Capítulo 34 - Plano

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Fernanda pediu para que eu a deixasse sozinha, e eu o fiz. Ás vezes a gente só precisa de um tempo sozinho, para chorar em paz.

Então eu sigo para a tal pista de skate que o Rafa falou. Depois de andar um pouco pelo calçadão, avisto o tal lugar. Me aproximo, e vejo ele sentado no topo da pista, tocando violão. O skate pendia ao seu lado.

Eu permaneço atrás da pista, parada, ouvindo-o cantar a música Fluxo Perfeito, da banda Strike. Como ele canta bem...

Seu cabelo ao vento, sua voz... Acho que nunca vou cansar de apreciá-lo. 

Espero não estar babando nesse momento.

Ele para de cantar, mas continua imóvel.

– Vai ficar aí parada? – pergunta, sem virar para trás.

Eu ando até a frente da pista, e fico de pé lá em baixo enquanto ele me olha de cima.

– Como sabia que era eu?

– Pode parecer loucura, mas eu sinto seu cheiro de longe.

Sorrio.

Ele acena com a cabeça.

– O quê? Você quer eu suba aí? Não mesmo. – falo – É bem mais fácil você descer aqui.

Ele deita o violão ao lado do skate, então faz um impulso com os braços na borta da pista e desce escorregando.

– Adoro fazer isso. – sorri

Sento ao seu lado.

– Cara, eu te dei um presente super romântico! Você deveria estar nos meus braços, me apertando e dizendo como eu sou fofo.

Eu ainda estava meio dispersa, pensando na conversa que tive com a Fê.

– Ah... Ah, sim. O presente.

– Nossa. – ele coloca uma mão sob o peito – Essa doeu. Você tinha esquecido?

– Não, seu bobo. – dou um sorriso largo – É que estão acontecendo umas coisas.

– Que coisas?

– Com os meus amigos. O Gui e a Fê. Eles têm brigado muito.

– Tá. Agora me conte uma novidade.

– É sério! – o empurro com um braço – Dessa vez é. A situação não está nada boa. Eu estava na casa da Fê agora a pouco, e ela está muito mal... Odeio ver os meus amigos assim.

– Que tenso. E o que você vai fazer?

– Correção: O que nós vamos fazer.

– Nós?

– É. Nós.

– E como eu poderia ajudar nisso tudo?

– Ainda não sei direito. Precisamos de um plano pra que aqueles dois façam as pazes.

Ele permanece calado por um tempo, com a mão no queixo, maquinando algo na cabeça.

– Ei. – chamo

Ele olha para mim

– Adorei o presente. Sério. Foi a coisa mais linda que já me deram. Se bem que, hã, foi o primeiro presente que eu recebi. Quer dizer, presente de um... Ah, dane-se. Você entendeu.

Ele ri, depois passa o braço pelo meu ombro.

– Eu entendi. – beija a minha bochecha

Meu coração acelera, como sempre faz quando estou com o Rafa. Esses beijos na bochecha são bem cruéis, porque, confesso, eu queria um pouco mais. Porém, preciso me conter. Apenas amigos, certo?

– Acho que tive uma ideia. – ele quebra o silêncio – Só não sei se isso é muito infantil.

– Diz aí. Qualquer ideia é válida.

* * *

Não sei se a ideia do Rafael vai dar certo, mas nós precisamos tentar. Ele foi para a casa do Gui, e eu estou aqui na casa da Fê, tentando convencê-la a ir à casa do Rafa comigo.

– Mas que diabos eu vou fazer lá? Segurar vela pra vocês dois? Não, obrigada.

– Claro que não! Nós nem estamos juntos.

– Ah tá, e eu sou o Homem Aranha. – ela move os dedos, como se lançasse uma teia sobre mim

Reviro os olhos

– É sério, Crazy. Olha só pra você. Precisa sair um pouco, respirar ar puro. Nem pra escola você foi hoje.

– Aqui na minha casa tem ar puro de sobra. – ela inspira, como se quisesse provar que realmente há ar aqui

– É sério! – insisto

Meu celular apita. Mensagem do Rafa. Tiro-o do bolso.

Rafael: Consegui! Convidei ele para jogar vídeo game. Agora veeeem!

– Mensagem de quem? – ela pergunta

– A-ah... É o meu pai. Ele está no supermercado e perguntou se eu queria alguma coisa.

– Hm, pede pra ele comprar aquele biscoito lá... – ela estala os dedos – Como é o nome mesmo?

– Fê. Vamos. – digo

– Qual é, Ka? Por que tanta insistência?

– Por favor! Por mim. – faço biquinho

Agora é a vez dela de revirar os olhos

– Tudo bem, você venceu.

* * *

Eu praticamente arrastei Fernanda até aqui. Assim que chegamos na casa do Rafa, mando uma mensagem para ele.

Eu: Hey, chegamos!

– Você não pode simplesmente tocar a campainha? – ela pergunta, depois aperta o botão com uma força desnecessária, deixando claro que está ali contra a própria vontade. – Olha só, se for pra ficar segurando vela eu volto pra casa, heim?

Rafael abre a porta.

– Oi meninas! – sorri

Eu respondo com outro sorriso, mas Fernanda apenas acena com a cabeça.

– Venham, vamos para o meu quarto.

– Fazer o quê no seu quarto? – ela estranha

– Não se preocupe, eu sou da paz. – ele levanta os braços

Nós seguimos. Ele fez questão de deixa-la ir na frente, e vez ou outra nós trocamos alguns olhares.

– É esse aqui? – ela aponta para uma das portas do corredor, a que fica logo no começo.

Dentro do quarto dava pra ouvir o som do vídeo game ligado. Zumbis sendo mortos por tiros.

– É. Pode entrar.

Então ela entra. Assim que ela coloca os pés no quarto, Rafael puxa a porta e gira a chave rapidamente, trancando-a lá dentro.

Nós sentamos no corredor, encostados na parede, enquanto Fernanda bate na porta freneticamente, nos xingando de todos os nomes possíveis, e o Gui pede para ela se acalmar.

– Acha que vai dar certo? – pergunto

– Bom, nós trancamos os dois dentro de um quarto. É um tanto quanto infantil. Se vai dar certo ou não... – ele balança a cabeça – Temos que esperar para ver.

Fico apreensiva. Será que vai dar certo? A Fernanda pode querer me degolar quando sair daí.

– Vamos para a cozinha. – ele levanta – Comer alguma coisa. Eles precisam de um tempo.

– Não! – puxo ele pela calça, fazendo-o sentar de novo. – Eu quero estar aqui para evitar caso esses dois tentem se matar aí dentro.

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