Friends don't kiss ●Peterick●

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Inspirada pela música "Friends don't kiss the way we do" de Abbey Glover.

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Patrick e eu éramos amigos há tanto tempo que nem conseguia me lembrar. Só sabia que morávamos no mesmo bairro e um dia simplesmente aconteceu. Claro que tinha outros amigos, porém, nenhum era tão especial como ele, por diversos fatores. Era a pessoa em quem mais confiava no mundo inteiro, contaria todos meus segredos e o seguiria de olhos vendados. Por ele, tomaria até um tiro. Também era quem conseguia me fazer rir como ninguém no mundo. Com seu jeito adorável e a maneira que facilmente se envergonhava, poderia morrer de amores. Acima de tudo, era quem estava ao meu lado quando mais precisava, poderia me acalmar mesmo nos piores momentos  e secar minhas lágrimas mais dolorosas.
Não poderia sequer pensar em viver sem sua amizade e é por isso que a situação em que nós encontrávamos me deixava tão tenso. Sentimentos são uma coisa extremamente complexa e descobrir o que sentíamos parecia nos matar por dentro. Bem, pelo menos, me matar, porque ele parecia muito confortável com a maneira que estávamos. Não havia nenhuma confusão em sua mente naquela tarde em que passávamos juntos, assim como em todas as outras tardes iguais a essa.
Precisava confessar que estava um pouco obcecado com a maneira que andava ao redor do meu quarto, observando minhas coisas com atenção, enquanto se movia lentamente.
- Parece que nunca veio aqui antes - comentei.
- Só gosto de ver a maneira como muda tudo de lugar.
- E vai passar o dia inteiro só fazendo isso?
- Não... estava pensando em fazermos outras coisas.
- Quais?
Ele se virou para mim, sorrindo.
- Beijar!
Se olhassem pela nossa aparência, não achariam que eu, um jogador de futebol, seria aquele a ficar totalmente apaixonado por alguém daquela maneira, e pensariam o carinha estranho da banda seria aquele a se apaixonar antes mesmo de conversar com a pessoa. Entretanto, a realidade era o perfeito oposto.
- Tem certeza disso?
- Nós somos amigos, vai!
- Amigos não se beijam como nós.
"Amigos não têm borboletas no estômago como eu quando penso em você" acrescentei mentalmente.
- É só para passar o tempo.
Respirei fundo, sabendo que não conseguiria negar nada a ele. O jeito que me encarava, sorrindo, e andava em minha direção em passos lentos e arrastados tomava conta da minha mente e não conseguia mais pensar com clareza. Tudo em que conseguia focar era no quanto adorava apertar suas coxas e tocar seus cabelos quando nos beijávamos. Eu não poderia reclamar do contato físico, adorava tocá-lo de todas as maneiras, porém, queria mais que isso. Muito mais que isso.
- Veio aqui só para isso?
- Teria sido tão ruim se tivesse? - passou os braços ao redor de meus ombros.
Então, não consegui mais responder porque minha boca foi ocupada pela dele. Senti-me horrível por deixar que me usasse daquele jeito, porém, não conseguia parar. Era bom demais para que parasse. Tudo que fiz foi afastá-lo para que pudesse me sentar na cama e encostar na parede, permitindo que ele sentasse em meu colo. Sorri, tentando camuflar meu desconforto emocional.
- Tem algo errado? - podia ver seus olhos tentando analisar minha alma.
- Não, claro que não.
- Se você não quiser isso, não tem problema, Pete. Sabe que jamais te pressionaria para fazer algo que te deixa mal.
- Estou bem, acredite em mim. Quero tanto isso que não posso nem explicar.
Ele sorriu, ainda não parecendo totalmente convencido, mas decidindo ignorar minha explicação ruim. Acariciou meu rosto, passando o dedo por minha bochecha até chegar em meu lábio. Senti-o se mover lentamente sobre minhas pernas antes de sorrir mais uma vez e me beijar totalmente. Coloquei minhas mãos em suas costas, puxando-o em minha direção e pressionando levemente.
Naquele instante, não éramos mais amigos. Ele podia dizer que não mudava nada, mas mudava. O jeito que nos beijávamos era intenso e parecia se aprofundar a cada segundo. Não era assim que amigos agiam.
Continuamos daquele jeito pelo que pareceram horas. Apesar do cansaço físico e emocional, não queria que parasse. Era tão bom poder senti-lo daquela maneira, explorar sua boca como poucas pessoas haviam tido a chance de fazer e simplesmente fazer com que se sentisse bem. Gostava daquela sensação, tanto que queria poder expandi-la e me tornar a pessoa que iria satisfazê-lo não apenas fisicamente. Tentava não pensar demais e aproveitar o momento, porém, minha mente continuava me dizendo que não podia estragar tudo e que precisava aceitar o que tínhamos mesmo que me machucasse.
Quando paramos, ele permaneceu em meu colo, apoiou a cabeça em meu ombro e comecei a acariciar seu cabelo. O momento me causava uma paz intensa, diferente do anterior. Bom, ao menos até ele começar a falar.
- Amanhã não vou poder vir para sua casa. Vou ter um encontro.
Parecia irônico que estivesse me dizendo aquilo depois de passar os últimos minutos me beijando. Talvez fosse uma maneira de me deixar com ciúmes e, se fosse, estava funcionando totalmente. Queria poder abraça-lo, me declarar e impedir que saísse com mais um cara que quebraria seu coração.
- Nem sei como consegue sair com eles passando tanto tempo comigo.
Patrick riu e se mexeu para fitar meu rosto.
- Obrigado, Pete. Por ser um ótimo amigo - depositou um beijo em minha bochecha e se levantou.
"Não somos amigos!" era o que queria gritar. O problema era que seria mentira. O medo de estragar nossa amizade perfeita é a única coisa que nos impedia de tentar um relacionamento. Isso fazia com que continuássemos como "amigos". Se era o que ele queria, tudo que podia fazer era aceitar ou lutar para ter o que desejava. Como não tinha coragem alguma para tentar algo, pelo menos poderia aproveitar o que tinha, por mais que me machucasse profundamente aquele sentimento que não era bom o suficiente, que não serviria para continuar como seu namorado e que me magoasse deixar que me usasse somente como um corpo sem sentimentos.
Meus problemas não eram ele, afinal, seria impossível que soubesse como me sentia sem que falasse. Estava magoado comigo mesmo por deixar que me usasse daquela maneira. Por um tempo, tentei colocar a culpa toda nele, mas não adiantou. Sabia que era tudo uma bobagem da minha cabeça. Precisava ter mais coragem e amor próprio para ir atrás de alguém que realmente se importasse comigo.
- Eu preciso ir agora. Está tudo bem contigo? Parece meio aflito.
Respirei fundo na tentativa de conter as lágrimas que ameaçavam escorrer. Poderia acabar com a melhor coisa da minha vida naquele instante. Estragar a melhor amizade que já tive. Tudo porque não conseguia controlar meus sentimentos.
Mas não poderia deixar que continuasse me machucando daquela forma. Parecia que meu peito estava sendo dilacerado pela dor quando abri minha boca:
- Não podemos continuar sendo amigos desse jeito. Amigos não se beijam dessa maneira, Patrick. E amigos não se sentem como me sinto ao seu respeito.
- O que está tentando dizer?
- Eu adoro te beijar, acredite em mim. Você não faz ideia do quanto gosto disso. Mas... isso me machuca. Age como se não valesse para nada além disso. Vem até minha casa, me beija e simplesmente vai embora. Depois sai com esses caras e quando eles te magoam corre direto para cá, chora e me beija novamente. Parece que eu só sirvo para isso.
- É óbvio que serve para mais que isso. Você é meu melhor amigo e eu te amo.
- Então, por que continua me usando dessa maneira? Ou assume de vez que não poderia se relacionar comigo e continuamos só como amigos, sem beijo algum, ou podemos ao menos tentar algo.
- Tenho medo de você não gostar de mim. Nunca fui um bom namorado.
- E o que é ser um bom namorado? Nós não precisamos seguir as expectativas dos outros de namoro. Já te conheço muito bem, sei do que gosta em todos os aspectos.
- E se não der certo? Não posso te perder.
- Também tenho medo que dê errado. Realmente gosto de ti. A ideia de te perder é horrível. Mas quero arriscar se significa ter algo melhor contigo.
- Você é incrível, Pete, não quero que se decepcione comigo.
Levantei-me e fui em sua direção.
- Você não me decepcionou. Não poderia. Mas me magoa quando age desse jeito, me usando para ocupar o espaço das pessoas que te machucaram.
- É porque gosto demais de você para deixar que seja como elas. Quando souber que não sei planejar encontros ou lembrar de datas, vai querer terminar comigo. Então, vou perder meu namorado e meu melhor amigo.
- Quem disse que me importo com essas coisas? - coloquei a mão em seu rosto - Apenas me importo contigo. Não quero esse tipo de namoro, quero você. Quero poder te abraçar, te beijar, te dar presentes e dizer que te amo mais do que como amigo. Não ligo para datas e encontros.
Ele me abraçou fortemente, deixando que o choro tomasse conta de seu corpo.
- Você é tão perfeito, que ódio, eu gosto tanto de ti.
- O que isso quer dizer?
- Que eu quero ser seu namorado. Sempre quis, mas tenho tanto medo. Por isso quero te beijar o tempo todo, porque posso ter uma amostra do que é ter um relacionamento. Nunca quis que se sentisse usado, me desculpe. Por favor, me desculpe.
- Está tudo bem, a culpa não é sua.
- É sim. Deixei que ficasse mal e nem me importei. É disso que estou falando quando digo que não mereço alguém como você.
- Ei, já passou - lentamente levantei seu queixo, para que pudesse encarar seus olhos - está tudo certo agora.
- Promete que não vai me odiar?
- Vou tentar ao máximo.
Ele me beijou por breves segundos, antes de se afastar rindo e dizer:
- Posso te contar uma coisa? Eu não tenho encontro amanhã. Inventei aquilo.
- Para me deixar com ciúmes?
- Foi idiota.
- Funcionou.
- Funcionou?
- Seria impossível não funcionar. Você tinha acabado de tirar boca da minha, seria estranho se não ficasse nem um pouco incomodado com a ideia de outra pessoa fazendo isso contigo.
- O que acha de continuarmos, então?
- Achei que precisasse ir.
- É... inventei isso também - secou seu rosto com as costas da mão.
- Você está tornando difícil não te odiar - comecei a rir.
- Ah, posso mudar isso - arqueou as sobrancelhas.
- Pode?
Ele passou os braços ao redor do meu pescoço e encostou a testa na minha.
- Posso... mas apenas para o meu namorado.
Segurei em sua cintura, puxei-o para perto e murmurei com um sorriso:
- Então, faça para mim, Patrick. Faça para o seu namorado.

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