de chocolate - Quer algumas também? Temos chocolate até demais.
Naquele instante, reconheci. A voz, o olhar e o jeito que sorriu. Era ele. Tinha a sua imagem gravada perfeitamente em minha memória, apesar de tê-lo visto uma vez há exatamente um ano. Não consegui me mover. Parecia alguma pegadinha muito maldosa.
Mas não. Era real.
- Desculpa, nós já nos conhecemos? Tenho a sensação de que você é familiar - franziu a testa.
- Você... - sussurrei, ainda incrédulo - era você no Halloween do ano passado.
- Oh... - arregalou os olhos, parecendo prestes a desmaiar.
- Tio Pete, está tudo bem?
- Claro - fui trazido de volta à realidade - esse é um, uh, amigo meu. Esse é o meu sobrinho... desculpa, não sei seu nome.
O tom dele era uma mistura de tristeza e provocação. Queria deixar claro que não apreciava o fato de ter sumido tão misteriosamente naquela noite. Por meses, cheguei a questionar minha própria sanidade. Aquilo tinha sido tão perfeitamente irreal que parecia mentira. Ele tinha aparecido, vestido da maneira mais bela o possível, me beijado e desaparecido no ar como se nunca houvesse existido. Pelo menos, agora tinha a certeza que existia. E estava na minha frente em uma estranha coincidência.
- É Patrick - sorriu, parecendo totalmente envergonhado.
Ele usava um jaqueta dourada, que combinava com as calças da mesma cor e era decorada por diversas penas brilhantes e coloridas. Isso junto aos óculos de armação branca com lentes vermelhas.
- O que faz aqui? Quando nos vimos estávamos muito longe - comentei.
- Estava visitando a universidade do meu irmão. Não estudo. Sou músico.
- Oh... Isso explica o figurino de Rocketman. Elton John, boa escolha.
Ele sorriu.
- Você é literalmente a primeira pessoa que reconhece.
- Parece que temos um histórico com isso.
- Olha, me desculpe, eu..
- Não precisa fazer isso. Não preciso da sua pena.
- Não é isso que estou tentando...
- Está tudo bem, cara.
Precisava confessar quem nem sequer sabia o porquê de estar com tanta raiva dele. Talvez fosse o fato que tinha mexido totalmente comigo e depois desparecido no ar. Tinha sido especial. Algo que não podia explicar.
- Vamos - falei para o menino.
- Espera - disse, fazendo com que nos virássemos em sua direção - daqui a pouco minha irmã vai dar uma festa e vou ficar sozinho. O que acha de vir aqui para podermos... conversar?
Eu me senti tentado a recusar. Ele já havia feito com que sentisse coisas demais da primeira vez, não queria passar mais tempo ao seu lado para que simplesmente desaparecesse novamente. Mas estaríamos na casa dele, então, seria mais difícil sumir. Além disso, precisava entender o que havia acontecido naquele dia.
- Claro.
Continuamos a nos afastar, sem olhar para trás. Tentei fingir que não estava empolgado com a ideia de estar com ele novamente. Conseguia lembrar exatamente a maneira como me beijara. Jamais esqueci como me fez esquecer de tudo acontecendo ao nosso redor.
Contudo, não havia esquecido de como deixara meu coração quebrado ao sair sem dizer uma palavra sequer. Sempre procurava-o na universidade. Havia percorrido o local inteiro atrás dele. Isso fez com que me sentisse um idiota sentimental. Deveria ter aceitado que tinha sido algo de uma noite, como em todas as outras vezes. Mas foi impossível. Talvez fosse a fantasia, não sabia. Algo nele fez com que se tornasse impossível esquecê-lo.
Estava ansioso para descobrir o que aconteceria ali. Encontrá-lo ali, no meio do nada, exatamente um ano depois do que ocorreu, deixara minha mente confusa. Se acreditasse em destino, diria que tinha sido isso. Era praticamente impossível encontrar alguém duas vezes, ainda mais no mesmo dia. Provavelmente era apenas uma grande coincidência bizarra.
De qualquer jeito, não consegui parar de pensar no que diria quando o visse. Queria tanto perguntar o porquê de ter desaparecido dizer uma palavra sequer, afinal, era uma questão que rondava minha mente há doze meses. Tinha sido minha culpa? Eu era estranho demais para ele? Não sabia beijar bem? Ou ele era o problema? Aquilo sobre 'algumas princesas não são bonitas depois da meia-noite' seria um reflexo da insegurança dele ou uma mentira criada para que não percebesse que eu era a verdadeira razão da sua saída? Eram tantas perguntas, não via a hora de fazê-las.
Mal entrei em casa para deixar meu sobrinho e me preparei para sair, sendo parado por meus pais, que pareciam preocupados e empolgados com a possibilidade de me ver saindo sozinho pela primeira vez em tanto tempo.
- Para onde está indo, querido?
- Eu, uh...
- O moço de roupa engraçada chamou ele para uma festa! - o menino respondeu, fazendo-os arquear as sobrancelhas.
- Um antigo colega de faculdade me chamou para uma festa de halloween. É, um colega de faculdade, isso.
Ela pareceu não estar totalmente convencida, mas sabia que não faria algo irresponsável, então, apenas me disse para tomar cuidado e não voltar muito tarde. Não sabia exatamente a razão, porém, fiquei aliviado que não tentara me impedir. Era totalmente sem sentido que não me deixasse ir, já que tinha praticamente trinta anos de idade. Mesmo assim, estava disposto a pular a janela do quarto se preciso.
As ruas estavam praticamente vazias, só alguns adolescentes transitavam com suas fantasias exageradas e imprudência juvenil. Devia ser bom não ter nada para se preocupar. Não tinham que pensar em faculdade, emprego ou um cara desconhecido que beijaram em uma festa e voltou do nada para assombrar sua vida. Essa última era bem específica.
O vento frio do outono me incomodava levemente, contudo, minha roupa cobria os braços de maneira eficaz. Tudo que não precisava naquele momento era passar frio. O clima estranho da rua escura com as iluminações horripilantes já era suficiente para fazer eu questionar se realmente estava indo encontrar uma pessoa. Pelo menos, meu sobrinho estava tão louco quanto eu, se Patrick não fosse real.
Quando a casa dele apontou no meu campo de visão, senti crescer o frio em minha barriga. Aquele encontro poderia resultar em tantas coisas diferentes que não podia nem imaginar. Poderia odiá-lo ou gostar muito dele. Era literalmente impossível saber no que resultaria.
A porta estava aberta, o que achei extremamente perigoso, mas decidi ignorar. Não conseguia vê-lo em lugar algum, apenas via muitos adolescentes. Deveria ter dito que a festa seria para pessoas de quinze anos de idade.
Estava totalmente perdido e desconfortável, até que uma garota veio até mim, parecendo desconfiada.
- Você parece ser bem velho, então, é o amigo que meu irmão está esperando ou é um pedófilo? Porque não vou hesitar um segundo em gritar se chegar perto de alguém.
A última coisa que precisava era que aquilo resultasse na minha prisão, portanto, falei rapidamente:
- Patrick me chamou aqui. Pode me dizer onde está?
- Claro - sorriu - no terceiro quarto à esquerda, subindo as escadas.
- Obrigado - franzi a testa, confuso com o comportamento amigável dela.
Não disse mais nada, apenas se virou e continuou a conversar com as amigas. Provavelmente era assim que os jovens da atualidade se comunicavam, não entendia muito bem.
Tentei caminhar até o local lentamente para adiar vê-lo. Sabia que as dúvidas iriam aflorar no instante em que meus olhos pousassem sobre ele. Da mesma forma que havia me hipnotizado totalmente um ano atrás, com aquele magnetismo incompreensível.
Respirei fundo, bati na porta indicada e esperei que abrisse. Não podia mais fugir daquela conversa. Finalmente seria a hora de falar tudo que pensei nos últimos meses. Poderia gritar até que me respondesse a razão de ter me deixado tão rápido.
Entretanto, meu plano foi por água abaixo quando encarei seus olhos azulados. Era ainda mais bonito do que pensei ser. Naquele dia, não conseguira reparar em cada detalhe de seu rosto por causa da maquiagem, agora conseguia ver claramente o quão perfeito era.
- Oi... não tinha certeza que viria - falou, encarando seus pés.
- Não iria simplesmente virar as costas e sumir.
Deixei a mágoa clara no meu tom de voz. Tinha vindo ali para isso, não poderia me distrair com sua beleza, como fizera naquele dia.
- Eu preciso realmente me desculpar por aquilo. Quer entrar?
Podia sentir a hesitação em sua voz, o que era um alívio, de certa forma. Significava que não era único aterrorizado com aquele encontro. Portanto, adentrei no local, observando as paredes decoradas com pôsteres e medalhas, provavelmente não decorava o local desde a adolescência.
- Olha, sei que fui meio que um babaca naquele dia. Mas, juro, que tem uma boa explicação.
- Estou ouvindo.
Sentou-se na cama e abraçou o travesseiro. Definitivamente não parecia o mesmo cara que me enfrentou, parecia muito mais inseguro.
- Olha, Pete...?
- Sim.
- Não deveria ter feito o que fiz. Sinceramente, consigo reconhecer o quão merda foi minha atitude. Estou acostumado a sair com alguns caras por nada mais que uma noite, mas naquele dia foi diferente. Não sei se foi o fato de ter sido o único a gostar da minha fantasia ou se era porque seus lábios são incrivelmente deliciosos. Só sei que entrei em desespero. Nunca planejei beijar alguém naquela festa, muito menos alguém como... você.
- Como eu? - inclinei a cabeça, sinceramente esperando um argumento ofensivo.
- Sim, alguém que... pareceu se importar comigo - ele mordeu o lábio, parecia envergonhado - não me leve a mal, é que me acostumei a só me relacionar fisicamente com os outros. Faz anos que não tenho um relacionamento. Só que quanto mais eu te beijava, mais queria isso, o que é muito assustador. Você parece ser legal e não passo de um garoto inseguro que não tem coragem de se relacionar.
- Cara, eu sou um fracassado! Larguei a faculdade, voltei a morar com meus pais e não faço a menor ideia do que quero fazer com o resto da minha vida. A única coisa que realmente amo são borboletas de merda. Pensei que você fosse o cara descolado, super confiante e bonito, ficando com um total fracasso como eu.
- Parece que não somos tão diferentes, no fim das contas.
Sorri, indo me sentar ao seu lado.
- Além disso, estava em outra cidade, na companhia do meu irmão mais novo, que é a única pessoa com a qual sinto que posso ser eu mesmo. Ele é o único da minha família que sabe que sou, bem....
- Gay?
- Sim.
Um pensamento cruzou minha mente e não pude conter o riso.
- O que há de engraçado na minha sexualidade?
Novamente parecia aquele pronto para me enfrentar, caso fosse possível.
- É que eu odeio estereótipos, de verdade. Mas não tem como sua família achar que você é hétero usando uma fantasia do Elton John.
Patrick riu, da maneira mais adorável do mundo. Naquele instante, senti uma pontada de tristeza por não ter tido mais tempo com ele.
Só percebi que estava encarando-o quando falou:
-Perdeu alguma coisa?!
- Não, só estava lembrando de como estava lindo naquela noite. E em como estraguei tudo com minha maquiagem.
- Acho que ela me deixou ainda mais bonito, sabe? Foi difícil te esquecer quando passei uma semana tirando tinta preta do meu rosto.
Ríamos sem parar, parecendo que nos conhecíamos há muito tempo. Seria impossível imaginar o "passado" que compartilhávamos.
- Também não consegui me esquecer de ti - sussurrei.
O silêncio reinou no espaço por alguns segundos, até eu quebrá-lo:
- Diferente de você, não estou acostumado a beijar desconhecidos sem sequer saber seus nomes. Sei que é patético e idiota, mas vi algo em você, Patrick. Jamais consegui entender exatamente o que, só senti. Isso sem contar o quão bem você beija. Fez com que me esquecesse de absolutamente tudo ao meu redor. Por um tempo, achei que tivesse imaginado sua existência, literalmente, cogitei estar louco. Então, apareceu do nada em uma casa no meu bairro?! Isso é uma coincidência muito bizarra.
- O que acha que teria acontecido se não tivesse ido embora daquele jeito? Se tivesse passado meu nome, meu telefone e passado o resto da noite contigo? E se tivesse percebido que me odeia?
- Bom, eu te odiei pela maneira que saiu, não fez muita diferença.
- Por que veio aqui se me odeia?
- Queria respostas. Queria saber o que fiz de errado. Foi o jeito que pensava em tudo? Foi minha aparência? Disse algo sem perceber? Precisava saber o que tinha feito de errado.
- Não! A culpa foi minha. Achei que poderia simplesmente te beijar e te esquecer, como fiz com várias pessoas antes. Mas você pareceu se importar comigo por alguma razão bizarra. Vi a maneira como me tocou, como se estivesse com medo de fazer algo inapropriado. Pela primeira vez em muito tempo, senti que alguém poderia querer mais do que meu corpo. Eu me desesperei. Você não faz ideia do quanto queria ter ficado lá.
- E eu realmente queria que tivesse ficado. Nós poderíamos ter nos dado bem, sabe? Por mais que ache que você mereça alguém melhor do que eu.
- E se nós tentássemos?
- O quê?
Desviou o olhar.
- Podemos tentar sair para um encontro?
- Pensei que não namorasse.
- E realmente não namoro. Mas quero tentar contigo.
Lentamente, ele moveu a mão ao meu rosto. Conseguia enxergar o quanto lutava para encarar meus olhos.
- Você é lindo, Pete. Naquele dia, não pude perceber isso totalmente. Hoje, consigo ver o quão idiota fui em ter te deixado. Por favor, me desculpe.
Ele sorriu desconfortavelmente e se afastou.
- Nunca achei que estaria dizendo isso para uma pessoa com quem fiquei numa festa. Eu me sinto patético, me desculpe.
Patrick era tão confuso que me fazia sentir acolhido. Sempre estive cercado de pessoas que sabiam o que queriam para suas vidas, sem nunca duvidar um segundo de quem eram. Ele era como eu, mesmo que fôssemos totalmente opostos no sentido de relacionamento.
- Um dia você se acostuma a sentir assim. Posso te ajudar, se quiser. Acho que a única coisa além de borboletas que realmente entendo é como se apaixonar perdidamente em segundos.
Riu, ainda sem me fitar. Respirei fundo e tomei coragem para puxá-lo contra meu peito, passando os braços ao redor de seu corpo.
- Nós podemos tentar. Talvez seja a única coisa em que não somos um fracasso.
Permanecemos em silêncio, escutando os sons de festa no andar inferior. Era irônico pensar que um ano atrás estávamos em uma, nos beijando sem saber uma coisa sequer a respeito um do outro. Agora, estávamos abraçados em um quarto preenchido de segredos e inseguranças.
Não nos movemos pelo resto da noite. Podíamos sentir a compreensão mútua junto à batida de nossos corações. Aquela posição era desconfortável, porém, não me importava. O alívio que sentia no peito era mais importante.
Subitamente, escutamos o relógio de pulso dele apitar algumas vezes, indicando o horário.
- Meia-noite - Patrick sussurrou.
- Você ainda está aqui.
- Eu nunca mais vou fugir de você, Pete. Nunca mais.

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