Amigos de infância ●Rikey●

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Assim que adentrou na sala, Mikey congelou totalmente. Não, não poderia ser. Era impossível. Depois de todos aqueles anos? Não. Tinha certeza que estava engando.

Mas sabia que jamais esqueceria aquele sorriso e aqueles cachos, mesmo que um milhão de anos se passassem. No caso, tinha sido apenas treze anos, que pareciam mais com uma vida inteira.

Antes que pudesse ser visto, puxou a touca mais para baixo e foi para uma das cadeiras do fundo, evitando totalmente o campo de visão dele.

Era sua primeira aula na faculdade e não conseguiria se concentrar. Sua mente girava ao redor do pensamento: "É ele. Só pode ser. Tem que ser!".

Pegou o celular, disfarçadamente, e começou a mandar mensagem para Gerard, seu irmão mais velho. Infelizmente, sabia que nunca olhava suas mensagens. Provavelmente, nem deveria saber onde estava o aparelho. Sempre fora assim.

Depois de, literalmente, dezenas de mensagens, ficou irritado e começou a xingá-lo.

- Que merda, filho da puta!

Infelizmente, havia sido alto demais, o que chamou a atenção do professor.

- Tem algum comentário relevante sobre a aula?

Encolheu-se ainda mais na cadeira, respondeu que não e escondeu o rosto. Aquele dia não poderia ficar pior, bem, ao menos era o que pensava.

Quando estava prestes a sair, praticamente correndo, sentiu alguém chamá-lo. Tentou ignorar, afinal, não era seu nome sendo chamado e seria uma ótima desculpa para fingir que não era com ele. Porém, quando alguém entrou em seu campo de visão se tornou impossível evitar.

- Oi.

A voz não era a mesma que se lembrava, já que a puberdade fizera suas mudanças.

- Oi... - sussurrou.

Precisava fugir dali rapidamente. A cada segundo tinha mais certeza de que era realmente ele.

- Desculpa, eu te conheço de algum lugar? Vi seu rosto quando estava saindo e percebi que me parece familiar.

- Não... na verdade, não. Acho que está me confundindo com outra pessoa.

"Merda, merda, merda!" era tudo que pensava no momento. Quais eram as chances daquilo acontecer?A última vez que se encontraram fora há treze anos, no dia em que Ray mudou de cidade. Pensou ser praticamente impossível vê-lo novamente. Na verdade, desejou nunca mais encontrá-lo.

- Mikey!

Congelou. Estava tão desconfortável que gostaria de poder trocar de pele.

- Sou eu, Ray. Você mudou, mas nem tanto... por isso, te reconheci. Acho que não lembra de mim.

Jamais poderia esquecer. Não importava o que acontecesse, sempre esteve guardado em sua memória.

- Ah, sim. É, lembro um pouco.

Era óbvio que se lembraria do seu primeiro amor.

Do seu amor proibido.

- O que acha de irmos para um bar, conversar, sei lá...

- Não sei, acho que meu irmão pode ficar preocupado.

- Oh, tem certeza que não pode falar com ele... perguntar? Ele não me parece o tipo de pessoa que te impediria de sair com um amigo.

Queria negar, queria muito negar. Contudo, sabia que nenhuma desculpa seria válida e, talvez, se saíssem não teria que lidar com ele nunca mais durante o ano letivo.

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