CAPÍTULO 43. TUDO NOVO

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— Camila, você tem sangue de barata, é? – Júlia esbravejou, de braços abertos. – Se eu pegasse outra mulher cheirando a roupa do meu namorado, eu faria ela engolir!

As duas caminhavam sem pressa pelo longo corredor de uma loja. Júlia guiava o carrinho de compras com os antebraços, quase debruçada sobre ele, analisando os itens coloridos para o enxoval do bebê.

— Você acha que uma parte de mim não quis fazer um escândalo? Mas eu... Não tinha como, era visível que ela tava mal.

Júlia revirou os olhos e negou com a cabeça.

— Às vezes nem parece que a gente é da mesma família.

— Eu morro de ciúmes da Gabriela, mais até do que eu gostaria, mas naquela hora eu só consegui me colocar no lugar dela, sabe? – Camila suspirou, enquanto remexia em alguns bichos de pelúcia. – Se a Paola fosse a noiva da Gabi e eu passasse todas as noites com ela por anos, à essa altura eu também estaria cheirando as roupas dela.

— Pelo menos isso vocês têm em comum: São duas pervertidas que cheiram a roupa suja dos outros. – Gargalhou em tom de deboche, cobrindo a boca com uma das mãos.

Camila semicerrou os olhos, em indignação.

— Não me arrependi de não ter feito um barraco. Aliás, essa história me deu um certo alívio. – Deu de ombros.

— A chefe da sua mulher cheira as roupas dela e você fica aliviada?

— É claro, pelo menos isso é um sinal de que não cheira a Gabriela pessoalmente há muito tempo. Eu sinto muito que ela tenha saudades, mas é bom saber que ela não tenta matar essa saudade. Ou, se tentou, não conseguiu. – Camila piscou, lançando um beijo no próprio ombro.

— Nossa, você realmente conseguiu ver um lado bom nessa história... E você não contou nada pra Gabi?

— É claro que não, tá doida? Eu só quero enterrar essa história tão fundo que se perca no núcleo da Terra. – Bufou. 

— Acho que esse bebê aí dentro tá colocando um pouco de maturidade na sua cabeça...

— E sabe o que eu acho? Que a gente devia ter chamado alguém com filhos pra ajudar a gente nisso. Olha só pra isso aqui, nada combina! – Camila remexia nos itens, com o cenho franzido. – E que caixa é essa aqui?

— Uma bicicleta. – Respondeu em tom óbvio.

— O quê?! – Camila gargalhou, incrédula. – Júlia, a minha filha tem o tamanho do assento dessa bicicleta, quanto tempo você acha que ela vai ter quando conseguir andar nisso? Você não acha que antes disso vem, sei lá, um carrinho de bebê, andador...?

— Eu acho que a Gabriela ficou com a parte fácil.

— A Gabi tá montando todo o quarto sozinha, você acha que a gente daria conta disso? – Camila levou as mãos à cintura, arqueando a sobrancelha.

— Ué, acho que sim.

— Não, Júlia, você só sabe desmontar e remontar pessoas. – Gargalhou, puxando o carrinho para que seguissem em frente. – Vem, vamos continuar tentando até acertar.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora