CAPÍTULO 14. OH, HOME

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— Não vai me convidar pra entrar? – Camila tinha um sorriso tímido nos lábios.

— Vou, é claro, me desculpa. – Gabriela passou-a para dentro – O que você tá fazendo aqui?

— Eu moro aqui, não sabia?

— Mas como... Como você chegou até aqui? – Gabriela tinha o cenho franzido e uma expressão absolutamente descrente.

— Eu descobri que tem um aplicativo no meu celular que te rastreia. – Camila a olhava séria. – Eu tô brincando! A minha conta do Uber tem o endereço "Casa" salvo, só poderia ser aqui...

— E como subiu?

— Eu ia pedir pro porteiro te chamar, mas ele me recebeu todo feliz, colocou minha mala no elevador e acho que não percebeu que eu não nem sei quem sou quando eu perguntei qual era o seu apartamento.

— Faz sentido, você mora aqui. – Riu.

Os dois corpos, finalmente, estavam frente a frente. Por alguns segundos, apenas se olharam, sem saber o que diriam, ou o que fariam dali pra frente.

— Está nervosa? – Camila deu-lhe um leve empurrão, disfarçando sua timidez.

— Acho que um pouco... E você?

— Bastante... – Respirou fundo. – Então, essa é a nossa casa.

— É sim... Deixa eu colocar sua mala e a bolsa aqui. Pode ficar à vontade.

Camila não sabia explicar, mas o cheiro daquele lugar a deixava confortável. Todos os móveis, as cores, tudo era agradável e muito bem disposto. Deu alguns passos tímidos até chegarem à sala de estar.

— Gosto do cheiro daqui. – Camila sussurrou.

— Tem o seu cheiro.

— Não, acho que é o seu. Além do mais, eu fiquei fora por um tempo, não deve ter mais nada meu aqui. – Riu.

— Tem tudo seu aqui. Eu não consegui trocar uma colher de lugar.

Gabriela observava atentamente as mãos de Camila e todos os dedos, que deslizavam sobre móveis, conhecendo o lugar pé por pé, como um gato.

— Achei que estivesse com seus pais.

— Estava. Meu pai apareceu no hospital às 4 da manhã e conversou com o médico de plantão, minha mãe o pressionou pra que me dessem alta e acabaram cedendo à voz autoritária... Amadores. – Riu. – Eles me levaram pra tomar um café e é óbvio que minha mãe quis me levar direto pra casa deles e meu pai me apoiou em vir pra cá, então... Aqui estou eu.

— E como você tá se sentindo sobre isso?

— Hmm, vejamos... – Camila levou a mão ao queixo, enquanto olhava a parede, pensativa. – Eu dormi triste, acordei várias vezes durante a noite porque minha mãe ronca feito uma cafeteira passando café, levantei às 4 da manhã e vi meus pais discutirem a manhã toda sobre a minha liberdade de escolha enquanto eu comia por duas pessoas, então... É, estou cansada.

— Por que dormiu triste?

Camila soube na hora o que sua cabeça respondeu: A verdade.
"Porque você foi embora com outra mulher".
Mas a frase que saiu de sua boca, improvisada, porém em um tom incrivelmente natural, foi outra.

— Ah... É só modo de dizer. – Deu de ombros – Minha companheira de quarto não era muito agradável...

— Quer descansar um pouco? Vem, eu te levo. – Gabriela tomou Camila pela mão e guiou até o quarto do casal. O cômodo tinha paredes brancas, e uma cama grande com travesseiros e edredom brancos, que pareciam atrativos demais pra serem ignorados.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora