Andy sempre odiou seu irmão. Ainda conseguia se lembrar perfeitamente da primeira briga que tiveram. Estavam discutindo sobre algo idiota que crianças de oito anos acham importante, sua mãe começou a dizer que deveria cuidar dele por ser mais velho e acabou gritando que nunca desejou que ela tivesse casado com um cara que tinha filho tão insuportável. Todos falavam que era coisa infantil e melhoraria com o tempo. Mas quase uma década depois tudo permanecia na mesma. Bem, não brigavam mais tanto por evitarem estar na presença um do outro. Contudo, os ensaios da banda de Pete não tornavam a convivência muito fácil. As vezes só queria ficar em seu quarto em paz estudando, mas era obrigado a escutar enquanto faziam uns sons estranhos que ousavam chamar de música. Os amigos dele também eram péssimos, uns completos idiotas. Patrick era o mais suportável, apesar da irritante quantidade de tempo que passava ali.
Aquele era mais um dos dias em que sentia raiva dele. Precisava estudar para as provas finais, porém, não conseguia se concentrar com o barulho que vinha do andar inferior. Era estranho como a voz de Brendon conseguia chegar tão longe, gritava tanto que conseguia escutar perfeitamente o que dizia, mesmo com as várias outras pessoas falando ao mesmo tempo. Não suportava pessoas barulhentas. Ainda mais quando eram tantas em um lugar só. Nem adiantava colocar os fones de ouvido, o som da casa atrapalhava a música.
Naquele ponto, havia desistido de tentar. Iria ficar em seu quarto remoendo toda aquela raiva durante a noite toda. Sentia como se seu sangue estivesse fervendo enquanto fitava o teto branco e tentava se isolar dos sons exteriores. Uma pequena parte dele gostaria de ter tantos amigos, no entanto, havia afastado todos quando decidiu que precisaria se focar mais em entrar em uma universidade do que em sair com eles.
Subitamente a porta foi aberta de maneira brusca e um garoto de cabelos cacheados entrou.
- Oh, aqui não é o banheiro - falou com o rosto totalmente corado.
- É a próxima porta.
- Obrigado e me desculpe.
Analisou-o com atenção. Tinha certeza que jamais havia visto-o ali. Com certeza se lembraria dele.
- Espera, você é novo aqui?
- Sim, acabei de me mudar para a cidade.
- Legal.
- O Pete não me falou que tinha um irmão. Qual o seu nome? Sou o Joe.
Soltou uma risada. Óbvio que não tinha falado.
- Sou o Andy. E nós não somos exatamente irmãos. Minha mãe casou com o pai dele. Mas eles nos obrigam a nos tratar como irmãos, então acho que somos.
- Você me parece legal.
- Acredite, não sou.
- Por que está aqui?
- Festas não são para mim. Prefiro ficar longe. Mesmo que o barulho seja alto demais para que eu consiga sequer pensar.
- Bem, eu acho melhor voltar para lá. Vou pedir para que falem mais baixo para que possa ficar em paz.
Assentiu, sorrindo ao vê-lo se afastar. Talvez aquele garoto fosse mesmo legal.¡※¡※¡
- Você é um idiota, quem não consegue fazer a merda de uma panqueca! - Andy gritou.
- Por que você mesmo não faz?
- Porque o idiota do seu amigo quebrou meu braço.
- Eu já disse que não foi culpa do Brendon! Você que é um bebê que não consegue prestar atenção no que faz.
- Uau, chamar de bebê que grande insulto.
- Vai se foder, Andrew.
- Vai você e seu bando de amigos idiotas.
Pete soltou uma risada de escárnio e balançou a cabeça.
- O Joe achou que você era legal e queria te chamar para a festa, falei que não gostava de pessoas como nós. Estava certo, você é um babaca.
Não sabia como agir. Joe o achava legal... estranhamente aquela parecia ser uma informação importante.
- Por que nos odeia? A culpa não é minha que você é um fracassado antisocial.
- Parem vocês dois! Estão brigando de novo?!
Uma mulher adentrou a cozinha, gritando com os meninos.
- Ele é um idiota que não sabe fazer panqueca.
- Ele acha que pode me mandar fazer as coisas!
- Seu amigo quebrou a merda do meu braço, a culpa não é minha!
- Eu mandei parar!
Ambos ficaram em silêncio, encarando-a e esperando pelas consequências.
- Ninguém mais nessa casa aguenta isso. Já são quase adultos, não podem mais ficar brigando como crianças. Quero cada um no seu quarto, estão de castigo durante o resto do fim de semana. Nada de festas ou amigos.
- Não é como se fizesse alguma diferença na vida dele.
- Peter, nem mais uma palavra. Vão agora.
Assentiram, indo para seus respectivos quartos.
Andy sentia tanta raiva que queria quebrar algo. No entanto, precisava se controlar. Sua mãe já estava irritada o suficiente. Pelo menos o castigo tinha um lado bom, não precisaria ver os amigos idiotas de Pete. O único ponto ruim disso era não poder ver Joe. Nem sequer sabia o porquê de ser ruim, mas queria vê-lo, mesmo que pelos breves segundos no corredor.
Decidiu que era melhor estudar, o que foi difícil com a sua mente distraída. Não conseguia tirar algo dos seus pensamentos. Joe o achava legal. Como diabos alguém como ele podia achar isso? Era totalmente interessante, fazia festas e tocava em uma banda. O que tinha de legal em um cara que desistiu de tocar bateria para entrar em uma faculdade? Nada. Absolutamente nada. Era incapaz de entender.
O tempo se arrastou, logo chegou o horário do jantar, que foi estranho e silenciosamente. Seu irmão o fitava de um jeito diferente, não parecia irritado, apenas melancólico. Nunca havia visto-o daquela maneira, estava começando a se sentir culpado, mesmo que não soubesse a razão. Aquilo foi o assunto da vez que ficou na sua cabeça enquanto tentava estudar. Tudo só ficou mais confuso quando escutou leves batidas na porta.
- Entra - falou em um tom desanimado.
- Oi... - Pete quase sussurrou.
Andava de um jeito que não parecia com ele mesmo. Estava quase se arrastando, com uma expressão totalmente triste.
- Podemos conversar?
- Claro.
- Posso me sentar?
Ele nunca pedia permissão. Nunca.
- Sim - franziu a testa.
- Preciso falar uma coisa, há muito tempo. Eu... nunca contei para alguém tão próximo de mim, sei que não posso confiar nos nossos pais e você... é o único que sei que não seria capaz de me julgar.
Andy não sabia como agir. Confiava nele? Era praticamente impossível. Só passava o tempo todo irritando-o. Não fazia sentido. Provavelmente devia ser algum tipo de pegadinha, algo assim. Por mais que sua linguagem corporal parecesse indicar que estava sentindo algo.
- Eu...
- Fala, Peter. Não tenho tempo para suas brincadeiras idiotas. Se quer me fazer ficar preocupado, parabéns conseguiu. Considere uma vitória. Pode ir agora.
- Não... é-é verdade. Preciso falar.
Revirou os olhos, pretendendo voltar aos estudos.
- Claro. Você já fez isso antes, não acredito...
- Eu sou gay.
Congelou, sem saber como agir. Ficou em silêncio por breves segundos.
- Isso é sério, não é?
Assentiu, fechando os olhos enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas.
- Me desculpe, pensei que...
- Entendo. Não faz sentido querer te falar. Nem sei a razão de ter feito isso. Melhor eu ir.
Antes que pudesse se levantar, o mais velho falou:
- Não, fica. Por favor, Pete, vamos conversar.
- Tudo... bem.
Notou que havia parado de chorar.
- Por que quis me contar?
- Não sei em quem mais confiar. Você me parece mais compreensivo em relação a... isso. Os únicos que sabem são o Joe e o, uh... Patrick, obviamente.
Ao tocar no nome, desviou rapidamente o olhar. Finalmente algo pareceu se encaixar em sua mente.
- Você e o Patrick namoram?
- Não, não, não. Só... nos beijamos algumas vezes. Nada mais que isso.
Era estranho. Nunca havia imaginado Pete daquela maneira.
- Queria contar para nossos pais, mas não se iriam entender e... Estava cansado de guardar isso por tanto tempo. Um segredo assim machuca. E as palavras da sua mãe hoje me fizeram pensar que eu tenho um irmão. Alguém com quem posso contar, mesmo que você me odeie na maior parte do tempo. E acho que é o tipo de coisa que se compartilha com irmãos, certo?
Tinha voltado a chorar, fazendo com que o ruivo se levantasse e fosse sentar ao seu lado.
- Não te odeio. Quer dizer, tirando a maior parte do tempo. Sei que fui bem cruel durante esses anos, acho que só jamais estive preparado para dividir tudo com alguém como você. Tipo, cara, você é perfeito. Bonito, talentoso, um atleta.
- Bem, pelo menos não vai ter que dividir a atenção de nenhuma garota comigo.
Começaram a rir. Aquele momento lhes causava uma sensação de estranheza. Jamais haviam tido aquele tipo de relação. Parecia tão certa. Passaram anos brigando e discutindo por razões idiotas quando não tinham motivos para isso. Seria tarde demais?
- Você me perdoa por aquelas coisas da briga de hoje?
- Disse que todos seus amigos são idiotas, acho que sou eu quem tem que pedir desculpas.
- Realmente acha isso?
- Nem todos, mas uma grande parte.
- Não posso tirar sua culpa. E, ah, desculpa pelo seu braço também. A brincadeira do Brendon foi idiota. Oh, agora entendo o porquê de chamá-los dessa maneira.
- Então estamos na paz?
- Não posso prometer que nunca mais vamos brigar.
- É, acho que isso seria fisicamente impossível.
Riram. Tudo estava se encaixando perfeitamente. Talvez não se odiassem mais tanto. Talvez pudessem mesmo ser irmãos.
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One shots
FanfictionApenas idéias aleatórias que vêm na minha mente e são escritas em formas de pequenas estórias. ★ Peterick ✩ ★ Trohley ✩ ★ Frerard✩ ★ Rikey ✩