CAPÍTULO 33. COLDPLAY? SÉRIO?

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Gabriela cantava pneus na volta para casa. O caminho parecia eterno. Subiu as escadas do prédio correndo, como se estivesse em uma cena de filme, tentando impedir que Camila pegasse o voo que a levaria embora para sempre. Entrou no apartamento ainda ofegante e parou, ainda sem saber o que diria à Camila.

— Camila? – Gabriela olhou por todos os cômodos da casa, até constatar que estava vazia.

Tirou o celular do bolso e sabia que mandar uma mensagem estava fora de cogitação, precisava ouvir sua voz e ter o mais perto que fosse de uma conversa. Discou o número, que sabia de cor, e esperou aflita a cada toque, até que atendesse.

Oi... – A voz de Camila parecia desanimada.

— Oi. Tá tudo bem? Onde você tá?

Você pode sair sem avisar, mas eu não posso? – O tom demonstrava mágoa pela atitude de Gabriela.

— Desculpe, eu... Tava com meu avô. Fui levar uma foto da ultrassom pra ele.

Tudo bem. Eu tô com meus pais.

— A...chei que iria mais tarde.

Resolvi vir mais cedo. Minha irmã também está na cidade, vamos sair pra comprar uma roupa que me sirva pra hoje à noite.

— Certo. Olha... Eu queria conversar com você.

Sobre o quê?

— Sobre nós.

Gabriela ouviu a respiração funda de Camila ao outro lado da linha.

Olha... Não sei o que mais podemos conversar.

— Eu queria te pedir desculpas. Você tem todo direito de estar furiosa, as coisas deveriam ser do seu jeito.

Não quero que as coisas sejam do meu jeito, Gabriela, só quero que sejam certas. Eu sei que nem sempre tenho razão, eu sou insegura, eu sinto ciúme, eu tô sob influência de hormônios o tempo inteiro e tudo isso é novo pra mim. Eu só queria que a nossa relação fosse firme, como você me disse que era! Não quero sua chefe te ligando no meio da noite, sua vizinha te alisando, pensar em você com elas me tira do sério!

— Eu juro que não sabia que isso te incomodaria tanto, você nunca me disse nada, nós nunca brigamos por isso.

Eu preciso te dizer que não quero outras mulheres em cima de você? Sério?

— Não, não é isso, eu... Só achei que a gente estivesse bem.

Isso não é o que mais me magoa. Você sabe que me machucou antes disso tudo, o que aconteceu hoje foi só mais um agravante.

— Quero que a gente converse sobre o casamento também.

Conversar o quê? – A voz de Camila demonstrava que ainda estava quebrada por dentro. O casamento parecia o seu Calcanhar de Aquiles.

—  Queria que você entendesse o meu lado e meus motivos.

Já passei tanto tempo pensando sobre isso, Gabriela... A conta não fecha. Você esteve comigo desde o começo, não me abandonou, não forçou a barra comigo, cuidou de mim, até aturou desaforos e brigou por mim, fez eu me apaixonar por você, pra no fim das contas simplesmente não querer casar comigo. Por que se deu ao trabalho de me conquistar de novo? Poderia ter cancelado o casamento no dia em que eu acordei naquele hospital sem a menor ideia de que estava com outra garota, pelo menos teria me restado alguma dignidade no fim. – Camila continha o choro preso na garganta.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora