CAPÍTULO 21. 12.mp3

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Próximo à meia-noite, Gabriela encostou o carro em frente a casa dos sogros para buscar Camila. Avisou por mensagem e aguardou alguns minutos até ouvir o som do portão abrindo. Viu Camila abraçar o pai e a mãe e seguir em passos longos até o carro, que estava próximo. Pôde, até, acenar para o sogro, com quem se entendia tão bem.

- E aí, como foi?

Gabriela puxou conversa, ainda com o carro desligado. Camila a olhava com olhos indecifráveis. Havia uma mensagem oculta na forma como aqueles olhos focavam nos seus. Encarou Gabriela por alguns segundos, e se aproximou, beijando-a brevemente. Era um beijo não-programado para nenhuma das duas.

- Me leva pra casa. - Camila pediu, apoiando a testa sobre o nariz de Gabriela.

- Tão ruim assim?

A pergunta, retórica, não teve resposta. Dali, deram partida e seguiram para casa. Camila ficou em silêncio durante todo o tempo, só falava para dar respostas ou fazer comentários. Gabriela preferiu não questionar o que a deixava tão mal, mas imaginava que teria algo a ver com a mãe, ou toda a pressão que a parte materna da família colocava sobre ela. O silêncio do horário e das ruas ajudava Camila a acalmar-se. Ao chegar no prédio onde moravam, o silêncio de lá também consolava. Sentia que queria estar a sós, ao mesmo tempo que isso era a última coisa que queria. Entraram em casa, ainda em silêncio, até que Gabriela quebrasse o gelo.

- Você quer comer alguma coisa?

- Não, estou bem.

- Comeu bem nos seus pais?

- Não, boa parte da comida me revirava o estômago.

- Então precisa comer alguma coisa...

- Já está tarde, como amanhã cedo. - Camila falava sem qualquer ânimo.

- Quer falar sobre o que aconteceu?

- Não... Não foi nada, só...

- Sua mãe falou alguma coisa?

"Minha mãe, como não pensei nisso antes?"

- Sim, minha mãe. Como sempre, consegue ser desagradável. Mas não quero falar sobre isso.

- É claro, tudo bem. Toma um banho e descansa. Seja como for, já acabou.

- Acabou, sem dúvida.

Gabriela sentia que a casa se tornava gigante quando estavam afastadas. Camila usava a suíte do quarto, e Gabriela o banheiro social do apartamento. Não queria sentir que morava com uma colega de quarto, mas também não poderia agir como se fossem um casal, apesar de serem. Em cantos separados da casa, deixavam a água morna tentar aliviar o cansaço do dia e afogar alguns dos próprios pensamentos. O silêncio era aliado e inimigo.

Gabriela terminou o banho primeiro. Secou apenas o excesso de água no cabelo com a toalha e colocou uma samba-canção - era a inimiga número 1 de usar calcinha em casa. Procurou uma camiseta limpa para dormir, sem sucesso, e decidiu procurar no quarto, onde Camila estava. Bateu à porta mas ouviu o secador de cabelos, sabia que Camila não a ouviria. Então decidiu arriscar: Entrou no quarto praticamente nua. Quando a busca da camiseta chegou ao fim, ouviu o barulho do secador de cabelo parar e a porta abrir em seguida. Camila nua, gritou, fechando a porta novamente.

- Gabriela!

- Desculpa! - Disse, fechando os olhos - Eu precisava de uma camiseta.

- Você não sabe bater?! - Camila gritou, do lado de dentro.

- Eu bati, você não ouviu. Quem seca o cabelo pelada?

- Existe alguma regra que estipula a ordem? - Camila perguntou, colocando apenas a cabeça para fora da porta. Viu Gabriela de olhos fechados, ainda sem blusa. Tinha apenas alguns segundos, ou frações de um, para memorizar a cena. Tudo em Gabriela era bonito, dos pés descalços à cabeça com o cabelo úmido, ainda meio bagunçado; mas a parte do meio era especialmente interessante. Seus braços e ombros, definitivamente, eram atraentes. Viu, pela primeira vez, seu abdômen e os seios. Sabia que o corpo era definido, mas viu o que as camisetas sempre escondiam. Era apetitosa. Nenhum dos outros adjetivos que passaram em sua cabeça nos segundos seguintes era mais inocente.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora