CAPÍTULO 10. LAPSOS

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— Gabriela, espera... – Camila estendeu a mão em sua direção, já sabendo que não conseguiria contê-la.

— Que porra é essa, garoto? O que você tá fazendo aqui e com essa droga de flores!? – Júlia tomou as dores, arrancando o buquê e jogando-o no chão.

— Que droga, Pedro! Você sabia que ela tava aqui! – Camila socou o colchão com os punhos cerrados.

— Calma, só quis te trazer um agrado, não precisa ficar nervosa. – Pedro quase sorria, satisfeito pela confusão que havia causado.

— Pedro, deixa a gente a sós, por favor. – Camila esfregava as mãos na testa.

— Tudo bem, te espero. – Beijou sua mão.

— Pedro – Desvencilhou-se – Só... Vai.

Júlia apoiava-se com uma das mãos no leito e a outra na cintura, e tinha uma postura indignada. Aguardou em silêncio até que que a porta fechasse e estivessem a sós.

— Quem é Paola? – Camila torceu o nariz.

— Por quê?

— Não sei, talvez porque essa garota liga e estala os dedos e ela vai correndo?!

— Por que você se importa?

— Eu não me importo, só... Quero saber.

— Você terminou com ela?

— O quê? Não.

— Você quer terminar?

— Você espera que eu simplesmente fique com uma pessoa que eu nem conheço?

— Se ela fosse um homem, se você acordasse e fosse um outro cara ao invés do Pedro, você tentaria ficar com essa pessoa desconhecida, não?

Camila hesitou em responder. Sabia a resposta, mas não a entregaria de bandeja.

— Eu não tenho nada contra ela, só... Não me vejo com ela dessa forma!

— Não estou dizendo pra você ir pra um quarto transar com ela, estou sugerindo que vá pra sua casa, que também é a dela, e experimente a rotina que você tinha antes do acidente, isso vai te ajudar!

— Será que eu posso pensar?!

— E já não está!?

— Só me deixa ficar sozinha. – Bufou.

— Isso quer dizer que eu posso mandar aquele peso inútil ali fora embora?

— Ah, Cristo, ainda tem mais essa! – Cobria o rosto com as mãos – Deixa ele entrar pra eu me despedir.

— Pensa rápido, seu tempo tá esgotando. Você provavelmente vai ter alta amanhã.

Júlia despediu-se de Camila com um beijo seguido de um olhar que a fuzilava, como a de uma mãe que acabara de dar uma bronca no filho. De dentro do quarto, Camila, apesar de toda a preocupação, não pôde conter a risada ao ouvir a voz de Júlia no corredor para Pedro.

Se despeça e vá embora, cuzão! 

— Nossa, que gênio forte, hein!? – Pedro ria, enquanto fechava a porta do quarto com cuidado.

— Me desculpa por isso, Pê.

— Não tem problema, eu é que deveria te pedir desculpas, não queria causar essa confusão.

— Não, relaxa, essa confusão já está instaurada por várias razões.

Pedro sentou-se junto à Camila e aproximou seu rosto, vidrado em sua boca. Camila conhecia aquela expressão; para ela, ainda parecia extremamente recente, apesar da diferença física de todos os anos que haviam se passado e da aparente postura de adulto que - finalmente - tinha alcançado. Em um piscar de olhos, sentiu seu corpo sendo puxado contra o dele, de uma forma urgente, em uma versão do rapaz que ela ainda não conhecia. Sentiu uma mão invadir suas costas e percorrer até sua nuca, enquanto a outra apertava seu quadril. Entregou-se por alguns segundos, que não sabia quantos eram, e talvez fosse melhor não contá-los.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora