CAPÍTULO 31. INSTINTOS

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— É uma menina. – O Doutor respondeu, com um sorriso calmo.

Camila e Gabriela se olharam e, naquele momento, houve trégua: Os olhos se cruzaram com felicidade e, pela primeira vez, Camila viu os de Gabriela marejados.

— É s... É sério?

As palavras saíram de Gabriela com dificuldade.

— Sério. Vejam. – Apontou. – Estou 100% certo, vocês vão ter uma menina.

— Ai, meu Deus! – Camila disse com as mãos sobre a boca e olhos arregalados. – Isso é... Incrível!

— Eu... Eu não sei nem o que dizer. – Gabriela levou as mãos à cabeça.

Camila ainda estava deitada sobre a maca e Gabriela se mantinha em pé da forma que podia, uma cena que parecia um tanto engraçada, de um jeito muito fofo, aos olhos de Camila.

— Vem cá, Gabi... – Camila passou os braços em volta do seu corpo em um abraço, apoiando a cabeça em seu peito.

— É uma menina. – Gabriela afirmava em voz alta, talvez ainda tentando se convencer de que aquilo era mesmo verdade.

— Tá feliz? – Camila perguntou, em um tom que quase pedia por uma aprovação.

— Muito! Eu... Não sei nem dizer o que eu tô sentindo. Eu ia amar igual se fosse menino, mas...

— Mas você queria uma menina, não é? – Arqueou a sobrancelha com um sorriso.

— Você não queria?

— Queria. – Confessou.

— Agora vocês podem escolher o nome, a decoração do quarto, as roupinhas... Ajuda a ficha a cair, não? – Dr. Alberto brincou.

— Demais! Nossa, o meu pai vai surtar quando souber!

— Um presente de Natal e tanto, não é?

— O melhor! – Gabriela fungava, ainda contendo a emoção.

A saída do consultório emanava uma vibração totalmente oposta à da chegada. Gabriela estava em êxtase. Abraçou Camila mais uma vez, sem pedir permissão, e lhe arrancou um suspiro surpreso. Ali ficaram, por alguns segundos, em silêncio. Camila afagou seus cabelos e ousou roubar um pouquinho do cheiro da pele que sentia. Estavam leves. Naquele momento, só existiam as três. O poder que havia naquele serzinho – agora já definido como uma garota – mesmo sendo minúsculo, era algo inexplicável. Gabriela caminhava pelo corredor olhando as fotos, que dessa vez já não pareciam tanto um amontoado de borrões e sentiu uma urgência em segurar a mão de Camila; tomou a ponta dos seus dedos com timidez, sem coragem de olhar nos seus olhos, e sentiu os dedos serem entrelaçados. Cruzaram a recepção já quase grudadas e aquilo, para Camila, era a cereja no topo de um bolo delicioso: Sorriu para a recepcionista e agradeceu, fingindo simpatia, colada ao braço de Gabriela.

— Você acha que devo contar pro meu pai agora? – Camila perguntou chegando ao estacionamento.

— Não quer esperar pra contar pessoalmente?

— É, se eu conseguir resistir... Queria postar uma foto dessa bebezinha no Instagram, em outdoor, tirar várias cópias e entregar pra todo mundo!

A frase arrancou uma risada de Gabriela.

— Você vai ser uma ótima mãe, sabia?

— Você acha? – Camila corou.

— Tenho certeza.

— Acho que não vai ser difícil ser mãe de uma menina que tem os seus genes. Se ela nascer com a sua paciência, ganhei na loteria... Mas se nascer com esse seu sorriso, vou precisar deixar uma vassoura atrás da porta pra espantar todos os garotos e garotas que vão bater na porta de casa apaixonados por ela.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora