Blood ●Frerard●

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Happy Halloween←
Aviso: conteúdo sexual, sangue.


Frank inalou com satisfação o cheiro ácido de suor, bebidas alcóolicas e maconha que o lugar exalava. Qualquer pessoa se sentiria sobrecarregada em um ambiente como aquele, mas não se sentia assim de maneira alguma. Estava focado, como uma serpente esperando qualquer movimento para dar o bote. Conseguia enxergar sua caça do outro lado da boate.
A maioria das pessoas procurava um parceiro na pista de dança. Ele não. Gostava do bar, afinal, era onde as pessoas deprimidas ou tímidas ficavam. Seu tipo favorito. Naquele clima, só permanecia sentado quem estivesse afogando as mágoas na bebida ou estivesse bêbado demais para levantar, o que buscava evitar. Queria mesmo aqueles que pareciam ter medo de falar com os outros, porque eram visto por todos como fracos ou incapazes de ser ferozes. Sabia que era a maior mentira. Bastava poucas palavras para transformá-los em seres bestiais.
Naquele noite em especial, iria se permitir agir apenas por seus instintos mais animalescos. Deixaria de lado tudo de humano que existia dentro de si. Era sua data favorita do ano. Trinta e um de outubro, halloween e seu aniversário. O dia perfeito para se alimentar apropriadamente, suprindo a sede de corpos e sangue.
Finalmente avistou a oportunidade perfeita. Um homem solitário usando uma jaqueta verde surrada que não parecia ser lavada há meses. "Perfeito" pensou, enquanto caminhava em sua direção.
Deu um sorriso simpático para o barman e disse:
- Vou querer uma dose de Vodka e para ele - sorriu - o que quer que esteja bebendo.
- Refrigerante - respondeu, sem olhá-lo.
- Refrigerante em um local como esse? Escolha interessante.
- Sobriedade é importante.
Finalmente, o estranho fitou-o, dando um sorriso tímido. Havia mordido a isca.
- Sou o Frank, qual o seu nome?
- Gerard.
- Nome bonito para um cara bonito.
Clássica, clichê, perfeita. Passou séculos aperfeiçoando aquela técnica.
- Você não é muito novo para alguém como eu? Tenho quarenta e três anos, quase poderia ser seu pai.
"Oh, se soubesse a verdade" sorriu. Não estava enganado, de certa forma. Sua aparência era de um rapaz de, no máximo, vinte e cinco anos. As tatuagens, piercings e o cabelo raspado dos lados e colorido de branco, não ajudavam a deixá-lo mais velho. Porém, na realidade, era muito mais velho do que qualquer jamais imaginaria. Nascera há exatos 1600 anos, em 420 D.C., no grande Império Romano. Odiava aquele lugar, se sentia bem melhor na era contemporânea.
- Não precisa se preocupar com isso. Tenho vinte e quatro anos, sei muito bem como me cuidar.
Passou a língua no piercing em seu lábio inferior, um movimento que podia seduzir literalmente qualquer pessoa no mundo.
- Por que deveria confiar em você?
Xeque-mate. Não estava esperando aquilo. Tinha sorte em conseguir pensar rápido.
- Dou a minha palavra. Jamais faria algo ilegal.
Ergueu a sobrancelha, claramente duvidando da minha constatação.
- Ok, depende do tipo de ilegalidade.
Sorriu, como se estivesse satisfeito com a resposta, o que já era suficiente para o rapaz. Aquela seria uma bela e longa noite.
- O que acha de sairmos daqui?
- Meu apartamento fica a algumas quadras.
- Fechado.
A empolgação percorreu seu corpo. Mesmo que fizesse aquilo há centenas de anos, nunca deixava de se sentir extremamente vivo.
Rapidamente, jogou uma pilha de notas no balcão, se levantou e o puxou para a saída.
O caminho foi silencioso. Apenas trocavam olhares provocantes entre si, fazendo com que palavras não fossem necessárias para notar o desejo no ar.
Frank mal conseguiu esperar a porta do elevador se fechar para unir sua boca à de Gerard. Não gostava de dominar nenhum tipo de relação, porém, foi incapaz de se controlar. O outro era simplesmente irresistível em cada aspecto.
Sentia-se triste por ter que matá-lo.
- Você é bem ousado - o mais alto sussurrou quando se afastaram.
- Posso ser o que quiser.
- É o que vamos ver.
Ali estava atitude que estivera buscando desde quando o viu. Sabia que algum momento aquele lado seria revelado.
Nem teve tempo para admirar seu lar, já que estava ocupado em tirar desesperadamente suas próprias roupas. Era de se esperar que, depois de séculos, fosse mais paciente naqueles momentos. No entanto, cada vez ficava mais impaciente e entediado. Queria mais e mais rápido. Estava velho demais para gastar tempo com pessoas que não valiam a pena.
Mesmo no escuro, conseguia vê-lo perfeitamente, uma das vantagens de ser um vampiro. Outra era sua audição apurada, que o fazia escutar até os pequenos gemidos que o outro tentava esconder. Mais alguns movimentos e nada mais seria escondido entre eles.
Foi empurrado com força sobre a cama, vestindo apenas roupa de baixo. Não conseguia desviar o olhar do homem que sorria em sua direção. Era como se seu corpo inteiro fosse explodir somente com um olhar.
- O que você quer, Frank?
- Diga-me você, Gerard. O que você quer?
- Quer mesmo saber?
Acenou com a cabeça e engoliu em seco, sentindo o pomo de Adão se mover. O mais alto se aproximou, colocou a mão em seu queixo até seus olhos se encontrarem e falou:
- Não iria suportar. Sua mente juvenil jamais entenderia.
- Confie em mim, vou entender muito bem.
Ele percorreu o dedo pelo maxilar do mais baixo, subiu por seu rosto e parou a mão sobre as mechas negras. Então, puxou com força para trás, entrelaçando os dedos nos fios. Frank não conseguiu conter um som de surpresa e permaneceu com a boca aberta, sem saber como agir.
- Gosta disso? Disse que não aguentaria.
- Por favor - sussurrou.
- Sabia que não aguentaria.
- Por favor, mais! - gritou antes que se afastasse.
- O quê?
- Eu quero mais.
Permaneceu alguns segundos encarando suas pupilas totalmente dilatadas, como se tentasse descobrir a veracidade de suas palavras.
Resolveu puxar com mais força, recebendo um gemido em troca.Se estava daquele jeito com o menor toque, mal podia esperar pelo resto da noite.
Aproximou suas faces de maneira que podiam sentir as respirações alteradas um do outro diretamente na pele.
- O que mais pode fazer?
Sentia que perderia a sanidade com o jeito que arrastava a voz em cada palavra.
- O que quiser, só...
- Só...? Não pare, Frank.
Direcionou sua boca ao lóbulo da orelha dele, onde depositou uma mordida.
- Quero... - foi interrompido por ter o corpo violentamente pressionado contra o colchão macio.
- Diga-me!
- Por favor, quero...
Pressionou a palma de sua mão contra o pescoço pálido do menor. Sabia que aquilo deixaria muitas marcas, mas não se importava.
- Se não consegue nem dizer seus desejos, não terá o que quer.
Subiu em cima dele, passando uma perna ao lado de cada coxa dele. Deixou que seus quadris se encostassem por alguns segundos, antes de começar a se mover lentamente.
- É isso que você quer?
- N-não! - tentava falar, apesar de senrir que seu cérebro derretera.
Estava gostando daquela sensação, obviamente. Contudo, não era tudo que desejava.
- Porra! - berrou, incapaz de se conter.
- Parece que está gostando. Quer que eu pare?
- Não!
- Pensei que tivesse dito que queria outra coisa.
Não conseguia pensar em nada além da pele quente dele contra a sua. Literalmente nada além disso.
- Eu quero...
- Diga, Frank!
- Quero...
- Fale!
- Quero que me foda! Até que eu esqueça meu nome! Até que não sinta mais minha própria alma.
Sorriu, parou seus movimentos e se inclinou, retirando um objeto de sua fronha.
- Se pelo menos tivesse alma.
Naquele instante, o outro congelou ao ver a adaga prateada que reluzia na mão de Gerard. Gostaria de ter tempo para reparar na bela escultura de caveira que servia como pomo, porém, estava mais focado na maneira que estava apontada para seu peito.
- O que está fazendo?
- Sei quem é você, Iero. Tenho te seguido por mais de uma década.
- O quê?
- Claro que não sabe quem sou. Jamais pensa nas famílias daqueles que mata. Ao menos, mudou a forma de matar.
- Do que está falando?
- Oh... vou te lembrar. Novembro do ano de dois mil e quatro. Era noite, você se escondeu nos arbustos de um parque. Viu um rapaz fraco, sozinho e desamparado caminhando. Então, decidiu que era o melhor momento para atacar. Olhou ao redor e constatou que não havia ninguém perto quando dilacerou o pescoço dele com suas presas, de maneira totalmente bizarra e bestial. A única coisa que não considerou foi que havia alguém com ele. Um homem que não pôde sequer chorar a morte do irmão porque te perseguiu. Descobri tudo ao seu respeito, observei como escolhia suas vítimas e preparei a armadilha perfeita. Tentei em Nova York, e quando se escondeu no Iowa, nas duas férias na Califórnia e, finalmente, funcionou. Justo no dia do seu aniversário. Nascimento e morte no mesmo dia. Mais uma ironia da vida.
- Por favor, cara, precisa me escutar. Eu mudei.
- Mudou como? Não iria me matar?
Calou-se, já que não poderia discutir com a verdade.
Ele continuou a falar, com um tom de desprezo claro em sua voz.
- A polícia desistiu de procurar depois de meses. Não que eu confiasse neles para qualquer coisa. Mas seria impossível rastrear alguém que não deixa nenhum rastro humano para trás. A única coisa que fiz foi descobrir tudo ao  seu respeito.
- Mudei! Não mato humanos em nenhum outro dia do ano, só no meu aniversario.
- Você acha que é bonzinho porque mata somente uma pessoa por ano? Isso te faz bom?
- Não, mas...
- Não tem "mas". Vai pagar por tudo que causou a mim. Vai pagar pelo que fez com tantas famílias ao longo dos séculos.
Aproveitando o momento em que ergueu os braços para desferir o golpe final, levantou os quadris, desequilibrando-o. Conseguiu inverter as posições, pegou a arma e cravou em seu peito sem hesitar. Perfurou em três lugares diferentes até estar certo de que não sobreviveria em hipótese alguma.
Sorriu ao vê-lo estender a mão em sua direção, como se buscasse a salvação. Era tão divertido ver os humanos implorando por mais uma chance de viver, jamais se cansava.
Começou a acariciar sua bochecha com o polegar, espalhando o sangue que escorria por seus lábios.
Então, levou o dedo à boca e fechou os olhos, grunhindo em êxtase, ao sentir o gosto metálico. Não entendia como existiam vampiros que não amassem aquele sabor.
Retirou a adaga, observou cada detalhe do cabo cravejado de rubis e lambeu a lateral da lâmina, com cuidado para não deixar o fio encostar em sua pele.
Deu um sorriso satisfeito, limpou o líquido vermelho que manchava os cantos de sua boca, se debruçou sobre o corpo ainda agonizante do outro e disse:
- É uma pena, Gerard. Realmente havia gostado de ti.

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