CAPÍTULO 16. PRIMEIRA SESSÃO

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Às 6:05h, Camila estava de pé. Tomou um banho quente e escolheu as melhores peças que encontrou no seu lado do guarda-roupa. Esperimentou com cuidado todos os colares e joias que tinha. Abriu a porta do quarto centímetro por centímetro, pra que não fizesse barulho. Caminhou na ponta dos pés até a sala, onde Gabriela dormia. Tentou desviar o olhar, mas não pôde deixar de notá-la. Fazia jus à expressão "sapatão", tinha uma postura dominadora e sensual, mas até dormindo transparecia calma.

— Certo, como se isso fosse me ajudar... – Sussurrou, falando sozinha.

Caminhou em passos curtos com o par de salto alto na mão até a cozinha e procurou algo rápido e silencioso que pudesse comer antes de sair. Porém, se nessas horas o item que você escolher for uma leiteira, ela vai escapar das suas mãos e anunciar que alguém já está acordado.

— Merda! Shhh! – Camila sussurrou, juntando a peça do chão.

— Tá tudo bem aí? – A voz sonolenta de Gabriela perguntou da sala.

— Tudo, tudo bem, pode voltar a dormir.

— Precisa de ajuda?

— Não, eu só... – Camila cerrou os olhos com força, buscando uma frase que fosse convincente o suficiente. – Levantei pra tomar um copo de leite.

— Tudo bem.

A voz embriagada de sono encerrou e arrancou um suspiro aliviado de Camila, que tratou de seguir sem fazer nenhum barulho excessivo. Queria uma caneca gigante de café, mas sabia que a gravidez não a permitiria esse luxo por um bom tempo. Preparou um copo de leite morno e um sanduíche simples, e bebia em pequenos goles, enquanto olhava fixamente para o nada. De onde estava sentada, só via uma das mãos de Gabriela, pendurada para fora do sofá. Tentava exorcizar todos os flashes do sonho que tivera, quando foi interrompida pelo alarme do celular de Gabriela sobre a mesa. Pulou para desativá-lo antes que a acordasse e viu na tela o alerta do alarme disparado...

"6:45h - Remédios da linda"

O sorriso no seu rosto durou poucos segundos. Na tela inicial, também havia uma foto das duas juntas, que até poderia comovê-la, não fosse as notificações que fizeram o coração pular um batida.

4 chamadas perdidas
Paola

Mensagem de Paola às 4:18h:
Você tá bem?

Camila não era uma pessoa controladora, especialmente em relacionamentos. Sentiu-se parcialmente culpada por ter lido as notificações do celular da namorada, mas a raiva pelo que havia lido era maior que a culpa. Bufava, sem dizer uma só palavra, dessa vez nem para si mesma. Na noite anterior, sua primeira na casa, havia dormido sozinha, antes que Gabriela tivesse voltado do restaurante, e a incerteza do que acontecia entre Gabriela e Paola quando não estava por perto a corroía. Colocou o celular novamente no mesmo lugar, tomou os remédios que estavam sobre a bancada, pegou seu celular e bolsa, e saiu. Deixou pra trás apenas a vontade de bater a porta com força.

Às 7:30h, estava no endereço indicado: Dra. Sarah Cortez, psicóloga e especialista em traumas. Anunciou à recepção e foi orientada a aguardar nos assentos em frente ao consultório. Alguns minutos depois, viu uma mulher de meia-idade, muito bem vestida e com um sorriso simpático entrar pela porta e seguir até o consultório com chaves na mão.

— Bom dia. – A mulher cumprimentou.

— Bom dia.

— Você é...?

— Camila. Camila Mir. – Estendeu a mão.

— Ah, sim! – Cumprimentou-a – Nosso horário não é daqui uma hora e meia?

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora