Duas longas semanas se passaram e Camila sentia que os dias se arrastavam e voavam, ao mesmo tempo. O dia do casamento já parecia estar à porta e parecia que não chegaria nunca. Bianca estava empenhada com a cerimônia e as duas estreitavam laços cada dia mais. Apenas um detalhe ainda incomodava Camila, e naquela manhã de sexta-feira, enquanto tomavam um café, não pôde mais conter. Respirou fundo antes que as palavras saíssem de sua boca, por saber que ali, todo o processo que martelava na sua cabeça iniciaria.
— Preciso de um favor.
— Mais um?! – Bianca sorriu, entregando que brincava. – Diga.
— O que você disse sobre a mamãe, sobre... Conversar com ela... Acha mesmo que eu deveria?
— Acho mesmo.
— Então eu preciso que me leve até ela. Mas... quero que fique junto comigo, ou pelo menos perto, nem que seja só pra um apoio moral.
Bianca coçou a cabeça levemente. Por mais que incentivasse, sabia que não seria uma tarefa fácil. Assentiu com a cabeça e sorriu, tentando dar um pouco de coragem à Camila, mesmo não tendo muita para si naquele momento.
***
— Pai! – Camila assustou o pai, que estava virado de costas e mexia na terra do jardim, e gargalhou do pulo que deu. – Vem, levanta, me dá um abraço, eu não posso me agachar ou a sua neta pode escapar.
— O quê...?! – O pai espantou ao vê-las. – Que surpresa boa!
Camila deu um abraço forte no pai, sem se importar com toda a terra que tinha na camiseta. Ele seguiu também abraçando Bianca, dessa vez com mais cuidado.
— Como vocês duas estão? Não desgrudam mais... — Ele soou satisfeito com o que via.
— Estamos bem, correndo bastante pra fazer tudo a tempo.
— E essa pequena? – O pai alisou a barriga de Camila.
— Pequena? – Camila gargalhou, inconformada. – Olha o tamanho que ela tá me deixando! E agora inventou de se mexer o tempo todo.
— Isso é bom sinal, deve estar ansiosa pra sair.
— Espero que saia assim que estiver pronta, eu nem lembro como é caminhar sem parecer um pinguim. – Camila bufou.
— Nossa, você está igual à sua mãe quando estava te esperando. – O pai não conteve uma risada nasal, recordando. – Mais 2 meses, quando ela estiver do lado de fora, você vai voltar à forma normal...
— Pai, falando da mamãe... – Bianca puxou o assunto em tom casual e as duas se entreolharam. – Onde ela está?
— Está lá dentro, trabalhando naquele quadro.
— Ainda aquele quadro? – Bianca franziu o cenho. – Achei que ela tivesse desistido quando vocês foram pra Itália.
— Eu também, mas ela decidiu continuar quando voltamos.
— Que quadro? – Camila perguntou, confusa.
— Ela está pintando um quadro há mais de um ano. Pára, desiste, volta, pára, guarda, volta, e por aí vai...
— Vão lá dentro. – O pai abriu passagem. – Podem ir, tentem tirar ela daquele transe.
Bianca e Camila se entreolharam mais uma vez, sabendo que não seria uma missão fácil. Deram mais um beijo no pai antes de seguirem rumo ao destino final. Bianca segurou forte a mão de Camila, como quem lhe desejasse força.
— Oi, mãe.
Camila e Bianca adentraram o cômodo com passos tímidos. Sua mãe estava de costas, e dedicava sua atenção completa ao quadro que pintava delicadamente.
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Você, de verdade (Romance lésbico)
RomanceLivro 2 concluído - Sob Nossas Peles: https://w.tt/2RUs4tJ O que acontece depois do "felizes para sempre"? Essa é a história de Camila e Gabriela, um casal que vivia feliz para sempre. Até o capítulo seguinte. Após um acidente de carro que quase lhe...