CAPÍTULO 13. GATILHOS

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— O quê? – Gabriela perguntou, quase sem voz.

— Você... Transou... Com a sua chefe?

— Não era seu pai no telefone, era?

Gabriela sentiu uma nuvem cinza pousar em cima das suas cabeças.

— Você não responder à pergunta não te ajuda em nada.

— Isso foi há muito tempo.

— E fez isso pra conseguir seu emprego?

— O quê?! É claro que não! Isso... Isso foi meses antes de eu ser contratada.

Camila sentiu a respiração pesar, mas sabia que o seu autocontrole deveria ser maior naquele momento, afinal, estava praticamente cobrando uma estranha.

— Eu já sabia dessa história antes?

— É claro que sim. Nós tivemos duas vidas opostas antes delas se cruzarem, não escondemos nada uma da outra.

— Foi ela que te ligou aqui hoje cedo, não foi? – Bufou alto. – Ela ligou pra você, e você só... Foi correndo pra ela e me deixou aqui?

— Camila, ela é minha chefe, precisava de mim no restaurante. Que motivação eu tinha pra ficar aqui depois te ver com o seu ex, sem se importar comigo e recebendo flores?

— Eu sei, eu... Eu sei. Porra. Eu sabia que alguma coisa nesse nome me incomodava.

Gabriela manteve-se em silêncio por alguns instantes. Conhecia Camila bem o bastante pra saber quando sentia ciúme, e falava apenas o suficiente.

— Você tá com ciúme?  – Perguntou baixo, quase com medo da reação que a pergunta causaria.

— O quê? Eu não estou com ciúmes! Eu só... Eu sinto que eu odeio essa mulher.

— Você não odeia ninguém. Você é uma pessoa boa, e ela também. Nunca houve briga, muito menos qualquer disputa, o nosso passado sempre foi só passado.

— Acho que eu só escondia muito bem. Porra, minhas mãos estão tremendo...

— Fica calma, me dá suas mãos aqui.

Gabriela tomou suas mãos com cuidado e alisava as palmas devagar.

— Me conta. – Camila respirava fundo – Eu quero saber. Como aconteceu e como acabaram trabalhando juntas? – Usou um tom que nitidamente cobrava explicações.

— A minha turma da faculdade foi convidada pra um evento dela, eu tinha acabado de terminar meu noivado, era imatura, inconsequente, e... Só... Aconteceu. No semestre seguinte, eles convidaram alguns alunos pra um estágio no restaurante e eu fui uma das selecionadas. Era um estágio importante e eu tinha certeza de que não a veria de novo, ela não morava no Brasil, mas... Enfim. Algumas semanas depois, em uma noite, a gerente não pôde comparecer, tinha chovido muito e ela acabou ficando presa em um ponto de alagamento. O restaurante precisava prestar contas de alguns fechamentos e como era o último dia do mês, era impreterível, política da empresa, todos os fechamentos e relatórios precisavam ser feitos naquela noite. Como a responsável não compareceu, um assistente pessoal da Paola foi até a cozinha e perguntou quem poderia fazer essa tarefa e eu tinha alguma experiência com isso. Me senti um piloto de teco-teco tendo que aterrissar um Boeing. Eu passei a noite inteira enfiada naquela sala, quebrando a cabeça pra finalizar tudo, mas as contas não fechavam... Depois de umas 10 horas eu percebi que havia um rombo no caixa de mais ou menos 450 mil reais. Quando eu fui mais a fundo, descobri que, todo mês, esse valor era desviado e maquiado nos fechamentos.

— Então você transou com ela e descobriu um calote que davam nela? É claro que ela iria te contratar depois disso. – Camila ria com um certo desespero.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora