One shots

Vampire ●Frerard●

Eu amava ficar acordado de madrugada. Era o momento perfeito para fazer tudo. Ver séries, escutar música, dançar pelo quarto usando fones de ouvido, escrever poemas para amores passados e começar a ler diversos livros sem nunca terminar um sequer.

Naquela noite em especial, estava entediado depois de escutar o mesmo álbum três vezes e escrever algumas palavras raivosas para seu ex-namorado. 

Parecia que meu cérebro tinha derretido com o que chamava de "um adolescente raivoso preso no corpo de um cara de vinte e um anos".

Havia largado a faculdade fazia alguns meses, agora vivia de shows pequenos em porões estranhos. Tinha sorte que meus pais me sustentavam e podia me dar o luxo de viver na casa deles.

Inclusive, podia agir como um adolescente, simplesmente sentar na janela e encarar a rua vazia. Bom, não tão vazia depois de alguns minutos.

Ah, tinha outra razão para gostar tanto da madrugada. Era o único momento em que eu poderia ver Gerard.

Nós tínhamos nos conhecido quando eu estava primeiro ano do Ensino Médio e ele no último, através do irmão dele, Mikey, que tinha algumas aulas comigo. 

Nossa relação era... interessante. Éramos como melhores amigos, só que nós beijávamos algumas vezes. Nada demais.

O único problema era que, há dois anos, tinha acontecido algo que mudara nossa relação para sempre. Na verdade, quase nos afastou totalmente. Se não fosse por Mikey teríamos perdido todo o contato, o que teria sido mil vezes pior do que apenas vê-lo quando apenas a Lua iluminava o céu escuro.

Em alguns segundos, apareceu na grande árvore do meu quintal, a mesma que foi muito usada para escapar para ia a festar durante a adolescência. Não pude conter um sorriso ao vê-lo e perceber que havia cumprido o que combinamos.

- Está bonito - ri.

- Não enche. Você que me obrigou a vir desse jeito.

Era verdade. Sempre fazíamos um jogo de, uma vez por semana, escolhermos o que o outro vestiria. Eu estava usando um pijama de unicórnio que ele pegara do Way mais novo e Gerard usava as roupas mais formais que tinha, uma camisa preta adornada com uma gravata vermelha e calças jeans.

Ele sorriu e, céus, não sei como pude ter medo e pensar que seria capaz de me machucar quando descobri o que havia se tornado. Tinha sido tolo em quase terminar nossa amizade por temer que tentaria beber meu sangue ao se tornar um vampiro. Sabia o quão ruins minha atitudes foram naquela época, mas estava feliz por terem feito eu perceber que ele não mudara nada do garoto que amava.

Amava como amigo, digo.

Observei enquanto sentava em um dos galhos e suspirava. Ambos sabíamos o quanto odiava ser obrigado a agir daquela maneira, mesmo que fosse o jeito mais seguro. Daria tudo para poder proporcionar, pelo menos um dia de Sol incidindo em sua pele novamente, já que era o que mais sentia falta. Ainda assim, a palidez extrema combinava com sua aparência, só era um lembrete estranho de que estava, na verdade, morto.

- O que fez hoje?

- Tentei entrar em algumas bandas, mas nenhuma deu certo. Então, vim para casa, menti para meus pais e passei a noite te esperando. E você?

- Passei o dia todo desenhando.

- O que dessa vez?

- Ok, você vai achar loucura, mas estou desenvolvendo uma estória sobre crianças com poderes que foram adotadas por um velho rico... só que a vida delas é uma bagunça cheia de traumas e o velho é um alienígena.

- Como consegue pensar nessas coisas, Gee?

Ele apenas encolheu os ombros, sem deixar que seu sorriso tímido desaparecesse.

- Estou curioso para saber mais sobre isso. Mas está frio para caralho e não sou imortal nem estou com vontade de ficar gripado.

- Está me expulsando?

- Não, idiota, estou sugerindo ficar no meu quarto.

Antes de escutar sua resposta, eu me virei, adentrei no local e parei próximo da cama para questionar o porquê de não me seguir.