CAPÍTULO 3. COMEÇANDO DO ZERO

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Júlia chegou mais cedo ao hospital no dia seguinte, queria estar preparada para contar toda a verdade à Camila, ou pelo menos boa parte da verdade. Encarou-se no espelho antes de respirar fundo pela última vez. Seguiu até seu quarto ensaiando frases e gesticulava sozinha pelos corredores. Parou em frente à porta por alguns segundos, antes de atravessá-la, abrindo um sorriso.

— Bom dia, princesa! Como voc... – A ausência de Camila interrompeu a frase. – Camila?

Júlia seguiu até o leito e procurou em volta. Andou mais alguns passos até ver a ponta dos seus pés no banheiro. Camila abraçava o vaso com o braço esquerdo, enquanto tentava manter o braço direito erguido, apoiando-se no pedestal com o medicamento que tomava na veia.

— O que aconteceu?

— Eu não sei, eu acordei bem e... senti um enjoo muito forte, acho que foi a medicação que me deram, eu fiquei fraca. – Respondia entre ânsias. Júlia respirou aliviada; sabia o motivo do enjoo. Ajudou Camila a erguer-se e a levou de volta até a cama.

— Como você está?

— Estou bem, pode guardar o estetoscópio. – Riu, limpando a boca.

— Você... Lembrou de mais alguma coisa?

— Não. Mas eu sonhei com um carro azul, eu tenho um carro azul?

— Não. – Respondeu lentamente, quase em tom de pergunta. – Olha, nós precisamos conversar.

— Esse é o tom que minha mãe quando eu faço alguma coisa errada.

— Não, não é nada disso. É que tem mais coisas que você precisa saber. Você ainda não lembra, mas tem pessoas na sua vida atual, tem seu trabalho, sua rotina e você precisa não só tomar conhecimento, como ser reinserida nessa rotina, pra te ajudar no trauma, ok?

— Eu sei, você... – Camila parou, de repente.

— O que foi? Por que essa cara?!

— Eu vou vomitar de novo!

— Calma, respira. Toma, pode vomitar aqui. Isso, tá tudo bem. – Júlia a tranquilizava enquanto segurava seus cabelos.

— O que tá acontecendo comigo? Isso é normal?

— Ah, é, por enquanto vai ser normal... – Sorriu enquanto levava o balde cirúrgico até o banheiro.

— Mas eu tô bem?

— Você tá ótima. – Respondeu alto, de longe.

— Por que você tá me olhando assim?

— Sabe o que é engraçado? – Júlia retornava com uma expressão de felicidade que Camila nunca havia presenciado. – A gente tinha um segredo que só nós duas sabíamos, e agora eu sei e você não sabe. – Riu, sentando de frente com Camila.

— É sério? O que é?

— Promete que não vai surtar?

— ...Acho que prometo.

— É sério que esse enjoo matinal não te denuncia?

— Do quê?

— Mulher!! – Júlia gargalhou, dando um tapa leve em sua perna.

— Me fala!

— Camila, você tá grávida!

— O quê??? – Franziu o cenho, totalmente descrente.

— É isso mesmo.

Camila olhava para os lados, sem entender.

— Não. Não, como assim? Não pode ser...

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora