Dia dos namorados ● Trohley ●

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Eu não via a hora de sair daquele lugar. Os minutos pareciam se arrastar. Sentia como se tivesse se passado um dia inteiro, quando na verdade não passara de algumas horas. Provavelmente deveria terminar copiando o que o professor havia escrito no quadro, mas não me importava o suficiente para isso. Aquele homem só falava e falava e falava a mesma coisa repetidas vezes. Estava a ponto de surtar.
- Com licença? - uma menina disse, parada em frente a porta.
No mesmo instante, a reconheci. Era Avril, uma das representantes do grêmio estudantil.
- Podemos entregar os bilhetes?
Ah, claro, como poderia ter me esquecido daquele negócio idiota? Era a quinta vez que faziam aquilo. O diferencial era a data. Dia dos namorados. A maioria das pessoas não gostam desse dia por fazê-las lembrar de que estão solteiras. Eu só achava patético mesmo. Enviar um bilhete anônimo para a pessoa que gosta é uma ótima opção, sem chances dar errado. Revirei os olhos pensando naquilo. Tão estúpido. Contudo, era melhor do que aquela aula.
Ela se posicionou na frente de todos e, junto com outros dois meninos, começou a entregar.
A maioria que recebia era em uma quantidade normal, um ou as vezes dois bilhetes. Mas esse não era o caso de Patrick Stumph. Parecia que todo mundo naquela maldita escola - ou até no planeta, se pensar bem - sentia algum tipo de atração por ele. Isso, obviamente, incluía meu melhor amigo, Pete.
Observei sem interesse enquanto os papéis eram entregados, desejando que o tempo passasse mais rápido e pudesse sair dali.
- E por último, mas não menos importante - ela anunciou - Joseph T.?
Pisquei rapidamente, tentando entender se havia escutado certo.
- Joseph T.? - repetiu, olhando ao redor.
- Cara! - meu amigo bateu em meu ombro, acordando-me do transe.
Levantei a mão e ela veio até mim.
"Soube por aí que gosta de matemática. Só queria dizer que nenhuma equação vai seria tão difícil quanto descobrir o que sinto por você <3"
- Oh, uau - Pete sussurrou enquanto se apoiava em meu ombro para ler o papel.
- Você sabe quem foi?
- Não faço ideia.
- Não mandou como uma forma de pegadinha para mim, não é?
- Claro que não! Mandei um só para o... você sabe quem.
- Ah, sim. Lorde Voldemort.
Ele riu, se jogando de volta na sua cadeira.
Eu não conseguia parar de pensar naquilo. Deveria ser só um brincadeira idiota. Ninguém de verdade acreditava que coisas assim funcionavam... certo? Bem, talvez meu amigo acreditasse. Mas ele também acreditava que Game of thrones era real, então acho que não era um bom ponto de referência.
Não conseguia parar de olhar ao redor, tentando encontrar no rosto de qualquer um algo que pudesse indicar que havia me mandado. Nada. Todos estavam focados em seus próprios recados ou nos dos amigos.
Decidi que era melhor ignorar e fingir que nunca aconteceu, por isso enfiei o bilhete no bolso e continuei a escutar o professor falando.

◎○◎○◎○

- Você não quer saber quem mandou? Nem tentar descobrir?
Pete se jogou em minha cama, jogando seus tênis em um canto qualquer do quarto. Nós éramos praticamente como irmãos, então isso era algo completamente normal.
- Não. Ninguém realmente manda isso de verdade.
- Ei!
- Ah, verdade. Tem todo o seu negócio com o Patrick.
- Acha que ele vai aceitar sair comigo?
"Não" pensei "pessoas como ele não tem chances com alguém como nós. Ele só vai brincar com os seus sentimentos e te magoar"
- Por que não? - respondi simplesmente.
Peguei um controle do meu mais novo Xbox e joguei para ele.
- Ele é... diferente.
- Por diferente você quer dizer "O cara mais lindo da escola que além de ir bem em todas as disciplinas ainda tem uma banda de sucesso"?
- Também serve.
- Olha, se ele recusar será um completo babaca.
Uma pequena parte minha esperava que ele não aceitasse. Era melhor que o coração de Pete fosse quebrado antes que desenvolvesse um sentimento ainda mais forte por ele.
- Eu sonho com esse dia desde a oitava série! Finalmente está acontecendo.
- Cuidado para ele não te magoar - murmurei.
- Qual o seu problema hoje? Por que está agindo assim? - gritou de repente.
- Assim como?
- Feito um idiota! Você sabe o quanto eu quero isso. Vai doer se me der pelo menos um pouco de apoio?
- Eu...
- Poupe seu tempo. Você deveria ser grato por ter recebido isso de alguém te talvez goste de você. Deveria estar feliz por não ter que ficar por aí como eu, rastejando atrás de alguém que nunca vai nem perceber que existo.
Ele se levantou, pegou suas coisas e saiu, sem dizer uma palavra a mais. Fiquei parado, em choque demais para reagir. Estava magoado, em parte porque as palavras dele tinham um fundo de verdade. Tinha me comportado como um péssimo amigo, julgando-o por ir atrás do cara que gosta.
Havia perdido todo o clima para jogar, só queria ficar ali me sentindo mal por tudo que falara. O problema era que isso não ajudaria em nada. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu devesse mesmo ir atrás de quem mandara aquilo. Poderia dar errado e eu só criar esperanças falsas, porém, pelo menos saberia que tentei.

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