CAPÍTULO 15. REM

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Camila ouvia a própria respiração ofegante. Os gemidos eram abafados por outra boca, tão macia quanto a sua. Sabia o que estava acontecendo, só não sabia como. Estava por cima e sentia o toque de uma mão apertando sua cintura; suas mãos deslizavam pela nuca e cabelos do corpo colado ao seu. Percebeu que não era uma boca masculina, não eram mãos masculinas, não era um toque masculino. Sentia o corpo queimar à medida que o ritmo em que era penetrada aumentava. Agarrou-se com toda força ao corpo que a dominava em todos os sentidos da palavra. Encostou seu rosto ao rosto que tinha à sua frente e quando sua boca tocou os lábios, pôde sentir o sorriso que ganhava. Sabia que era Gabriela. Dessa vez, o sorriso tinha maldade, tinha toda a malícia e segundas intenções que Camila não havia visto nos seus sorrisos até então. Dali pra frente, seria impossível parar. Quase implorou para que Gabriela não parasse, mas sabia, pelo olhar que recebia, que iriam até o fim. Mexia os quadris e apertava as coxas contra o corpo de Gabriela de forma desesperada por aquela sensação.

"Como você faz isso?", Camila sussurrou em seu ouvido, mas não teve uma resposta.

Despertou em um pulo desesperado, como se a alma tivesse caído do céu novamente para dentro do corpo. Respirava ofegante e as pernas tremiam. Estava sozinha na cama.

"Puta que pariu... Isso foi sonho ou uma lembrança?"

Camila levou as mãos sobre a boca, incrédula do que havia acontecido. Não lembrava de já ter estado tão excitada quanto naquele momento. Sentia o corpo quente, quase em estado febril. Voltou à realidade aos poucos e, quanto mais voltava, mais confusa ficava. Sentou-se à beira da cama, ainda com as pernas fracas e levantou devagar. Caminhou em passos lentos até a sala, com as mãos sobre o rosto, e tentou assimilar o que havia acontecido. Percebeu que ainda estava sozinha e ficou aliviada em saber que, qualquer barulho que tivesse feito enquanto dormia, não havia sido escutado. Avistou o celular sobre a bancada da cozinha e leu a mensagem recebida 45 minutos antes...

"Oi, meu bem. Desculpa, vou me atrasar um pouco, mas logo volto. Tudo bem aí?"

Camila hesitou em responder, mas sabia que apenas olhar para o celular não seria a melhor resposta à uma pessoa que se preocupava tanto...

"Tudo bem. Tudo certo. Precisamos conversar quando você chegar."

Largou o celular novamente após enviar, mas sabia que a frase poderia ser cruel demais.

"PS: Não precisa se preocupar."

Camila levou as mãos à testa e sentia um calor que era um tanto quanto desconhecido. Talvez fossem os hormônios da gravidez, mas como explicar o fato de conseguir sentir sua pulsação no meio das pernas?

"'Meu bem'... Eu aqui ficando doida e ela com outra. Ótimo, Camila. Ótimo!"

Por vários minutos, vagou como uma alma penada pela casa, de cômodo em cômodo. Parou na sala e viu suas fotos na parede. Tudo parecia simples antes do acidente, mas parecia mais simples ainda antes da vida com Gabriela. Contou todos os segundos de todos os minutos até ouvir a chave na fechadura. Ali, não sabia se finalmente teria paz ou tormento dobrado. Quando a viu passar pela porta, quis correr para os dois lados; dela e para ela. Estava visivelmente inquieta. Dediciu, por fim, esperar o que Gabriela faria.

— Oi. – O sorriso cumprimentou. – Demorei?

— Não. Não sei. Acordei há pouco tempo.

— Tá tudo bem?

— Quero ver uma psicóloga. Na verdade, preciso. Urgente.

— Claro, tudo bem, podemos procurar uma especialista pra você. Aconteceu alguma coisa?

— Eu tive um pesadelo. Um pesadelo horrível. Acho que foi o pior pesadelo que eu tive na vida.

— Sério? – Gabriela aproximou-se, envolvendo-a em um abraço tão carinhoso que quase partia seu coração. – Você tava dormindo tão bem quando eu saí... Não se preocupa, seja lá o que você sonhou, não vai acontecer, tá bem?

— Eu sei... Não vai. – Respondeu com o olhar baixo.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora