CAPÍTULO 20. HORA DO JANTAR

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Gabriela aguardava Camila, em uma situação que já estava acostumada: Se arrumar. Sabia que o resultado era sempre maravilhoso. Ouviu a porta do quarto abrindo e os passos de salto alto em direção a ela. Sentiu o cheiro do perfume se espalhar pela casa e sabia que o resultado não iria decepcionar; Camila não era uma mulher muito vaidosa, mas sabia se arrumar impecavelmente bem, até para ocasiões que não considerava importantes. Surgiu na sala usando um vestido preto, que realçava suas curvas e tinha um decote comportado para a ocasião. O batom vermelho e os olhos delineados não exigiriam mais nada, mas tinha uma maquiagem completa, apesar de discreta. Usava um par de brincos em formato de conchas – que adorava –  e um colar discreto no pescoço.

— E aí, o que você acha? – Perguntou de braços aberto, pedindo a aprovação de Gabriela.

— Caramba... Tá querendo me matar?

— Vou considerar isso um elogio. – Camila riu tímida, voltando ao quarto. – Vou pegar minha bolsa e podemos ir.

Gabriela não tinha dúvidas: Camila era a mulher mais linda do mundo. Sentada no sofá da sala, observava cada passo seu como se fosse uma modelo internacional desfilando no auge da carreira. Sentia que Camila brilhava – literalmente – em cada movimento. Estava quase em outra dimensão, quando Camila a despertou.

— Vamos? – Camila perguntou, estendendo a mão para erguê-la.

Gabriela era guiada por Camila, ainda de mãos dadas.

— É uma pena saber que não vou poder ficar te olhando assim a noite toda. – Provocou.

— Te mando uma foto. – Camila piscou, olhando para trás.

Seguiram até a garagem do prédio, desta vez com Gabriela guiando. Ao se aproximarem da vaga, o carro da vaga vizinha estacionava. Camila viu a morena estonteante sair do carro e olhar diretamente para Gabriela. Usava uma roupa de academia e o rabo de cavalo longo indicava um cabelo comprido bem cuidado. A morena seguiu até o porta-malas, de onde tirou algumas sacolas leves.

— Oi, Gabi. – A voz cumprimentou, indicando um nível de intimidade que desagradou Camila.

— Oi. – Gabriela respondeu tímida.

— Oi, Camila. Bom saber que está bem e se recuperando. – Sorriu, demonstrando um nível de intimidade bem menor. O que a incomodou mais ainda.

— Oi. Obrigada. – Respondeu, quase que, puramente, por educação.

Camila observou à cena, com lentes de atenção. Parecia um detetive iniciando uma investigação. Sentia, de longe, o cheiro de flerte. Acompanhou a morena por mais alguns passos antes de entrar no carro. Gabriela já estava dentro, aguardando.

— Tudo bem?

— Tudo. – Camila tentou responder em tom óbvio.

— Aquela é a Viviane, nossa vizinha.

— "Nossa" vizinha? Parecia que era só sua. – Deu de ombros, colocando o cinto de segurança.

— Ela me conhece há mais tempo, só isso. – Tentou tranquilizar. – Vocês nunca conversaram muito.

— Tudo bem, "Gabi". – Camila ironizou.

Gabriela apenas riu, dando a partida no carro. Aquele não seria o melhor momento para confrontá-la, mas conhecia bem a cena. Camila era virginiana, não era da sua personalidade fazer escândalos quando sentia ciúmes; de modo geral, agia daquela forma, com pequenas ironias ou com silêncio brutal, acompanhado de um bico que era visível de longe.

Seguiram em silêncio durante quase todo o caminho. Em uma parada de semáforo, Gabriela levou a mão direita à perna de Camila, quase por instinto. Camila tentou agir indiferentemente, mas não conseguia negar que sentir aquela mão no seu corpo a desestabilizava. Os dedos longos, as tatuagens, tudo era atraente. Decidiu desviar os olhos e voltar sua atenção à rua. A cidade continuava quase igual. O bairro onde seus pais moravam, definitivamente, mantinha-se o mesmo; uma região de classe média alta, afastada do Centro e de toda a agitação da cidade. De longe, pôde ver diversos carros ao redor da casa dos pais e sentia que havia caído em uma armadilha.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora