CAPÍTULO 32. VISITA SURPRESA

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Gabriela dirigiu com raiva. Não costumava sentir aquilo, evitava qualquer sentimento negativo, mas naquele momento, se culpava e precisava esclarecer as dúvidas que tinha na cabeça. Sabia que toda aquela situação era estressante para Camila e para o bebê, que sequer tinha a mínima parcela de culpa dos problemas que tinham.

A estrada com várias árvores acalmava aos poucos, indicando que já estava chegando ao destino. Dirigiu até o prédio com fachada branca. Observou a janela do quarto que procurava e notou que estava aberta, com as cortinas balançando levemente. Estacionou o carro e subiu após se identificar na portaria.

Tocou à campainha e tinha os dedos inquietos enquanto aguardava a porta abrir.

— Bibi!?

— Oi, vô! – Gabriela avançou em um abraço apertado.

— O que houve? Isso não estava na minha agenda... – Brincou.

— Vim trazer mais um presente de Natal pro senhor.

— Mais um? Eu ainda nem tive tempo de estrear o que trouxe ontem!

— Esse o senhor não vai precisar aprender a usar, por enquanto ele é mais decorativo, e quando estiver pronto, já sabe muito bem como cuidar.

Gabriela retirou do bolso da camiseta, fazendo um certo mistério, a foto da ultrassom que carregava.

— É o que eu tô pensando?!

— É, acho que é. – Disse, entregando-lhe a imagem. – Essa é sua bisneta!

— É menina!? – Perguntou, de olhos arregalados.

— É uma menina!

— Ah, meu amor! Que maravilha! – Abraçou-a novamente, sem pressa. – Vem, senta. Vou precisar de um porta-retratos pra colocar essa foto onde eu veja sempre, até ter uma melhor.

O pequeno apartamento onde o avô de Gabriela morava era tipicamente de um idoso. Quase todos os móveis eram antigos; quando mudou-se, fez questão de levar todos os pertences antigos que tinha. O cheiro do lugar trazia lembranças da infância e da adolescência de Gabriela. Na sala, haviam duas poltronas, uma para cada um. Com exceção de Júlia, Gabriela nunca teve amigos, era tímida e quieta demais para iniciar uma conversa durante os anos na escola, então seu avô havia se tornado seu melhor amigo.

— Que houve, Bibi? Essa sua cara de fome não me engana...

— Ah, vô... – Gabriela suspirou.

— É a Camila, não é? – Arqueou a sobrancelha, esperando arrancar uma confissão.

— É.

— Ah, finalmente. Sempre me resumindo tudo a um "está tudo bem", acha que me engana? Me conta, o que aconteceu?

— Acho... Que ela terminou comigo.

— Ela disse isso?

— Disse. Já estamos mal há umas duas semanas.

— O que houve?

— Eu cancelei o casamento e ela descobriu. Ficou furiosa.

— Espera, vamos por partes. - Parou-a com as mãos - Você cancelou o casamento? Eu já tinha comprado um terno!

— Vô, como eu ia fazer ela casar comigo? Ela nem lembrava quem eu sou.

— Achei que estivesse resolvendo isso...

— Eu estava, mas... Ainda assim era pouco tempo pra fazer alguém casar comigo, já era o bastante ela carregar um bebê que nem sei se ela queria ter.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora