CAPÍTULO 9. EFEITOS COLATERAIS

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Júlia entrou no quarto, desta vez sem bater. Correu até a cama de Camila, com os olhos arregalados, ainda procurando algum vestígio de Gabriela no quarto.

— O que eu perdi?! – Perguntou, ofegante.

— Calma, cupido, ela já foi. – Revirou os olhos.

— O que vocês conversaram? O que aconteceu?

— Júlia, calma! – Parou-a com as mãos – Eu... Eu fiz o que você falou, olhei meu celular, nossas fotos, as mensagens, e... Achei injusto com ela, eu não podia simplesmente ignorar a garota ali fora.

— O que vocês conversaram?

— Sobre nós. – Disfarçou.

— Mas o quê?!

— Sobre... Sobre tudo – Deu de ombros – Eu fiz perguntas, ela respondeu, nada demais.

— Camila, você me chamou aqui pra isso? – Abriu os braços sem entender.

— Não, eu... Eu não sei, Júlia, eu... Fiquei extremamente nervosa! Olhar pra ela me deixa nervosa!

— De um jeito bom ou ruim?

— Não sei, eu não sei! Teve um... – Diminuiu o tom – Teve um momento que a gente ficou quieta, parada, se olhando e ela perguntou no que eu tava pensando, e... – Camila levou as mãos ao rosto.

— E...? O que você tava pensando? – Júlia arregalou os olhos, como se implorasse uma resposta urgente.

— Eu nem sei direito o que eu tava pensando! – Camila evitava o contato visual.

— Pois me diga sem saber direito, o que você tava pensando?! – Segurou os braços de Camila de modo que se olhassem diretamente nos olhos – Camila, você tava pensando no que eu acho que você tava pensando?

Júlia tinha um sorriso que implorava por uma resposta positiva.

— Júlia, você tem problemas mentais, com certeza eu não estava pensando no que você acha que eu estava! – Desvencilhou seus braços – Ela é uma garota!

— Ela é sua namorada! Vocês duas não se resistem há muito tempo! – Gargalhou. – Então você tem uma queda pela sua namorada, qual o problema?

— Eu não tenho uma queda por ninguém, deixa de ser maluca! Nem sei porque te chamei aqui. – Bufou.

— Pra me contar que teve uma queda pela sua namorada!

Júlia cantarolava rodopiando pelo quarto enquanto ria. A dança logo foi interrompida por uma enfermeira que entrava e a olhou esquisito.

— Bem feito. – Camila deu de ombros.

— É... Isso faz parte do tratamento dela. – Júlia se recompôs – Acho que por hoje é o bastante. 

— Sem dúvida. – Camila a olhava séria, como se não entendesse o que estava acontecendo.

— Isso não terminou aqui, viu!? – Riu por trás da enfermeira, enquanto saía da sala.

— Isso definitivamente termina aqui. – Camila conteve o riso.


***


Longe dali, Gabriela experimentava seu apartamento só para ela – e odiava. Colocou uma música para distrair, algumas séries, e quando a noite caiu, preparou uma refeição que pudesse realmente ser chamada assim, mas comer à mesa sozinha parecia um crime. Não costumava beber, então a terceira taça de vinho fez mais efeito do que deveria. Tentou ser egoísta por uma noite e não pensar na mulher que amava; jogou por horas, a essa altura já bebendo no gargalo. Sabia que Camila tinha o celular, mas não havia mandado nenhuma mensagem.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora