CAPÍTULO 37. REUNIÃO FAMILIAR

4.3K 285 74
                                    

— Acabamos mesmo de transar na casa dos meus pais?

Camila caçava as roupas pelo chão e jogava as peças de Gabriela para que as vestisse, sentada à beira da cama. Parou, por um segundo e observou a garota que se vestia, também a encarando, com um sorriso satisfeito. Não pôde conter uma mordida no próprio lábio ao pensar no que haviam acabado de fazer e nas circunstâncias daquela situação. Aproximou-se em passos lentos de Gabriela, mirando seu corpo todo.

— Você me come no meu quarto, na casa dos meu pais, em plena véspera de Natal e com a casa cheia de gente? Não tem vergonha?

— Não gostou? – Gabriela encurtou a distância entre as duas e arqueou a sobrancelha, com um sorriso sugestivo.

— Eu adorei. – Camila sussurrou, em sinal de confissão, e deu-lhe beijo no canto da boca. – Mas a gente perdeu completamente a noção do tempo.

— Sabe que a sua mãe pode estar do lado de fora esperando a gente com uma espingarda, né?

— Ela não tem armas... Mas essa casa tem muitas facas.

A frase arrancou uma risada de Gabriela, que já terminava de se vestir. Camila continuou observando, em silêncio. Não soube explicar em que momento aconteceu, mas se flagrou mordendo levemente a ponta do dedo indicador enquanto a olhava.

— Então... – Camila puxou o traje levemente. – Eu só... Precisava saber... Estamos bem? – Torceu o nariz, mostrando timidez pela pergunta.

— Eu estava ensinando as palavras pra te fazer a mesma pergunta.

— Eu literalmente acabei de ficar de quatro pra você. O que você acha?

A constatação fez Gabriela gargalhar alto. Envolveu seus braços em torno da cintura de Camila, seguido de um longo beijo em sua testa.

— Eu estou de quatro por você o tempo todo.

Os olhos se encontraram mais uma vez, dessa vez com calma. Camila não sabia explicar, ou talvez só não quisesse constatar, mas a frase que quase havia dito na cama ainda estava engasgada na sua garganta e arranhava, insistia em querer pular pra fora.

— Não acredito que você me fez cair na sua de novo. – Camila fez bico, fingindo indignação. – Vamos.

As duas seguiram até a porta do quarto e Camila decidiu tomar a frente; tentou ouvir algum som que viesse do lado de fora, mas não conseguiu escutar nada específico. Girou a maçaneta lentamente, espiando para ver se havia alguém no corredor. Abriu a porta devagar e constatou que não havia uma única alma, mas só por precaução, seguiram pé por pé até o final do corredor. Camila ousou espiar o andar de baixo, mas o amontoado de vozes tornava qualquer fala incompreensível. Buscou a mãe com os olhos e a encontrou conversando com amigos, normalmente. Aparentemente, estavam a salvo.

— Acho que ninguém sentiu nossa falta, nem minha mãe! – Disse, visivelmente surpresa.

— Menos mal, eu gosto de viver. – Sussurrou com um sorriso. – E agora?

Camila tomou sua mão e entrelaçou seus dedos.

— Agora descemos.

A naturalidade de Camila assustava Gabriela. Não teve tempo sequer para respirar fundo antes de ser guiada escada abaixo, de mãos dadas. Sentia que o coração saltaria pela boca enquanto observava os passos de Camila, à sua frente. Estavam juntas, publicamente, e aquilo era tão maravilhoso quanto perigoso. No último degrau, parou e virou-se de frente. Camila soltou uma risada nasal ao perceber que Gabriela estava pálida, mas parecia realmente não se importar com o que diriam.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora