CAPÍTULO 39. 365/365 [PARTE 1]

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Os dias seguintes passaram voando. Entre Natal e ano novo, Camila e Gabriela estiveram a sós e pareciam estar em lua-de-mel. Sem redes sociais, sem trabalho, sem ligações. Apenas as duas, a sós e muito bem-acompanhadas. Pareciam nunca se cansar da companhia uma da outra.

Era dia 31, último dia do ano. Camila havia acordado bem cedo e muito animada. Haviam combinado de passar a virada de ano juntas, sozinhas, em casa. Camila tinha um plano, e queria cumprir à risca. Fez uma lista de compras logo cedo para Gabriela e tratou de tirá-la da cama.

— Já decidiu que roupa vai usar? – Gabriela estava grudada no pescoço de Camila, enrolando para largar o seu corpo.

— Já tenho tudo planejado, mas é segredo, você só precisa me obedecer e confiar em mim, hoje o almoço e a janta são por minha conta. Agora vai, os mercados devem estar lotados.

— São 9:30h, as pessoas nem devem estar acordadas ainda! 

— Sabe... Quanto mais cedo você for, mais cedo você volta. – Camila virou-se e caminhou com um rebolado que deixava o bumbum em evidência. Tinha um coque bagunçado e vestia uma roupa curta, que era extremamente sexy.

— Você sabe ser muito convincente.

Gabriela tomou as chaves do carro no mesmo instante. Camila jogou-lhe um beijo, de longe, provocando. 

— Volte logo.

As ruas estavam movimentadas. Gabriela não gostava daquilo, costumava fazer tudo com antecedência, mas decidiu obedecer, afinal, era um pedido de Camila. Custou a chegar no supermercado, a achar uma vaga no estacionamento, a achar um carrinho, a achar espaço para andar. Se não fosse uma pessoa paciente e não relevasse as coisas, teria perdido o controle, como a maioria das pessoas que cruzavam seu caminho. As compras de última hora pareciam despertar o lado selvagem das pessoas. Gabriela estava distraída, empurrando o carrinho de compras e lendo a lista de Camila, quando bateu atrás de um outro carrinho.

— Desculpa. – Gabriela terminou a palavra ficando pálida como uma alma penada.

— Oi. – A voz de Aline cumprimentou, também estática.

De todos os supermercados do mundo, do país, do estado e da cidade, e mesmo entre todas as pessoas que estavam lá dentro, Gabriela trombou com a ex, que também estava distraída, lendo um rótulo de cereal de aveia.

— Desculpa, eu... Tava distraída. – Gabriela manobrou o carrinho com pressa, desviando, e tentou seguir, ainda sem ação.

— Desde quando você faz compras de última hora?

A pergunta de Aline tinha um tom casual com uma pitada de sarcasmo, que praticamente a obrigou a virar-se novamente.

— Não faço, eu só... Vim buscar umas coisas que a Camila pediu.

— Sua noiva?

— É. – Encurtou.

— Então... Ainda estão juntas? – A ruiva torceu de leve o nariz com a pergunta.

— É claro que sim. – Respondeu em tom óbvio.

— Ah. É que... Ouvi alguns boatos.

— Imagino que sim. – Gabriela forçou um sorriso, ainda tentando escapar daquele corredor de qualquer forma. Virou-se, simplesmente, e seguiu.

— Gabi, espera. – A voz de Aline chamou quando Gabriela já estava longe. Olhou para trás e viu que ela havia abandonado o carrinho para alcançá-la. – Olha... Me desculpa.

— Não, tudo bem, a culpa foi minha.

— Não, não pelo carrinho... Por ter aparecido na sua casa daquela forma no outro dia, eu... Acho que recebi o castigo que merecia por aparecer sem avisar. – Revirou os olhos, um tanto tímida.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora