CAPÍTULO 12. ESTRANHAMENTOS

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Júlia corria, atravessando os corredores do hospital, e ignorando qualquer sinal que recebia. Não conseguia ouvir nada além da própria respiração e os batimentos do coração. Avistou Camila sentada, em silêncio, ainda apresentando sinais de choque.

— O que aconteceu? – Virou-se ao médico que a atendia.

— Ela teve um sangramento. Estamos aguardando o resultado dos outros exames mas, pela ultrassom, a princípio estão fora de perigo. O ideal é, daqui pra frente, fazer um acompanhamento mais intenso da gestação.

— Como você está? – Júlia aproximou-se de Camila, que segurava um copo d'água em silêncio; o rosto vermelho denunciava o choro.

— Eu não sei o que aconteceu, eu só... Eu só levantei e caminhei e senti uma dor, eu...

— Fica calma, tá tudo bem, você tá bem.

— Júlia... – Camila olhou no fundo dos seus olhos – Eu não pensei em mim nem por um segundo. Quando eu senti que poderia estar tendo um aborto espontâneo, eu... Eu entrei em pânico.

— Acho que isso não foi pânico, Mila... Acho que foi instinto materno.

— Eu não sei como me passou pela cabeça fazer isso com ela. – Falava sozinha.

— Fazer o quê? Com quem?

— Ai, eu sou uma burra, Júlia, uma burra!

— Calma, Camila, você ainda está em choque. Tá tudo bem agora, você e o bebê estão bem. Eu vou pedir pra alguém vir passar a noite com você aqui, tá bem?

— Não, eu não quero que ninguém saiba o que aconteceu.

— Por quê?

— Porque... Não.

Camila evitava o contato visual. Sentia uma angústia que jamais havia sentido antes, ou só havia sentido nos anos que não lembrava.

— Desculpa, Mila, eu liguei pros seus pais e avisei a Gabi.

— O quê?! Por que você fez isso?

— Eu não sabia a gravidade do que tava acontecendo! Olha, de qualquer forma, o horário de visitas já acabou por hoje, eles só vão poder ter informações e aguardar na recepção... Mas eu posso pedir pra alguém ficar aqui com você essa noite.

— Eu quero meu pai.

— Tudo bem, assim que eles chegarem, eu informo que seu pai vai ficar aqui com você.

Camila tinha os olhos marejados, aparentava estar cansada, como se tivesse passado por um desgaste imenso.

— Júlia... Você acredita em sinais?

— Depende – arqueou uma das sobrancelhas – Que tipo de sinal?

— Nada, não. É coisa da minha cabeça.

Camila não sabia quanto tempo havia se passado até que a enfermeira lhe dissesse que sua companhia havia chegado.

— Oi, meu bem.

— Mãe? O que você tá fazendo aqui?

— Ué, nos ligaram pra passar a noite aqui.

— Eu pedi pro papai vir passar a noite comigo.

— Seu pai teve um compromisso de última hora e não estava disponível, então... – Disse, tirando o sobretudo e colocando sobre o leito.

— Como assim? O papai jamais faria isso!

— Tá certo, Camila, ele não sabe o que aconteceu, está em um jantar com alguns amigos da cidade e não quis interrompê-lo.

— Por quê? Por que você faz isso, mãe? – A frustração de Camila era quase palpável.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora