Você, de verdade (Romance lésbico)

CAPÍTULO 23. VAZIOS

Poucas horas depois, a luz que adentrava pelas frestas da cortina e o canto de pássaros, anunciavam que o novo dia havia chegado. Gabriela acordou e, ainda de olhos fechados, sentiu o corpo de Camila colado ao seu. Permaneceu imóvel, aproveitando aquele momento. Talvez Camila acordasse arrependida, talvez culpasse os hormônios da gravidez, talvez considerasse uma experiência isolada. Por via das dúvidas, sorriu enquanto ainda a tinha nos braços por vontade própria. Quase dormia de novo quando sentiu Camila se mover. Acreditou que ela se afastaria naquele momento, mas foi abraçada, repousando a mão sobre sua barriga e ajeitando o rosto colado ao seu pescoço. Deixou que a noiva definisse a cena, mesmo que talvez inconsciente. Sentiu um beijo leve no maxilar e não conteve o sorriso, que denunciou que estavam ambas acordadas.

— Bom dia. – Gabriela quebrou o silêncio.

— Bom dia. – Respondeu com um sussurro.

— Dormiu bem?

— Uhum... – Murmurou – E você?

— Bem.

Gabriela não sabia se deveria mencionar o ocorrido da noite passada, apesar de estar óbvio; estavam nuas, na mesma cama. Deixou à cargo de Camila qualquer comentário.

— Nossa, eu tô com a boca seca de tanta sede.

— Eu busco água pra você. – Gabriela fez uma menção à se levantar.

— Não, não precisa. Eu já levanto e busco.

— Não, eu faço questão. Fica aqui, já volto.

Gabriela sentou-se na cama e vestiu sua roupa. Sentia que Camila a observava, mas não comentou.

— Isso tudo é culpa? – Camila ergueu-se.

— Culpa? De quê?

— De quase ter me desidratado ontem. – Camila disse com um tom malicioso.

— Ah. Com certeza...

Gabriela caminhou em passos preguiçosos até a cozinha.

— Gabriela... – Ouviu a voz de Camila chamar, do quarto.

— Oi! – Respondeu por cima da porta da geladeira, enquanto buscava uma garrafa de água.

— Checa seu celular.

— Por quê? – Perguntou, procurando o aparelho quando retornava ao quarto. Estava sobre a mesa de centro.

"14 chamadas perdidas? Puta que pariu..."

Gabriela entregou a garrafa d'água à Camila e sentou-se à beira da cama, com o celular na mão, mas permaneceu em silêncio.

— Vibrou na sala a noite inteira depois que você dormiu. – Camila apontou.

— Ah. Estranho...

— Isso não acontece com frequência? – Perguntou, entre goles.

— Não...

— Era sua chefe, não era?

— É... Devia estar precisando de mim pra alguma coisa.

— Com certeza... Mas você já estava fazendo essa coisa comigo. – Disse, em tom malicioso, dando mais um gole.

— Uau, o que foi isso? – Gabriela não pode conter o riso surpreso.

— Só uma constatação. Eu vi o jeito como ela te olha aquele dia no hospital. Só espera uma brecha.

— Você tá com ciúme?

— Ciúme de uma mulher linda, madura, rica, talentosa, que te admira e provavelmente tem milhares de coisas em comum com você e já teve um lance com você no passado? Que absurdo... – Ironizou.